Mariana Sgarioni

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Reportagem

Onde estão as mulheres CEOs nas maiores empresas do país?

Mais uma polêmica tomou conta das redes na semana passada. Desta vez, por conta de uma publicação infeliz (para dizer o mínimo) de um empresário do setor de educação. "Deus me livre de mulher CEO", declarou. A repercussão negativa foi tão forte que ele acabou renunciando ao próprio cargo dias depois.

Obviamente a postagem não tem nenhum cabimento, uma vez que a competência para um cargo de CEO nunca foi definida por gênero. Porém, uma pesquisa recente trouxe dados desanimadores: o perfil que ainda prevalece nas lideranças da maioria das grandes empresas do país é o homem branco, sem deficiência, 45 anos ou mais, provavelmente cis e heterossexual. É o que aponta a edição 2023-2024 do Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas, do Instituto Ethos, lançado neste mês.

Os números são esmagadores. Em conselhos de administração, setor responsável pelas principais deliberações e decisões estratégicas do negócio, 81,4% são homens e 18,6% mulheres. Se olharmos para o quadro executivo, que inclui diretorias e CEOs, 72,6% são homens e 27,4% mulheres. Estes ponteiros só se mexem quando nos voltamos para os cargos funcionais (58% homens e 42% mulheres) e trainees - neste caso, enfim, o jogo muda: são 72,5% de mulheres e 27,5% de homens.

A pesquisa abrangeu as 1.100 maiores empresas do país e traz indicadores ainda mais preocupantes quando falamos de mulheres negras, que representam hoje o maior segmento da população brasileira. No quadro executivo, por exemplo, enquanto as mulheres brancas respondem por 23,5% dos cargos, as mulheres negras são 3,4%. E tudo parece ser uma questão de estratégia mesmo: 51,6% das companhias afirmam que têm metas orientadas para mulheres - entretanto apenas 7,4% para mulheres negras.

Por outro lado, de novo, nos cargos de entrada, os números se movimentam: mulheres brancas são 28,3% dos estagiários, enquanto mulheres negras respondem por 26,5%.

"Priorizar mulheres não apenas brancas como negras entre trainees e estagiários pode significar que está sendo plantada uma semente de mudança no futuro. É uma indicação que as empresas estão olhando, sim, para a diversidade", observa Ana Lucia Melo, diretora-adjunta do Instituto Ethos.

O que se vê no momento, porém, é o fenômeno que especialistas chamam de "degrau quebrado", ou seja, um afunilamento hierárquico: um nível de diversidade muito maior nos cargos de entrada, enquanto em posições de liderança esse índice cai drasticamente.

De acordo com Ana Lucia, estes números relacionados à diversidade - um dos principais pilares ESG - estão muito abaixo do esperado. Segundo ela, as empresas alegam, em sua maioria, que não contam com programas ou políticas de diversidade que incluam a questão racial, de gênero, pessoas com deficiência, entre outros.

"A ideia de que o homem branco tem mais competência, capacidade e disponibilidade para liderar é um viés que existe na sociedade e que pode influenciar as oportunidades que são dadas a outros segmentos. Quando há mais homens em posições de liderança está claro quais os critérios, elementos e atributos que foram valorizados. É uma visão construída. As empresas precisam com urgência rever estes paradigmas", analisa.

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