Sustentabilidade não é sinônimo de meio ambiente
Apesar do crescimento do ESG, ainda há desafios na inclusão de pessoas negras, especialmente mulheres, em cargos de liderança. A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial vem criando ferramentas para mensurar e impulsionar essa mudança, trazendo um novo padrão de compromisso social para o setor corporativo. Nosso entrevistado é Raphael Vicente, diretor geral da organização e professor convidado da Fundação Dom Cabral.
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Outro destaque é a inovadora Wash Me, uma startup que redefine o conceito de lavagem de carros. Utilizando apenas um copo d'água, a empresa mostra que é possível oferecer serviços de qualidade sem comprometer recursos naturais. Com atendimento personalizado e técnicas eficientes, a Wash Me responde ao dilema de manter a paixão nacional pelos carros sem desperdício de água - essencial em tempos de crise hídrica.
Por fim, uma pesquisa recente do Mercado Livre revela que consumidores estão cada vez mais atentos ao impacto positivo de suas escolhas. Produtos sustentáveis, como moda eco-friendly e eletrodomésticos de eficiência energética, ganham popularidade, refletindo a busca por um consumo mais consciente.
Boa leitura!
Bolha das empresas não vê sustentabilidade da vida real, diz executivo
As métricas de combate ao racismo e todas as formas de discriminação dentro do ambiente corporativo nem sempre são claras. Apesar de serem ações que vão além do ESG - tratam-se de um compromisso global - os números ainda apontam baixa representatividade de pessoas negras, sobretudo mulheres, em posições de liderança nas grandes corporações brasileiras.
A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial é o maior movimento para a promoção da equidade da América Latina e conta com o mais preciso indicador de mercado para avaliar de maneira objetiva a ação das companhias com relação à temática racial. No Brasil, já são mais de 60 grandes empresas signatárias e que utilizam este índice para suas tomadas de decisão.
"Há um movimento de mudança em andamento e empresas engajadas em realizar sua transformação. Entretanto, o tema é complexo e somente boa vontade não basta. É importante apontar que ESG não é apenas meio ambiente. E sustentabilidade não é só carbono. Temos pessoas que estão diretamente envolvidas", diz Raphael Vicente, diretor geral da organização e professor convidado da Fundação Dom Cabral.
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Ecoa: Você acha que existem distorções no conceito de sustentabilidade no Brasil?
Raphael Vicente: Sim. Tratamos temas como direitos humanos, justiça social, justiça climática, racismo ambiental e sustentabilidade como se fossem realidades paralelas. A sustentabilidade não é só o C do carbono. Estamos falando de uma conta que sempre termina nas pessoas.
Ecoa: E como as empresas tratam disso?
Raphael Vicente: Fizemos um estudo com todas as nossas empresas associadas e todas listadas na B3. Eram aproximadamente 500 das maiores empresas do Brasil. Descobrimos que nenhuma delas leva em consideração o tempo de deslocamento do colaborador de casa ao trabalho e vice-versa. Estamos falando de pessoas que moram em regiões afetadas pelos eventos climáticos extremos, de periferias. Se a empresa não sabe nem onde o colaborador mora, como ela vai cruzar o risco da área e se preparar para eventualidades? Que sustentabilidade é essa?
Ecoa: Seria uma interdisciplinaridade entre as três letras do ESG.
Raphael Vicente: Sim. Precisamos preparar as empresas brasileiras para esta discussão. Vou te dar um exemplo: 70% das moradias irregulares que estão nas regiões de mananciais de São Paulo são ocupadas por pessoas negras. É disso que trata o racismo ambiental, mas o Brasil pouco sabe.
Ecoa: Vocês mostram este caminho das pedras para as corporações?
Raphael Vicente: Não somos prestadores de serviço. Estamos nas empresas para construir junto algo disruptivo, criar algo novo. Criamos o Índice de Equidade Racial que foi construído em 2019 e hoje é uma referência nacional. A gestão dos programas de diversidade e inclusão racial nas empresas passaram a ter uma ferramenta que lhes confere não só objetividade como a possibilidade de mensuração e gerenciamento, tornando possível observar a conjuntura da empresa, por meio, inclusive, do histórico e da referência do mercado. Acreditamos em pedra, cimento e areia. Demora pra construir, mas chegamos lá.
