Não matarás: abelhas aumentam produtividade da soja, diz estudo
Parece que boa parte do agronegócio está descobrindo, enfim, que precisa sentar pacificamente na mesa de negociação com alguns insetos - e maneirar nas armas químicas. Até porque, se continuar matando as abelhas, por exemplo - aquelas funcionárias que trabalham de graça para eles -, sua produção diminuirá.
A produtividade nas lavouras de soja pode aumentar em cerca de 13% com a correta integração entre as abelhas e o cultivo da planta. Esta é uma das conclusões do estudo Boas Práticas Agrícolas, Apícolas e de Comunicação, desenvolvido pela Embrapa e pela Divisão de Soluções para Agricultura da BASF. Com dados coletados em lavouras dos municípios de São Gabriel (RS), Maringá (PR) e Dourados (MS), o material comprovou ser possível a convivência harmônica entre as duas atividades, e com benefícios mútuos.
"Para o agronegócio, as abelhas são mais interessantes vivas do que mortas, sobretudo em culturas de oleaginosas. São elas as principais polinizadoras de plantas com flores. Se houver um déficit de abelhas, o produtor terá que ir atrás de colmeias, caso contrário as próximas safras não virão", explica Rodrigo Barbosa Gonçalves, professor da Universidade Federal do Paraná, autor do livro "Desvendando as abelhas: o que são e por que conservá-las" (Editora UFPR).
A flor de soja contém néctar de qualidade, com substâncias que as abelhas precisam para o seu desenvolvimento. Quando as abelhas coletam o néctar, agem como polinizadoras, depositando grãos de pólen sobre as flores. Ao mesmo tempo, os apicultores também se beneficiam. O estudo mostrou apiários perto de lavouras de soja colhem até 50 kg de
mel por colmeia durante a florada, o que representa mais do que o dobro da média brasileira, que é de 19 kg de mel, por caixa, por ano.
Segundo Gonçalves, existem no Brasil cerca de 2000 espécies de abelhas e muitas destas polinizadoras fundamentais estão correndo risco de extinção. As causas estão ligadas ao aquecimento global, à urbanização e, no campo, ao uso indiscriminado de agrotóxicos. "Quando há a necessidade de controle de pragas, orientamos para o uso de produtos mais seletivos (que atacam apenas a praga e mantêm os outros insetos) ou mesmo bioinsumos, que são agentes de controle biológico", diz Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa
Soja (PR).
Obviamente não são somente os negócios que vêem seus lucros aumentarem ao preservarem as abelhas e o equilíbrio do meio ambiente. É todo um ecossistema que leva vantagem nisso e, desta forma, mantém a vida no planeta.
O papel das abelhas na fila do pão aqui vai muito além de produzir o mel que conhecemos. Elas simplesmente desenharam o planeta que conhecemos hoje. "Cerca de 90% das plantas terrestres são plantas com flores, que foram polinizadas pelas abelhas. O planeta é dominado por elas. Toda a evolução destas plantas só ocorreu com a origem das abelhas, quando elas fizeram essa parceria ancestral com essas plantas. Se o planeta tem esta configuração, devemos agradecer às abelhas".
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