Mariana Sgarioni

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Reportagem

L'Oréal vê oportunidade de mercado nos diversos tons de pele do Brasil

A gigante francesa L'Oréal decidiu não esconder mais seu amor pelas terras quentes e ensolaradas do Brasil - tanto que escolheu o Rio de Janeiro para sediar o maior centro de inovação e pesquisa do grupo na América Latina. A escolha não foi por acaso: depois de um mapeamento global, a empresa descobriu que, das 66 tonalidades de pele encontradas no mundo, 55 estão aqui, no Brasil.

"Isso sem contar os cabelos. Temos todas as 8 definições de fios, dos mais lisos aos mais crespos. O Brasil pode exportar tecnologia e tendência. Somos um laboratório vivo de oportunidades de mercado", comenta Helen Pedroso, diretora de responsabilidade corporativa e recursos humanos do Grupo L'Oréal no Brasil.

Segundo a executiva, a diversidade e a inclusão são prioridades estratégicas do grupo, um discurso que é reforçado em todas as oportunidades pelo próprio CEO da companhia, Marcelo Zimet. No Brasil, a L'Oréal conta com 53% de mulheres em cargos de liderança e cerca de 45% dos colaboradores se autodeclaram pretos ou pardos. Até a escolha da sede da empresa no Brasil foi minuciosa: a chamada "Pequena África", região central do Rio de Janeiro, próxima ao porto, conhecida por ser o local que mais recebeu pessoas escravizadas no mundo.

Helen Pedroso conta na entrevista a seguir como este olhar para a diversidade - dentro e fora - da empresa não reflete apenas o respeito pelo país, mas também uma possibilidade de ampliar a exploração dos mais variados mercados.

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Ecoa: O ponto de vista de pessoas diversas é capaz de mudar toda uma forma de fazer negócio?
Helen Pedroso:
Sem dúvida. A L'Oréal já sabe disso desde que nasceu - tanto que hoje ocupa um lugar dar o exemplo para outras empresas. Eu sou uma mulher parda e vim do Pacto Global da ONU. Quando cheguei aqui, ouvi o CEO da L'Oréal dizer que é preciso pensar a empresa como se fosse um país, que é habitado pelas mais diversas pessoas. A analogia faz sentido porque a L'Oréal tem um faturamento maior que o PIB de muitos países. Então, é preciso olhar para seus colaboradores como a população de uma nação e saber relacionar-se com todo o território em que está inserida.

Ecoa: Você citou o CEO da empresa. Qual a importância do engajamento da liderança nesta agenda?
Helen Pedroso:
No Pacto Global meu trabalho era voltado para o universo de CEOs e sempre discutimos como é fundamental o engajamento dos líderes nesta agenda extra-financeira. Mas isso sempre foi um desafio. O CEO da L'Oréal coloca a diversidade e a inclusão no centro das prioridades: quanto mais diversidade aqui, melhor. Segundo ele, se quisermos inovação de fato devemos ter dentro da empresa a mesma representatividade que existe fora dela. Hoje temos 62% de mulheres colaboradoras, sendo 53% em cargos de liderança. Este olhar 360 reflete diretamente na prática, nas nossas entregas.

Ecoa: A empresa parece dar uma atenção especial ao Brasil.
Helen Pedroso:
Nosso laboratório situado no Brasil é estratégico porque o país proporciona muitas oportunidades e podemos exportar inovações. Do ponto de vista dos produtos, nosso trabalho é traduzir esta diversidade em todas as categorias. Em cabelos, por exemplo, temos um para cada tipo, desde cachos longos, crespos e por aí vai. Toda a tecnologia Elseve foi desenvolvida aqui. Se temos 55 tons de pele somente no Brasil há muitas divisões fazendo produtos. Somos um laboratório vivo de oportunidades.

Ecoa: A sede do escritório da L'Oréal no Brasil também fica em um lugar emblemático da história do país. Como vocês trabalham nesta região?
Helen Pedroso:
Sim, estamos na chamada "Pequena África", centro do Rio de Janeiro, um lugar histórico que mais recebeu pessoas escravizadas no mundo. Temos diversas ações específicas de inclusão no nosso entorno, desde áreas como TI, programação, escola de beleza até auxiliares de cozinha. Queremos agir agora para mudar o futuro - porém respeitando a história destas pessoas. A principal ideia é promover o desenvolvimento econômico e social da região. Fizemos um mapeamento de afro empreendedores locais e vamos fazer um grande e-book de serviços para oferecer em todo o território. É uma forma simples de dar visibilidade a eles, propiciar oportunidades e resolver uma intermediação: muita gente quer contratar serviços, mas não tem indicação. Queremos promover o empreendedorismo com este recorte de raça.

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Ecoa: Qual o principal desafio da agenda ESG da L'Oréal hoje?
Helen Pedroso:
A descarbonização. Acabamos de renovar nossos acordos com a SBTi (sigla para Science Based Targets Initiative, iniciativa que mobiliza empresas para reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa) e atingimos o equilíbrio da matriz energética três anos antes das metas estabelecidas. Somos líderes e pioneiros em investimentos em biometano. O desafio vem mesmo quando pensamos na entrega, distribuição e uso do produto. Existe toda uma cadeia de implementação, uma jornada que exige mudanças que vão além da questão interna. Precisamos trabalhar junto com grandes players - e, se isso não acontecer, não conseguiremos avançar.

[Esta reportagem faz parte da newsletter "Negócios Sustentáveis". Inscreva-se para receber gratuitamente no seu email toda segunda-feira]

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