Indígenas do Xingu lançam chocolates produzidos com técnicas ancestrais
O sudoeste paraense, região do Xingu, concentra a segunda maior produção de cacau do país. É dali que saem cinco tipos de chocolates produzidos artesanalmente pelas mãos dos povos indígenas que receberam apoio da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte.
Trata-se de um empreendimento que nasceu em 2022 quando lideranças locais levaram sua ideia de negócio para uma das ações da hidrelétrica que visam promover a atividade produtiva e geração de renda de comunidades indígenas das proximidades. "Sempre pensamos em expandir nossa produção de cacau e também de frutas desidratadas. Enquanto meu avô era vivo, plantávamos apenas para nossa subsistência. Entretanto, eu sempre me preocupei em gerar renda para a comunidade e mostrar que os indígenas também têm o potencial de produzir e empreender", conta Katyana Xipaya, fundadora da marca.
A Cacauway, primeira fábrica de chocolate da região, topou a parceria e ali dentro são manufaturados os chocolates a partir dos ingredientes preparados pelos indígenas, como as amêndoas e frutas. Segundo Katyana, a desidratação das frutas que compõem os doces é feita de forma ancestral, com secagem no sol e nas pedras.
São cinco sabores de chocolates - cada um produzido por uma etnia e que carrega uma história diferente. O Sídja Wahiü, feito por Katyana, significa "Mulher Forte", e tem como ingredientes amêndoas e pedaços finos de abacaxi, banana e pitaia. O Iawá leva o mesmo nome da comunidade da Volta Grande do Xingu, que cultiva o cacau, uma homenagem à matriarca: Dona Odete Iawá Kuruaya, que
representa a resistência de sua cultura. O Karaum Paru é produzido por quatro etnias da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu e contém cupuaçu desidratado. O Yudjá também tem cupuaçu, além de mangarataia, um gengibre cultivado na Amazônia. O Ita'Aka Akauwa, que significa "Pedra Rachada", leva pedaços crocantes de banana
desidratada.
De acordo com Thomás Sottili, gerente de Projetos de Sustentabilidade da Norte Energia, responsável pelo programa, o objetivo da indústria é contribuir para o desenvolvimento socioeconômico dos territórios onde está inserida. "Temos como premissas incentivar o empreendedorismo sustentável e trazer o desenvolvimento socioeconômico com foco na qualidade de vida da população e na proteção ambiental da bacia do rio Xingu. Queremos criar uma experiência sensorial capaz de honrar, pelo menos, parte da biodiversidade amazônica", diz.
Por enquanto, os chocolates são vendidos apenas em lojas em Belém, Altamira e São Paulo. Já existem propostas para exportação, com participação em rodadas de investimentos. No momento, segundo Katyana, a renda está sendo revertida para melhorias na comunidade, como a educação de crianças, e para uma futura biofábrica de chocolate. "Precisamos ampliar a produção, pois não estamos mais dando conta de tanta demanda. Com a fábrica, poderemos trabalhar de forma industrial", completa.
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