Mariana Sgarioni

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Reportagem

Empresa da Votorantim quer mostrar que floresta em pé pode dar lucro

Não são só os pulmões que agradecem quando uma floresta é mantida em pé. Os bolsos também. Uma estimativa publicada pelo Banco Mundial no ano passado mostra que a preservação da floresta amazônica vale, ao menos, US$ 317 bilhões por ano - isso quer dizer um lucro sete vezes superior ao que poderia ser obtido por meio de diferentes atividades de exploração econômica da região. Porém, o lado B é que manter esta floresta em pé também custa caro. A solução encontrada pela Reservas Votorantim é simples: fazer com que ela gere recursos para sua própria manutenção. Em outras palavras: a floresta deve trabalhar não só para pagar seu sustento, mas também para dar lucro.

Lançada no mercado em 2021 pela Votorantim S.A, a Reservas quer provar que é possível combinar conservação e geração de receita com impacto ESG. A empresa atualmente faz a gestão de duas áreas privadas: O Legado das Águas, em São Paulo, maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, e o Legado Verdes do Cerrado, em Goiás. São mais de 130 mil hectares de territórios sob sua gestão, onde cria estratégias de negócios que incluem os três principais mercados da economia verde: carbono, reserva legal e biodiversidade.

Pioneira no mercado de carbono, a empresa também lançou uma metodologia inédita de crédito na Mata Atlântica: a PSA-Carbonflor, que propõe uma nova forma de geração de créditos a partir da manutenção do carbono existente.

"Precisamos de uma economia que absorva carbono. E o Brasil tem a melhor tecnologia do mundo para isso. Chama-se árvore. A solução está na natureza", diz David Canassa, CEO da Reservas Votorantim. Na entrevista a seguir, ele explica de que forma funciona esta nova geração de negócios e como o país não pode mais fechar os olhos para estas oportunidades.

***

Ecoa: Por que custa tão caro manter uma floresta em pé?
David Canassa:
Os cuidados são caros. É preciso, por exemplo, evitar incêndios. Um pedacinho de vidro caído no chão pode gerar fogo. Então precisa fazer prevenção, cuidar, ter uma brigada, comprar equipamentos. Além disso, há impostos territoriais, custos com pessoal treinado, estradas de acesso. Quem tem uma propriedade tem responsabilidade legal pelo zelo com o território. Isso tem custos. Então, se você tem uma terra e paga caro para que ela siga em pé, que tal gerar receita? Trata-se de um negócio que precisa virar realidade.

Ecoa: E este é o negócio da Reservas Votorantim.
David Canassa:
Sim. A Reservas é uma das empresas da Votorantim, um investimento. Que nasceu para dar lucro. Somos uma empresa de economia verde, uma gestora de territórios e soluções baseadas na natureza. A ideia surgiu em 2011 quando estudávamos as áreas conservadas dentro do portfólio da Votorantim. Havia áreas excedentes de floresta nativa em grande quantidade. Então tivemos a ideia: a floresta poderia gerar recursos para sua própria manutenção. Hoje fazemos a gestão de 3 biomas diferentes: Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal. Nossas atividades consistem na geração de créditos de carbono, uso da biodiversidade e atividades inclusivas na florestas, que incluem desde a produção de agroflorestas até o ecoturismo. Criamos, por exemplo, os Centros de Biodiversidade que, juntos, têm capacidade para produzir 450 mil mudas nativas por ano.

Ecoa: A floresta em pé dá lucro?
David Canassa:
Os negócios gerados por ela podem dar lucro sim. Nós falamos em conservação. Conservamos a floresta em pé. E queremos usar o que está ali. Prospectamos e geramos negócios a partir destes ativos. Quando começamos as atividades estruturamos três cadeias: a primeira foi a das compensações florestais. A segunda foi o múltiplo uso da terra, que identifica o uso inclusivo, ou seja, um tipo de cadeia que gere negócios que incluam a comunidade para que ela veja valor na floresta em pé. A terceira cadeia é a restauração. Começamos atendendo empresas que tinham que fazer plantios obrigatórios e assim descobrimos o paisagismo ecológico com plantas nativas. Hoje, vendemos plantas e projetos paisagísticos. Com o tempo passamos também a alugar os locais para filmagens e empresas interessadas na beleza cênica da região.

Ecoa: A geração de créditos de carbono está neste portfólio?
David Canassa:
Nos últimos anos trabalhamos para desenvolver geração de créditos de carbono na Mata Atlântica. Fomos pioneiros. Partimos para o desenvolvimento de uma metodologia nova, que pensa na degradação devido às mudanças climáticas. Por exemplo: se o desmatamento acabasse totalmente, mesmo assim a floresta seguiria perdendo biomassa porque ela perde a capacidade de renovação. Isso precisa ser levado em conta. Então desenvolvemos uma nova metodologia em parceria com a Eccon Soluções Ambientais, o PSA Carbonflor, que será a primeira metodologia aplicada na plataforma de registros primários que está em desenvolvimento pela B3.

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Ecoa: A floresta em pé pode dialogar com o agronegócio?
David Canassa:
Sim. Toda propriedade no Brasil precisa ter floresta nativa, isso é lei. O agricultor quer ver o modelo funcionando e nós temos uma empresa que funciona: é um negócio que gera receita, dá frutos. Inclusive provemos serviços. Então existem proprietários rurais que já entenderam que a manutenção da floresta diminui, por exemplo, riscos de pragas, garante água. A floresta presta serviços ecossistêmicos. Já outros proprietários viabilizam a conservação a partir do mercado de carbono. Ele precisa de investimento para fazer o controle do território contra incêndios. Quem ajuda no custeio? O carbono, a geração de créditos.

Ecoa: Estamos no meio de uma COP da Biodiversidade e nos preparando para a COP do Clima. Quais expectativas do Brasil a partir destes encontros?
David Canassa:
Esperamos que os acordos mundiais avancem e gerem oportunidades de negócios. A COP da Biodiversidade ainda está engatinhando do ponto de vista de prospecção do potencial existente na floresta. Já na COP do Clima vamos mostrar nossas cartas. Precisamos de todas as soluções possíveis não só para mitigar a emissão de carbono: a ideia é zerar e, se possível, absorver carbono. Precisamos de uma economia que absorva carbono. Temos a melhor tecnologia aqui no Brasil para isso: chama-se árvore. Se conseguirmos endereçar agora nesta COP podemos trazer muitas oportunidades de conservação e, quem sabe, acoplar biotecnologia nas florestas, gerando novos produtos daí. Temos que unir as forças do país para trazer estes interesses de negócios para cá.

[Esta reportagem faz parte da newsletter "Negócios Sustentáveis". Inscreva-se para receber gratuitamente no seu email toda segunda-feira]

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