Startup chilena fabrica bioplástico que se decompõe como frutas
Qual a diferença entre uma sacola plástica e uma maçã que estão no lixo? A resposta é o tempo de decomposição: uma sacola comum deve passar pelo menos 400 anos no mesmo lugar, contaminando o solo e a água, enquanto a fruta ficaria por ali cerca de um mês até ser reincorporada pela natureza.
A proposta da Biolements, startup de origem chilena, é produzir embalagens bioplásticas e biodegradáveis que, assim como uma maçã, se reintegram à natureza e servem de alimentos para fungos e microorganismos - sem deixar resíduos tóxicos ou fragmentar-se em microplásticos. Além disso, reduzem as emissões de CO2 do plástico convencional em diferentes fases do seu ciclo de vida.
"A fruta quando apodrece é consumida por microrganismos e é reincorporada ao ambiente. Da mesma forma, nossa sacolinha plástica vai perdendo a massa com o tempo e sendo consumida. Isto significa ser biodegradável: o produto precisa servir de fonte de energia de carbono para microrganismos", explica Adriana Giacomin, Country Manager Brasil da Bioelements.
São cerca de 27 formulações, elaboradas com diferentes composições, como resíduos de milho ou cana-de-açúcar, que são destinadas à produção de sacolas, papel filme, envelopes de e-commerce e outras embalagens de bioplástico. O tempo de decomposição do produto no ambiente varia de 3 a 20 meses.
O laboratório da empresa conta com uma área de 180 metros quadrados e uma equipe de cerca de dez cientistas, que trabalham com equipamentos de ponta. Ali também são desenvolvidos testes de biodegradação para comprovar a eficiência dos produtos em diversas condições ambientais - estes testes contam com a parceria da UFRJ para pesquisa científica, certificação e desenvolvimento. Segundo a Bioelements, suas embalagens reduzem em até 60% a pegada de carbono em comparação ao plástico convencional.
"Desenvolvemos os plásticos a partir de cruzamentos de resinas que são testadas até descobrirmos se a fusão vai funcionar. Depois é feito um um protótipo e vemos como ele se comporta no aterro sanitário, no mar, no ar, e quais os fungos que ele vai atrair. Se passar pela biodegradação em até 20 meses, vai para o teste de biotoxicidade - em que é colocado em terra fértil para sabermos se uma semente germina ao seu lado. Só a partir daí vai para testes de mecado", explica Adriana, que diz que a primeira embalagem de bioplástico a entrar em contato com alimentos humanos foram filmes para embalar salmão no Chile.
Apesar da inovação tão necessária ao ambiente - cerca de 8 milhões de toneladas de plástico vão parar nos oceanos todos os anos - os bioplásticos ainda não ganharam escala. Segundo a European Bioplastics (EUBP), o material representou menos de 1% das embalagens plásticas produzidas em 2022. Uma das dificuldades pode ser o custo do produto - no caso da Bioelements pode ser até 30% mais alto se comparado ao convencional.
Porém, a empresa realizou uma pesquisa recente com consumidores finais e os resultados acenam que este mercado está aquecido: 94% respondeu que estaria interessado em comprar produtos que usam uma embalagem que se biodegrada em até 20 meses; 42% compraria mesmo que o produto custasse mais; 70% sente que, nos últimos anos, se tornou mais consciente das embalagens dos produtos que consome e 68% sente culpa pela quantidade de plástico que há nas embalagens que compra.
"Estes números nos deram um propósito. Quase 100% têm interesse em conhecer o biodegradável. Isso é significativo como um todo, pois a embalagem mede como a pessoa vai se comportar no mercado", finaliza.
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