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Conheça a startup que lava carros usando apenas um copo d'água
Em tempos de escassez hídrica, aquele velho hábito de lavar o carro - ou a calçada - aos sábados à tarde, gastando litros e litros de água, deveria encabeçar a lista dos sete pecados capitais. O crime fica pior se a gente lembrar que hoje existem cerca de 33 milhões de brasileiros sem acesso à água potável - o que daria quase toda população do Canadá.
Por outro lado, os carros são uma paixão nacional indiscutível. Como manter o xodó limpinho sem desperdiçar água, seja em casa, seja nos tradicionais lava-rápidos? O empresário João Salvatori, CEO da Wash Me, tem a resposta: lavagem ecológica de carros, que utiliza apenas um copo d'água por veículo.
A proposta da empresa é simples: o agendamento da lavagem é feito pelo site, com atendimento personalizado (é uma pessoa que atende, não um robô). No dia e hora marcados, um profissional é enviado ao local indicado para fazer o serviço. Não é preciso de torneira nem espaço - a área só deve ser coberta.
O funcionário leva um kit de lavagem: 4 borrifadores, flanelas, uma escova, um aspirador, um pincel para detalhes e 20 ml do produto ecológico biodegradável que será diluído em um copo d'água e borrifado em toda a lataria do carro. Este produto tem a capacidade de fazer com que a sujeira se desprenda do veículo, que depois é limpo com uma flanela. Para finalizar, outra flanela seca faz o polimento com a cera protetora do produto, capaz de manter o brilho por 15 dias.
Em 2021 a empresa recebeu um aporte de R$ 1 milhão. Entre 2022 e 2023, o faturamento ficou na casa dos R$ 11 milhões e a expectativa é de crescimento para 2024, com a ampliação do modelo para o sistema de franquias.
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Aumenta busca por produtos sustentáveis, diz pesquisa do Mercado Livre
Os consumidores de e-commerce estão de olho nas empresas e procuram, cada vez mais, produtos responsáveis, com impactos positivos na sociedade e no ambiente. É o que revela um estudo inédito elaborado pelo Mercado Livre sobre o comportamento do consumidor de produtos sustentáveis na América Latina no primeiro semestre de 2024.
A pesquisa "Tendências de Consumo Online com Impacto Positivo - 2024", à qual a coluna teve acesso com exclusividade, aponta que mais de 2,7 milhões de usuários da plataforma escolheram produtos sustentáveis neste último ano, um crescimento de 27% em comparação com o ano anterior, e 68% nos últimos dois anos.
O estudo teve duas etapas: a primeira analisou o comportamento do consumidor dentro da aba "Produtos Sustentáveis", ou seja, verificou quais os itens mais buscados, os mais vendidos, as categorias que cresceram. A segunda parte escutou 1.500 usuários em 6 países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Uruguai).
"Sete em cada dez usuários entrevistados afirmaram que suas decisões de compra passam pelo impacto positivo no ambiente. No Brasil, 1,3 milhão de pessoas compraram produtos sustentáveis, o que mostra que estas escolhas estão crescendo, reforçando esta preferência do consumidor", analisa Laura Motta, gerente sênior de sustentabilidade do Mercado Livre no Brasil.
A moda sustentável foi a categoria que mais cresceu na América Latina em comparação com o ano anterior em unidades vendidas (92%) e compradores (91%). Calças, meias, camisetas e pijamas (fabricados com materiais reciclados, fibra de bambu ou certificados) foram os produtos mais escolhidos. No Brasil, os eletrodomésticos com eficiência energética aumentaram em 124%, e os jogos e brinquedos, 94%.
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Dica de leitura
O Banqueiro dos Pobres. A Evolução do Microcrédito que Ajudou os Pobres
Autor: Muhammad Yunus
Editora: Ática
O autor é empreendedor social e banqueiro que ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2006 por seu trabalho pioneiro em microfinanças que ajudou a aliviar a pobreza em Bangladesh e foi amplamente adotado em todo o mundo. O livro conta a história do projeto de Yunnus que não só uma operação viável do ponto de vista financeiro como um forte aliado no combate à pobreza.
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