Mariana Sgarioni

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Reportagem

Design social e ambiental apoia trabalhos ancestrais de comunidades

Graças ao design vivemos rodeados por objetos que foram especialmente projetados para tornar nosso mundo melhor ou mais confortável: isso vai desde a cadeira em que você está sentado, passando pelo formato da torneira da pia do banheiro ou pela facilidade de digitar em um aplicativo de celular. O papel do design é transformador, mexe com a forma como vivemos e nos relacionamos. Por isso, ele pode ser uma ferramenta essencial para construir uma economia mais justa e adaptável às demandas ambientais e sociais.

"Usamos o design e a arquitetura como instrumentos de transformação social. Pensamos em soluções ou desenhos que possam mitigar situações extremas em lugares onde existe uma população que vive da própria natureza, que se relaciona com ela de uma forma muito mais íntima. Se a gente favorecer, por meio de objetos e construções, que essas pessoas permaneçam em seus territórios, elas podem defender seus biomas, e serem guardiãs locais", explica o designer Marcelo Rosenbaum, que lidera o projeto "A Gente Transforma", com o qual percorre o país desenvolvendo projetos com comunidades indígenas, quilombolas e periféricas.

Em uma destas viagens, há 14 anos, Rosenbaum encontrou a comunidade de Várzea Queimada, no Piauí, onde havia anciãs que eram artesãs, mas haviam deixado seus saberes perdidos no tempo por falta de estímulo, auto-estima e valorização. Com o incentivo da equipe de designers, as artesãs voltaram a tecer, desfiar e trançar a palha de carnaúba para a confecção de cestos conhecidos como "bogoiós".

"Estes cestos estavam jogados no chão, tratados como lixo. O que fizemos foi uma arqueologia afetiva. Não é um design de criação, uma inovação, uma produção completamente nova. É algo investigativo, que já existe, é um serviço, um longo trabalho de observação e escuta. A gente pede licença para entrar na casa das pessoas. O trabalho já está ali", observa Rosenbaum. No final de novembro, o designer foi convidado pelo Istituto Europeo di Design (IED) para o evento "Carreira e Mercado: Como a COP 30 impacta os profissionais de Design?", onde falou sobre a relação entre o design e a sustentabilidade.

A partir do resgate de saberes ancestrais e da preservação de uma palmeira local, estes cestos hoje mantêm o sustento de 35 mulheres da comunidade e já foram vendidos em Paris, Milão e Estados Unidos. "Nossa participação neste projeto foi de parceria. O trabalho inteiro deve ser creditado a estas mulheres, inclusive elas seguem liderando toda a produção, com inteira autonomia", lembra Rosenbaum.

Segundo ele, o momento atual é o de pensar de que forma é possível que o design produza algo que atenda um contexto de emergência social e climática que vivemos. "A palavra design vem de desígnio. Qual a função deste desígnio que pode atender às necessidades coletivas frente a um colapso ambiental, econômico, social? Como os saberes ancestrais, que se relacionam de perto com o vento, a chuva, os pássaros, a floresta, criam os objetos? Este é o design ambiental", completa o designer, que agora está trabalhando em um projeto de casas construídas com madeiras nativas junto a uma aldeia na fronteira do Peru com o Acre. "O desafio é usar as mesmas técnicas de construção que eles já utilizam, porém com o mínimo de material e alta segurança para encarar eventos climáticos".

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