Quebra-cabeças: você sabe por que deve medir suas emissões de carbono?
Diminuir - ou, na melhor das hipóteses, zerar - a emissão de gases de efeito estufa deveria ser o compromisso de toda empresa que pretende se manter em pé nos próximos anos. Porém, para fazer esta redução, é preciso voltar uma casa no jogo e botar no papel qual o volume destas emissões. Isso se faz com o chamado Inventário de Gases de Efeito Estufa - documento que será obrigatório para diversas organizações brasileiras a partir de agora. Quem ainda não começou, pode aproveitar este início de ano e arregaçar as mangas.
O inventário é uma ferramenta poderosa para apontar não apenas o volume das emissões de uma companhia como também as oportunidades de redução e de possíveis compensações. Antes de divulgar que tem uma proposta ESG, a companhia precisa ter em mãos este mapeamento. Até porque é impossível fazer a gestão de algo que não se mensura.
"Imagine um CEO que não sabe quanto sua empresa fatura por mês e quanto paga de imposto. Isso não existe porque ele depende destes dados. Pois a sustentabilidade também é um dado, é um número", afirma Isabela Basso, fundadora da Zaya, startup que calcula impactos ambientais com softwares. Sem a utilização de dados para direcionar ações de sustentabilidade, aumenta consideravelmente o risco de a empresa cair na prática do greenwashing - que acontece quando as iniciativas apresentadas não têm impacto real no meio ambiente e acabam entrando nos relatórios apenas como figuração.
De acordo com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, em 2024, o número de organizações brasileiras que relatam suas emissões cresceu 24% em relação ao ano anterior. Porém, de acordo com Isabela, a maioria ainda nem começou esta jornada.
Ela aponta que o primeiro passo é iniciar o cálculo por escopo. Segundo o Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol), principal padrão corporativo e que é usado no inventário, as emissões são classificadas em três escopos. O escopo 1 é referente às emissões diretas de fontes que a empresa possui ou controla. É algo que acontece dentro das paredes da organização, o mais fácil de medir. O escopo 2 refere-se às emissões indiretas, provenientes da compra de eletricidade e processos de vaporização, aquecimento e resfriamento. E o escopo 3 é referente às emissões indiretas da rede da cadeia de valor, fora do controle da empresa. Esta última é a mais difícil de medir porque é preciso conhecer e saber exatamente as práticas de cada fornecedor.
Na sequência, é preciso entender dentro da organização quem é a pessoa responsável por cada informação. Por exemplo: quem compra combustíveis, quem responde pela logística, quem recebe os dados do consumo de energia. "Cada uma destas pessoas deve estar engajada. Se o colaborador compreende que aquilo não é só um número e sim representa um impacto no ambiente, ele percebe seu papel dentro deste processo tão importante. Quando a equipe começa a reportar os dados, passa a se sentir responsável e as iniciativas de redução começam a acontecer espontaneamente", explica Isabela.
A executiva lembra ainda que as empresas podem lucrar com os dados reportados no inventário. "Reduzir as emissões representa um diferencial competitivo: você vai vender mais, ter mais acesso a crédito, ter mais portas abertas. No mercado interno e externo. Estamos falando não apenas sobre clima, mas também sobre dinheiro".
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