Mariana Sgarioni

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Reportagem

"Sustentabilidade é também financeira", diz CEO da Renner

Será que investir em sustentabilidade vale a pena financeiramente para uma empresa? Quem ainda tem dúvidas sobre a resposta deveria olhar para os números da Renner, que, nos últimos anos, vem apostando pesado em tecnologia e inovação para uma moda cada vez mais sustentável. No terceiro trimestre deste ano, a varejista registrou um lucro líquido de R$ 255,3 milhões, o que significa um crescimento de cerca de 48% em comparação ao mesmo período de 2023.

"Claro que uma empresa tem que dar lucro. Mas ela tem que ser sustentável também. Uma coisa não exclui a outra. O modelo de negócios deve apostar na sustentabilidade ambiental e, ao mesmo tempo, financeira", diz Fabio Faccio, CEO da Renner.

A agenda ESG é uma marca da gestão de Faccio na Renner, que vem ganhando cada vez mais destaque: em 2022, recebeu a maior pontuação entre as empresas de varejo no S&P Global Sustainability Yearbook 2022. Atualmente, 8 em cada 10 peças da marca tem algum componente sustentável, como fios de algodão que respeitam o solo e a água, menos uso de energia, lojas circulares e certificação socioambiental de 100% dos fornecedores.

Durante a COP 29, em Baku, a empresa apresentou sua meta de alcançar a produção de zero emissão de carbono até 2050 e também algumas de suas iniciativas inovadoras no desenvolvimento das peças, como o design, técnicas de circularidade e implementação de processos ambientais junto a fornecedores. Para aumentar o engajamento, a companhia lançou recentemente o Guia de Moda Circular, que explica como atingir práticas mais responsáveis no setor da moda.

Na entrevista a seguir, Faccio fala sobre a jornada sustentável da Renner e de que forma os modelos de negócios atuais não podem mais virar as costas para as mudanças ambientais que estão em curso.

***

Ecoa: A sustentabilidade é um dos pilares estratégicos da Renner. Como fazer com que ela seja escalável financeiramente?
Fabio Faccio:
Quando a gente fala em sustentabilidade, a primeira coisa que vem à mente são as questões ambientais. Entretanto, não é só isso. Precisamos crescer, movimentar a economia, gerar empregos para ter comida na mesa, saúde, educação. Então, a sustentabilidade também é financeira. Para que ela possa gerar valor ao time, aos acionistas, investidores e à toda a sociedade, ela precisa atuar em diversas frentes: na inclusão social, ambiental e financeira. Estamos em um momento, inclusive, em que não é mais suficiente somente mitigar as emissões. É preciso encontrar formas de negócio que proporcionem o crescimento de forma regenerativa, o que é um grande desafio.

Ecoa: Há quem acredite que a sustentabilidade corporativa cause prejuízo?
Fabio Faccio:
Esta discussão está polarizada, politizada. Se uma empresa investe em sustentabilidade ela não tem lucro? Isso não existe. A sociedade trata paradoxos como paradigmas. Claro que a empresa precisa dar lucro, mas ela também tem que ser sustentável. Caso contrário ela vai existir por pouco tempo. Se acabarem os recursos que mantêm a economia, que fazem a roda girar, as empresas fecham. Então acreditamos em uma longa jornada de sustentabilidade: primeiro vamos mitigar, para depois neutralizar, e só então reverter as emissões.

Ecoa: Como funciona este processo?
Fabio Faccio:
Na Renner, trabalhamos com uma proposta longa porque esta é uma convicção nossa. Trabalhamos com dois conceitos juntos: finanças e sustentabilidade. Com escala, a sustentabilidade é mais economicamente viável do que o modelo extrativista. Quando você ganha escala, você tem um crescimento econômico junto. Isso significa insistir e não desistir nunca.

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Ecoa: Por exemplo.
Fabio Faccio:
É uma jornada longa de perseverança. Em 2017, tínhamos metas de chegar em 2021 usando 80% de energia renovável em nossa produção. Atingimos 100% antes do final deste ciclo. Porque não era apenas uma meta: descobrimos que era muito mais viável economicamente, algo que no início não parecia ser. Então insistimos, desenvolvemos inovações, fizemos parcerias. E chegamos em um momento em que o modelo ficou economicamente melhor do que o anterior. Outro exemplo: matéria-prima, que é a pegada mais impactante do setor. Se a gente conseguisse transformar nossa produção, o resultado seria melhor, diminuiria nosso impacto. Desenvolvemos então uma matéria-prima reciclada - que, no início, tinha alto custo. Insistimos em parcerias e hoje temos produtos reciclados com qualidade melhor e um custo mais acessível.

Ecoa: As parcerias fazem a roda girar.
Fabio Faccio:
Sem dúvida. O algodão certificado, por exemplo, tinha um custo muito alto no começo. Até que outras grandes empresas também olharam para ele e ajudaram a transformar a cadeia. Esta transformação poderia ter vindo por meio da regulação, mas neste caso veio das próprias empresas. Então ganhou escala, o preço baixou. Isso já é uma realidade no algodão e agora a viscose está chegando - inclusive, em breve, será um novo case.

Ecoa: A Renner teve uma participação relevante na COP 29, em que apresentou caminhos para uma moda mais sustentável. Qual a importância desta participação para vocês?
Fabio Faccio:
Queremos engajar quem ainda não está consciente. Precisamos de mais gente junto. Infelizmente ainda somos minoria. Queremos mostrar nossos resultados e convencer outras empresas, endereçar soluções, falar de nossos compromissos, levar exemplos práticos de como estamos avançando na nossa jornada. E chamar mais gente pra fazer junto. Hoje, de cada 10 peças que produzimos, 8 tem algum componente de sustentabilidade. Para chegar a 100% precisamos de mais gente engajada. É pouco provável que uma empresa sozinha faça alguma grande mudança.

[Esta reportagem faz parte da newsletter "Negócios Sustentáveis". Inscreva-se para receber gratuitamente no seu email toda segunda-feira]

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