Mariana Sgarioni

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Reportagem

Tecnologia usa resíduos de demolição para fazer muros que capturam CO2

A construção civil é um dos setores que mais crescem no mundo. As obras não param - e, com elas, vêm os entulhos e as sobras. Somente em 2022, o Brasil gerou nada menos do que 45 mil toneladas destes resíduos, segundo pesquisa Panorama dos Resíduos Sólidos. Este montante é assustador e não tem mais para onde ir: os aterros estão saturados e muitas empresas acabam fazendo o descarte em locais inadequados.

Uma tecnologia inédita desenvolvida pela Universidade de São Paulo e a FBS Construtora oferece um destino sustentável para resíduos de demolição, especialmente para os restos de guias e sarjetas que são quebradas nas ruas das cidades: os materiais, compostos por concreto, são reciclados e se transformam em muros de contenção capazes de absorver o carbono da atmosfera. Ou seja: além de reduzirem o acúmulo de lixo, eles "filtram" o ar.

Os pesquisadores afirmam que o produto reciclado é composto basicamente de concreto, um elemento que, a partir de reações químicas específicas, pode capturar carbono. "Este material em estado sólido é capaz de absorver até 20% de CO2 na área que foi implantado", explica Emanuel Silva, vice-presidente executivo de Engenharia na FBS Construtora. Segundo ele, esta tecnologia é 25% mais barata do que a construção com pedras virgens, pois não utiliza toda a logística de transporte.

A ideia de transformar estes resíduos em muros de contenção veio da demanda: as grandes cidades e rodovias com topografias acidentadas têm muitas encostas e sofrem com o perigo de deslizamentos. Os muros são essenciais para evitar acidentes e poderiam ser utilizados a partir de agora também como agentes contra a poluição. "Imagine todas as encostas da Marginal Pinheiros e Tietê, na capital paulista, lugares com altas emissões, se tivessem esta captura de carbono", comenta Silva.

Além da purificação do ar, os benefícios do uso deste produto incluem a redução da contaminação do solo e da água, diminuição da necessidade de aterros, menos exploração de fontes naturais e redução do consumo energético na extração de matérias-primas.

Desenvolvido por geotécnicos, o projeto-piloto é de um muro de 14 metros e está em fase de teste na cidade de Francisco Morato (SP). "No momento, estamos fazendo ensaios em laboratório para ter certeza de quanto CO2 já foi fixado no material. Estima-se que a estrutura de contenção possa capturar duas toneladas de CO2 ao longo dos anos, o que pode representar um retorno financeiro de até R$ 60 para cada metro linear do muro", disse Sérgio Angulo pesquisador da Poli-USP.

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