Mariana Sgarioni

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Reportagem

Voo sustentável: Airbus propõe mix de tecnologias para reduzir emissões

A corrida pela descarbonização no setor aéreo está cada vez mais acirrada. Até porque não dá para continuar como está: cerca de 2,5% das emissões de carbono globais vêm da aviação e este número não para de crescer.

Pressionadas, as companhias aéreas se comprometeram publicamente a investir pesado na redução de emissões - o que não é tarefa simples, pois por enquanto o setor depende diretamente de combustíveis fósseis. "Não existe uma única tecnologia simples e isolada capaz de descarbonizar o setor de um dia para o outro. As soluções, como combustíveis sustentáveis, eletrificação, hidrogênio verde, são complementares e vão trabalhar juntas. Nenhuma delas vai operar sozinha, pois a demanda de viagens é muito grande", diz Guillaume Gressin, vice-presidente de Operações Internacionais, Estratégicas e Comerciais da Airbus América Latina e Caribe, em entrevista exclusiva a esta coluna.

A Airbus - responsável pela fabricação do avião presidencial brasileiro - anunciou que investe cerca de 3 bilhões de euros por ano em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias que possam trazer mais sustentabilidade aos seus aviões. E promete que, em 2035, terá a primeira aeronave do mundo movida a hidrogênio verde.

A empresa acaba de entregar a aeronave A321XLR para a Iberia, que tem um consumo 30% mais baixo de combustível por assento em comparação com a geração anterior de aeronaves, além de ser capaz de operar com até 50% de combustível sustentável (SAF). O objetivo da Airbus é que as suas aeronaves alcancem 100% de capacidade SAF até 2030.

Do escritório da Airbus para a América Latina, em Miami, Gressin falou sobre as alternativas possíveis para tornar a aviação mais sustentável, as dificuldades de redução de emissões do setor, e por que acredita que o Brasil pode liderar a produção de biocombustíveis a curto prazo.

***

Ecoa: O mundo verá em breve uma aeronave movida a hidrogênio verde?
Guillaume Gressin:
Definimos uma meta para termos este primeiro avião movido a hidrogênio verde até 2035 - seja por combustão ou por transformação do hidrogênio em eletricidade. Mas é importante lembrar que não estamos trabalhando apenas nisso. O setor aéreo é difícil de reduzir as emissões porque ainda depende de combustíveis fósseis e isso significa que não temos uma solução simples. A única maneira de realmente atingir nosso objetivo de net zero até 2050 é trabalhar com todas as alternativas possíveis e elas são complementares entre si. Por exemplo: para produzir combustível de hidrogênio sustentável, você precisa de hidrogênio. E, hoje, mais de 90% do hidrogênio produzido não é verde, é baseado em combustível fóssil. Não dá. Então, se você quer ter uma produção mais sustentável, é preciso desenvolver o hidrogênio verde. Por isso não teremos somente esta tecnologia. Esperamos, sim, ter aeronaves voando com hidrogênio, mas também com combustível sustentável e elétrico.

Ecoa: O que já temos hoje?
Guillaume Gressin:
Acabamos de entregar para a Iberia o A321XLR, uma aeronave que pode levar até 244 passageiros, de corredor único. Ela não é do modelo grande, transatlântico, de dois corredores. Porém, ela vai mais longe do que os modelos antigos do mesmo tamanho porque tem eficiência de combustível, permite abrir rotas de longo curso com uma eficiência muito melhor, em um produto que é muito mais versátil e econômico.

Ecoa: Estes aviões já utilizam SAF (Combustível Sustentável de Aviação)?
Guillaume Gressin:
Elas têm a capacidade de usar 50% de SAF. Até 2030, pretendemos certificar que todas as aeronaves da empresa usem 100% de SAF. Mas por que isso já não acontece nos dias de hoje? Há um limite imposto pelas autoridades porque estamos todos na fase de testes - precisamos saber se esses combustíveis terão as mesmas propriedades dos fósseis. Quando você voa a uma certa altura, por exemplo, há propriedades diferentes. É preciso ter certeza de que o combustível não congelará, de que o selante está perfeito. Há muitas variáveis. E estamos trabalhando nisso. Porque, obviamente, a prioridade é desenvolver aeronaves seguras. Então 2030 é um prazo factível para o SAF em todo o nosso portfólio de produtos, inclusive helicópteros, que produzimos para o Brasil.

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Ecoa: Por falar no Brasil: como você vê a produção brasileira de SAF? Existe uma chance de liderarmos este mercado?
Guillaume Gressin:
Em vez de falarmos de potencial, prefiro falar de realidade. Acho que o Brasil é um exemplo de potencial que está se transformando em realidade. E isso está ligado a vários fatores. Primeiro, o Brasil tem sido muito precoce no desenvolvimento de biocombustível, foi um dos primeiros a adotar o etanol, e hoje é um dos maiores produtores do mundo. Há políticas em vigor no país e isso é essencial porque sem elas você não atrai investimento. Estamos muito satisfeitos com estas políticas do governo brasileiro e temos colaborado com elas. Temos visto os projetos de desenvolvimento de SAF sendo multiplicados no Brasil. Então, é o que eu disse: não vejo apenas potencial, vejo um real desenvolvimento do combustível brasileiro sustentável e eficiente.

Ecoa: Como você vê o futuro da sustentabilidade na aviação?
Guillaume Gressin:
Com tecnologias atuando juntas. Não teremos somente aeronaves movidas a hidrogênio. Acabamos de entregar, por exemplo, um modelo de aeronave para a Iberia, que voará por 25, 30 anos. Esta aeronave não poderá usar hidrogênio, pois usa um tipo diferente de combustão. Então, qual a solução para ela continuar voando no futuro? O combustível de aviação sustentável. Teremos diversos modelos com soluções diversas e todos estarão voando juntos, ao mesmo tempo.

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