Mariana Sgarioni

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Floresta não serve só para mercado de carbono, diz especialista

Quem acompanha o andamento do mercado de créditos de carbono assistiu a um salto espetacular nas últimas semanas. Em um consenso inédito, já no primeiro dia da COP 29, em Baku, no Azerbaijão, os representantes dos países aprovaram regras gerais que deverão orientar este mercado global e a criação de créditos. Do outro lado do mundo, aqui no Brasil, a Câmara dos Deputados, enfim, aprovou o projeto de lei que regulamenta as transações no país.

A regulação estava sendo ansiosamente esperada havia mais de uma década. A compra e a venda destes créditos correm soltas pelo mundo e, sem parâmetros, o ambiente fica propício a fraudes. Neste ano, por exemplo, a Operação Greenwashing, da Polícia Federal, mostrou como o crime organizado em 5 Estados Brasileiros vendeu ilegalmente R$ 180 milhões em compensações ambientais de áreas griladas. A lei vem, então, para dar transparência a este comércio e, claro, para atrair investidores.

Mas é preciso cuidado. O mercado de créditos de carbono não pode ser visto como uma panacéia para resolver a questão climática. Aliás, ele deveria ser usado apenas em último caso. O sistema como foi definido atualmente trata de um mecanismo monetário em que empresas ou governos podem compensar aquelas emissões que não conseguem neutralizar. Então, os créditos são adquiridos por meio de projetos de conservação ambiental - sejam de reflorestamento ou energias renováveis, por exemplo.

"A gente precisa descarbonizar os negócios e não só ficar compensando. Seguimos emitindo gases de efeito estufa e aumentando os projetos de créditos. Essa lógica não pode existir. Agora, com a regulação, se entrarmos no conforto da compensação, teremos que ter milhares e milhares de créditos? O Brasil deixará de descarbonizar e só vai ficar fornecendo crédito? A floresta não serve só para crédito de carbono", alerta Linda Murasawa, consultora de sustentabilidade, clima e finanças da Fractal Assessoria.

Segundo ela, se nossas florestas ficarem apenas direcionadas a projetos de compensação, poderão ficar engessadas, sem produzir mais nada. "A floresta em pé é um ecossistema riquíssimo, equilibrado, e pode gerar uma série de outros serviços que ajudam a economia do país. Ela pode ser usada para a produção fármacos, cosméticos, novos alimentos, ecoturismo. Não é para ela ficar intocada. Ela deve estar em pé e produzindo", completa.

Para Ana Luci Grizzi, sócia de sustentabilidade e mudanças climáticas da EY Brasil, o modelo de mercado global de carbono vinha desde o Acordo de Paris, de 2015, quando as bases para o desenvolvimento deste comércio foram estabelecidas, e serviam mais como um mecanismo de incentivo para os países desenvolvidos internalizarem a questão climática. Porém, o cenário hoje já é outro. Agora será preciso alinhar quem serão os órgãos supervisores mundiais - inclusive para trazer este capital ao Brasil.

"Estamos no momento mais importante para os negócios no Brasil. Podemos ser os provedores que farão as compensações de emissão para quem não tem possibilidades. Porém, precisamos investir em qualidade de projetos: carbono é apenas um deles. Temos outros produtos, novos ativos ambientais", diz.

De acordo com Linda Murasawa, o Brasil precisa se lembrar que, além de fornecer esses créditos, também precisa reduzir as emissões. "Nosso modal principal de logística é o caminhão a diesel, que usa combustível fóssil. Nosso transporte marítimo também. Temos dimensões continentais, então essas emissões de transporte são pesadas. Se o agro precisa crescer, o transporte destes alimentos tem que mudar, não tem jeito". Segundo ela, a mudança não deve se apoiar apenas no carbono e sim em toda uma transição de modelo. "Se mantivermos este modelo, aumentaremos os nossos custos porque pagaremos os valores de recuperação a cada evento extremo. Tem que mudar o modelo: diminuir muito a emissão de carbono não apenas das empresas, mas também dos órgãos públicos, tudo conjugado. Isso é economia de baixo carbono funcionando", afirma.

E para chegar lá, o que precisa? Em primeiro lugar, dinheiro. Investimento. Ana Luci Grizzi resume: "Se o sistema financeiro não estiver na mesa, nada vai para frente na questão ambiental. Precisamos de dinheiro na mesa: realinhar subsídios e incentivar com novos produtos financeiros. Dá pra fazer, sim, mas temos que sair da caixinha".

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