Mariana Sgarioni

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Reportagem

'Sustentabilidade é também financeira', diz CEO da Renner

Nesta edição, você vai ler uma conversa com Fabio Faccio, CEO da Renner, cuja gestão é marcada pelas estratégias ESG e de sustentabilidade. Sob sua liderança, a empresa vem crescendo nos últimos anos e se tornando referência em iniciativas sustentáveis no setor da moda, garantindo um lugar de destaque na COP 29. Para Faccio, o importante é tonar a sustentabilidade financeiramente escalável.

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Tem também uma matéria sobre o poder de transformação do design social e ambiental - o designer Marcelo Rosenbaum conta sobre seus projetos em comunidades que vivem perto da natureza e que têm muito a ensinar sobre sua relação com o entorno.

Por fim, uma startup que resgata e encaminha para reciclagem aquelas embalagens que ninguém recicla e que não param de se acumular em aterros, ruas, praias, rios e oceanos.

Boa leitura!

Renner registra lucro com estratégias de sustentabilidade

Será que investir em sustentabilidade vale a pena financeiramente para uma empresa? Quem ainda tem dúvidas sobre a resposta deveria olhar para os números da Renner, que, nos últimos anos, vem apostando pesado em tecnologia e inovação para uma moda cada vez mais sustentável. No terceiro trimestre deste ano, a varejista registrou um lucro líquido de R$ 255,3 milhões, o que significa um crescimento de cerca de 48% em comparação ao mesmo período de 2023.

"Claro que uma empresa tem que dar lucro. Mas ela tem que ser sustentável também. Uma coisa não exclui a outra. O modelo de negócios deve apostar na sustentabilidade ambiental e, ao mesmo tempo, financeira", diz Fabio Faccio, CEO da Renner.

Na entrevista a seguir, Faccio fala sobre a jornada sustentável da Renner e de que forma os modelos de negócios atuais não podem mais virar as costas para as mudanças ambientais que estão em curso.

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Ecoa: A sustentabilidade é um dos pilares estratégicos da Renner. Como fazer com que ela seja escalável financeiramente?
Fabio Faccio:
Quando a gente fala em sustentabilidade, a primeira coisa que vem à mente são as questões ambientais. Entretanto, não é só isso. Precisamos crescer, movimentar a economia, gerar empregos para ter comida na mesa, saúde, educação. Então, a sustentabilidade também é financeira. Trabalhamos com dois conceitos juntos: finanças e sustentabilidade. Com escala, a sustentabilidade é mais economicamente viável do que o modelo extrativista. Quando você ganha escala, você tem um crescimento econômico junto. Isso significa insistir e não desistir nunca.

Ecoa: Por exemplo.
Fabio Faccio:
O algodão certificado, por exemplo, tinha um custo muito alto no começo. Até que outras grandes empresas também olharam para ele e ajudaram a transformar a cadeia. Esta transformação poderia ter vindo por meio da regulação, mas neste caso veio das próprias empresas. Então ganhou escala, o preço baixou. Isso já é uma realidade no algodão e agora a viscose está chegando - inclusive, em breve, será um novo case.

Ecoa: A Renner teve uma participação relevante na COP 29, em que mostrou caminhos para uma moda mais sustentável. Qual a importância desta participação para vocês?
Fabio Faccio:
Queremos engajar quem ainda não está consciente. Hoje, de cada 10 peças que produzimos, 8 tem algum componente de sustentabilidade. Para chegar a 100% precisamos de mais gente engajada. É pouco provável que uma empresa sozinha faça alguma grande mudança.

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Artesãs de Várzea Queimada (PI) confeccionam cestos de palha de carnaúba (bogoiós), do projeto A Gente Transforma, liderado pelo designer Marcelo Rosenbaum
Artesãs de Várzea Queimada (PI) confeccionam cestos de palha de carnaúba (bogoiós), do projeto A Gente Transforma, liderado pelo designer Marcelo Rosenbaum Imagem: Tatiana Cardeal
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Design social e ambiental ajuda a transformar a vida de comunidades

O design está em todos os objetos ao nosso redor. Ele preenche espaços e é transformador, uma vez que mexe com a forma como vivemos e nos relacionamos. Por isso, pode ser uma ferramenta essencial para construir uma economia mais justa e adaptável às demandas ambientais e sociais.

