Mariana Sgarioni

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Semana de 4 dias: empresas brasileiras topam trabalhar menos?

O sonho de princesa de qualquer adulto razoável nos dias de hoje - além de ganhar na loteria - é trabalhar menos ganhando o mesmo salário. O que antes poderia parecer devaneio tomou forma por meio do movimento global conhecido como 4 Day Week - a jornada de trabalho de 4 dias semanais, testada em diversos países, inclusive no Brasil, por algumas empresas, entre maio de 2023 até o primeiro semestre de 2024.

Passado o período de teste, ficou a dúvida se o esquema realmente funciona e traz mais bem-estar aos colaboradores, ou apenas sobrecarrega os outros dias de trabalho? "Existe um risco de as empresas seguirem com metas de trabalho iguais e simplesmente tirarem 20% do tempo para a entrega dos mesmos resultados. A conta não fecha desta forma", analisa Pedro Signorelli, especialista em gestão, com ênfase em OKRs, e fundador da Pragmática.

De acordo com o relatório sobre os resultados do primeiro programa piloto no país divulgado pela 4 Day Week Brazil (4DWB) e pela Reconnect Happiness at Work & Human Sustainability, a semana de 4 dias vai além da redução de horas trabalhadas: trata-se de um redesenho estrutural dentro das empresas revendo processos, utilização de tempo, como o trabalho é realizado, a cultura vigente e como as relações são vividas. Ou seja: as entidades defendem que não se trata apenas de diminuir a carga horária, mas sim de uma transformação no uso do tempo, um redesenho das atividades de trabalho e uma reorganização da rotina laboral.

No Brasil, 21 empresas toparam o piloto da semana de 4 dias com cerca de 280 colaboradores - que, pelos resultados preliminares, parecem ter adorado a experiência. A análise dos dados revelou que 72,8% relataram uma redução na exaustão frequente e 49,6% observaram uma diminuição significativa na insônia ou em outros problemas de sono. Além disso, 43,6% passaram a praticar exercícios físicos mais de três vezes por semana.

O relatório aponta ainda que o bem-estar pode aumentar a produtividade. Os colaboradores avaliaram seu nível de produtividade em 8,4 e seu engajamento em 8,5 em uma escala de 1 a 10. O comprometimento com a empresa foi avaliado em 9,2. O bem-estar foi classificado em 8,4 e a satisfação em 8,5, indicando uma melhora significativa no ambiente de trabalho.

Porém, nem tudo são flores. O documento final mostra que a experiência no Brasil apresentou desafios importantes, incluindo a necessidade de ajustes no planejamento de tarefas, resistência inicial à mudança, e a manutenção da cobertura contínua em setores críticos. "O esquema pode funcionar bem em algumas áreas, mas em outras será necessário contratar mais gente, pois não há como parar. E isso vai custar mais caro. Então é preciso ver como endereçar via processos e tecnologias, por exemplo", diz Signorelli.

Um outro ponto de dificuldade tipicamente brasileiro citado pelas lideranças no relatório é a manutenção da produtividade na quinta-feira para o caso das empresas que adotaram a sexta sendo o dia de folga. O que pode acontecer é que o famoso "sextou", quando a produtividade da sexta cai, acaba sendo transportado para a quinta. "Ao contratar alguém, a empresa está comprando a disponibilidade do funcionário e não a produtividade. Acredito que o ideal seja o contrário: contratar para um escopo. Desta forma o compromisso passa a ser o resultado", propõe Signorelli.

Uma nova rodada de testes da 4 Day Week no Brasil está prevista para o final do segundo semestre deste ano, com o início de um novo piloto de seis meses em 2025.

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