COP 16: Por que seu negócio deve se importar com a biodiversidade?
Começa hoje, em Cali, na Colômbia, a 16ª COP de Biodiversidade, a prima mais recatada da COP do Clima - esta, sim, a aparecida da família e que terá o Brasil como sede no ano que vem. Porém, a importância das duas é a mesma: afinal, o clima depende diretamente da conservação da biodiversidade. E o que estará na mesa na Colômbia a partir de hoje pode mudar muita coisa do jogo que conhecemos.
"As COPs são os fins e não os começos. As mais importantes negociações serão fechadas lá. O Brasil detém 15% do potencial global de captura de carbono e pode liderar os esforços mundiais para estabilizar o clima por meio de soluções baseadas na natureza. É a nossa chance. As empresas precisam entender e dialogar com isso para saber como vão seguir com seus negócios", observa Denise Hills, consultora, especialista em sustentabilidade estratégica e inovação e UN SDG Pioneer, reconhecimento do Pacto Global da ONU a dez profissionais no mundo que atuam de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A missão desta COP da Biodiversidade é a de avaliar em que pé estão as metas estabelecidas na COP anterior, de Montreal, quando, pela primeira vez na história, os países assinaram o Marco Global de Biodiversidade que traz 23 metas a serem alcançadas até 2030. Agora também será a primeira vez que os países vão se reunir para falar de ação: como está sendo a implementação do que ficou escrito no papel.
Entre as metas, a número 15 é uma novidade porque é especificamente direcionada aos negócios. Ela refere-se ao reporte de riscos, impactos e dependências das empresas em relação à biodiversidade. "Diria que este documento foi tão importante quanto o Acordo de Paris, de 2015, que estabeleceu o limite do aumento de temperatura do planeta em até 1,5ºC", compara Denise.
A dependência que as empresas têm dos recursos naturais é evidente - portanto, nesta COP serão discutidas as métricas de impacto nas corporações e também riscos relacionados a eventos extremos. Sem isso, garantem especialistas, vai ser bem difícil fechar qualquer negócio daqui por diante.
"Nenhuma companhia opera sem água ou sem energia, por exemplo. A dependência dos recursos é óbvia. Mas os riscos e oportunidades hoje ainda estão ocultos. São eles que precisam basear ou orientar a tomada de decisão", diz Juliana Lopes, diretora de natureza e sociedade do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). O CEBDS deverá lançar durante o evento, em parceria com a ERM, um e-book sobre a mensuração de impacto líquido positivo sobre a biodiversidade - e esta coluna teve acesso ao documento em primeira mão.
O material fala sobre o conceito de natureza positiva (que ressalta não apenas o compromisso de reduzir os impactos negativos sobre a biodiversidade, mas também o comprometimento em deter e reverter as perdas), o conceito de impacto líquido positivo (que identifica quais são os impactos das atividades empresariais e propõe práticas por meio de casos para mitigá-los ou restaurá-los), além de diversas sistematizações.
"Natureza positiva é equivalente ao Net Zero. Ou seja: compreender e buscar um balanço positivo da atividade empresarial. Mitigar e gerar impacto positivo por meio da promoção de atividades de uso sustentável, conservação e regeneração da natureza", explica Juliana. Segundo ela, o material será uma importante contribuição para todos que quiserem fazer negócios durante a COP da Biodiversidade.
Outra agenda de destaque para esta COP 16 é o financiamento. Na COP de Montreal ficou decidido mobilizar pelo menos US$ 200 bilhões anuais para o financiamento da biodiversidade, além de aumentar os aportes de países desenvolvidos para os países em desenvolvimento para pelo menos US$ 30 bilhões por ano até 2030. "Os países assinaram a criação de um fundo para a biodiversidade, mas que ainda não foi operacionalizado. A expectativa é de avanço nesta agenda", completa Juliana.Na COP de Montreal ficou decidido mobilizar pelo menos US$ 200 bilhões anuais para o financiamento da biodiversidade, além de aumentar os aportes de países desenvolvidos para os países em desenvolvimento para pelo menos US$ 30 bilhões por ano até 2030. "Os países assinaram a criação de um fundo para a biodiversidade, mas que ainda não foi operacionalizado. A expectativa é de avanço nesta agenda", completa Juliana.
Também será discutido na Colômbia o papel das Soluções Baseadas na Natureza (SbN). Segundo Carlos Eduardo Benfica, biólogo, mestre em ecologia de ecossistemas e consultor de sustentabilidade da WayCarbon, as SbN são alternativas eficazes e sustentáveis para enfrentar desafios ambientais, sociais e econômicos: "Estudos da International Union for Conservation of Nature (IUCN) indicam, por exemplo, que manguezais evitam cerca de US$ 57 bilhões em danos por inundações em países como China, Índia, México, EUA e Vietnã a cada ano", afirma.
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