"Usamos o design e a arquitetura como instrumentos de transformação social. Pensamos em soluções ou desenhos que possam mitigar situações extremas em lugares onde existe uma população que vive da própria natureza, que se relaciona com ela de uma forma muito mais íntima. Se a gente favorecer, por meio de objetos e construções, que essas pessoas permaneçam em seus territórios, elas podem defender seus biomas, e serem guardiãs locais", explica o designer Marcelo Rosenbaum, que lidera o projeto "A Gente Transforma", com o qual percorre o país desenvolvendo projetos com comunidades indígenas, quilombolas e periféricas.

Em uma destas viagens, há 14 anos, Rosenbaum encontrou a comunidade de Várzea Queimada, no Piauí, onde havia anciãs que eram artesãs, mas haviam deixado seus saberes perdidos no tempo por falta de estímulo, auto-estima e valorização. Com o incentivo da equipe de designers, as artesãs voltaram a tecer, desfiar e trançar a palha de carnaúba para a confecção de cestos conhecidos como "bogoiós".

Estes cestos hoje mantêm o sustento de 35 mulheres da comunidade e já foram vendidos em Paris, Milão e Estados Unidos. O sucesso destes objetos trouxe ainda um processo de reconhecimento em curso da Chapada do Araripe (região de Várzea Queimada) como Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco.

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Segundo Rosenbaum, o momento atual é o de pensar de que forma é possível que o design produza algo que atenda um contexto de emergência social e climática que vivemos. "Para isso é preciso ouvir. Como os saberes ancestrais, que se relacionam de perto com o vento, a chuva, os pássaros, a floresta, criam os objetos?", completa o designer.

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Embalagens flexíveis de balas, chocolates, biscoitos e salgadinhos ao entrarem na máquina de trituração para reciclagem
Embalagens flexíveis de balas, chocolates, biscoitos e salgadinhos ao entrarem na máquina de trituração para reciclagem Imagem: Divulgação/Yattó

Startup aponta soluções para reciclagem de resíduos difíceis

Aquelas montanhas coloridas de pacotes vazios de salgadinhos, chocolates, balas, biscoitos são quase um símbolo de um lixo que se multiplica e parece não ter fim. O motivo é simples: estas embalagens fazem parte dos materiais considerados de difícil reciclagem. Ninguém quer. E, no fim, vão parar em aterros sanitários ou, na pior das hipóteses, nas ruas, praias, rios e oceanos.

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A Yattó é uma startup brasileira que resolveu dar um jeito nisso: ela encontra soluções de reciclagem para os resíduos complexos. São eles: embalagens flexíveis, tintas, cápsulas de café e copinhos de iogurte.

O trabalho da Yattó é feito em parceria com cooperativas de catadores, onde os materiais são separados e encaminhados a fornecedores que darão um tratamento específico para cada resíduo. "Nossa função é conectar as grandes marcas, fornecedores de embalagens e institutos de pesquisa. Ligamos os pontos e traçamos os projetos para cada tipo de material", diz Leonardo Lopes, cofundador e diretor de operações da startup.

Com destinação correta, embalagens flexíveis, como de biscoitos e picolés, depois de trituradas, podem virar um tipo de resina que é usada para a fabricação de madeira plástica. A Cargill, por exemplo, utilizou esta madeira para produzir lixeiras. Outras marcas usam a resina para displays, casinhas de cachorro, tapumes ecológicos, entre outros. Já a Danone transformou seus copinhos de iogurte em crachás.

A Yattó trabalha com cerca de 30 grandes marcas como Nestlé, Mars, Danone, Cargill, Pepsico, Ajinimoto e Melitta. Somente em 2023, a startup garantiu o reaproveitamento de mais de 10 toneladas de cápsulas de café, 30 toneladas de poliestireno (copinhos de iogurte) e 670 toneladas de embalagens plásticas flexíveis.

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Dica de Leitura

A Revolução Decisiva

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Autor: Peter Senge
Editora: Elsevier

O livro mostra várias estratégias, com histórias inspiradoras e ricos estudos de caso, de empresas e profissionais que estão fazendo a diferença para amenizar os impactos ambientais em todo o mundo.

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