Crocante e sustentável: cresce mercado de alimentos a base de insetos
Você toparia provar um chocolate composto por larvas de um tipo de besouro? E um salgadinho com farinha de grilo? Estes e outros produtos à base de insetos já existem e estão ganhando espaço no mercado no mundo inteiro. Os fabricantes garantem um alto valor nutritivo com sabor delicioso - e, obviamente, muito crocante.
"O inseto inteiro ainda é marginalizado, as pessoas têm nojo. A expressão "comer com os olhos" não se aplica aqui. Porém, precisamos ultrapassar essa barreira cultural: os insetos para alimentação são cultivados em laboratório com rígidos padrões de higiene", comenta Antonio Carlos Freitas Souza, biólogo, pesquisador do Núcleo de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá, que desenvolve o "Choconébrio", mistura de chocolate, larvas de besouro (tenebrio), água e farelo de milho.
A farinha da larva do besouro utilizada no chocolate é super proteica. Segundo o pesquisador, uma porção de 100g de farinha de inseto pode fornecer cerca de 45% de proteína - enquanto a mesma quantidade de carne bovina teria cerca de 20%. "Temos uma fonte de proteína excelente, com aminoácidos essenciais, vindos de um animal de fácil criação, que ocupa menos espaço do que um boi, além de consumir menos água em sua produção", aponta Souza. O chocolate ainda aguarda aprovação dos órgãos reguladores para entrar no mercado - no momento, está em fase de degustação. Segundo Souza, a aceitação passa de 90%.
Na União Europeia, os insetos já estão nas prateleiras dos supermercados de muitos países. A empresa italiana Italian Cricket Farm fabrica farinha feita de grilos secos e moídos para ser usada em diversos alimentos como biscoitos, bolos e até macarrão. A também italiana Fucibo utiliza a mesma farinha para salgadinhos.
"Os insetos como alimento merecem uma discussão científica, desapaixonada e pragmática. Essa discussão tem como pano de fundo o aumento da população mundial, o incremento da demanda e do custo da proteína animal, a insegurança alimentar que atinge quase um bilhão de cidadãos do mundo, a sustentabilidade dos sistemas produtivos, o esgotamento das fronteiras agrícolas e dos recursos naturais, entre outros temas relevantes", afirma Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), em artigo.
Estes seres voadores (ou não) podem causar, à primeira vista, uma certa repulsa na gastronomia ocidental. Porém, talvez esteja na hora de revermos nossos conceitos. As Nações Unidas já emitiram um comunicado recomendando o consumo de insetos como uma forma de combater a fome e promover a segurança alimentar. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) considera os insetos uma fonte rica de proteínas e minerais, além de serem de baixo custo e terem uma produção mais sustentável do que outras culturas, como carnes e peixes.
Atualmente, estima-se que os insetos façam parte da dieta tradicional de cerca de 2 bilhões de pessoas em diferentes países do mundo. Mais de 1.900 espécies são usadas como alimento, conforme catálogo da Universidade de Wageningen, na Holanda.
Estudos recentes comprovam que a criação de insetos emite menos gases de efeito estufa e menos amônia, requerendo significativamente menos terra e água do que a criação de gado ou porcos. Os grilos, por exemplo, têm 65% de eficiência de conversão de alimentos em biomassa.
"Pense nos caranguejos que vivem na lama: alguém um dia olhou para este bicho e pensou: 'Posso comer isso'. O mesmo acontece com insetos", afirma Souza, que, neste momento, conta com um laboratório de pesquisa e criação sanitária para grilos e? baratas. "O tempero será bom", garante.
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