Mariana Sgarioni

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Reportagem

Barcos voadores: tecnologia para o transporte na região amazônica

Imagine um barco que corre tanto, mas tanto, que não flutua na água. Ele chega a voar - só que bem baixinho, sem alcançar as nuvens. Esta espécie de nave saída de filmes de ficção científica já está em construção e promete revolucionar o transporte na região amazônica, onde as distâncias são longas e a principal via de acesso são os rios.

A inovação vem da startup Aeroriver, que criou o Volitan, primeiro veículo de efeito solo adaptado para o território amazônico. Idealizado por engenheiros que se uniram no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o "barco voador", por se locomover muito perto da água - cerca de 2 a 5 metros -, consegue um efeito aerodinâmico que o torna rápido e 40% mais eficiente em combustível se comparado a um avião comum. Ele chega a uma velocidade de 150 quilômetros por hora, sendo que um barco comum da região atinge no máximo 30 quilômetros por hora.

Os primeiros a explorarem este efeito aerodinâmico para o desenvolvimento de um veículo foram os russos durante a Guerra Fria. O objetivo era o transporte de carga e tropas pelo mar em alta velocidade aliado a um baixo consumo de combustível quando comparado às aeronaves tradicionais com mesma capacidade de carga. Na época, este tipo de veículo foi batizado pelos soviéticos como "Ekranoplano".

"Apesar de toda a importância da Amazônia, um problema nunca foi solucionado: a falta de logística adequada para o transporte de pessoas e mercadorias. Isso faz com que vários municípios no interior estejam isolados. Isso é um entrave para o desenvolvimento socioeconômico da região", diz Lucas Guimarães, cofundador e CEO da Aeroriver, um dos criadores do Volitan.

O cenário dos transportes na Amazônia é, de fato, preocupante. Atualmente as viagens podem ser feitas de duas maneiras: barco ou avião. O barco costuma ir muito devagar - é possível demorar dias para chegar em determinadas cidades, o que dificulta diversos tipos de transporte, como o de alimentos perecíveis, por exemplo. E o avião, além de poucas rotas disponíveis, apresenta um alto custo. O barco voador pretende aliar a rapidez de um avião a valores mais acessíveis - além de menos emissão de carbono.

A empresa apresenta uma comparação interessante. Para fazer o trecho de Manaus a Parintins, duas importantes cidades do Amazonas, por via fluvial, um barco demora 18 horas para percorrer 437 km. A passagem custa cerca de R$ 140 e a emissão de carbono é de 42 kg por passageiro. De avião, o tempo é de 1 hora e 10 minutos; custa R$ 675, e são 58 kg de CO2 por passageiro. Agora vamos ao Volitan: o mesmo percurso duraria 3 horas, a um custo de R$ 300, e 36 kg de CO2 por passageiro.

O veículo terá a capacidade de transporte de 10 passageiros ou o equivalente a 1.200 quilos de carga. A decolagem e pouso serão feitos nos rios.

A Aeroriver foi destaque do Web Summit do ano passado, principal evento de tecnologia e inovação do mundo, e participa do Programa Inova Amazônia, do Sebrae, uma estratégia focada em fomentar, apoiar e desenvolver negócios inovadores alinhados à bioeconomia local. No total, o programa já investiu R$ 23 milhões em aceleração.

Em fase final de testes, o Volitan tem um custo aproximado de R$ 3 milhões e deve entrar em operação ainda neste ano. A Aeroriver já recebeu investimentos de grandes varejistas da região, além de outras 16 cartas de intenção de compra.

Reportagem

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20 comentários

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Alonso de Toledo Filho

Muito bacana a iniciativa, contando com a preciosa ajuda de técnicos do ITA, mas a "novidade" se chama ekranoplano e foi estudado e utilizado à exaustão na antiga União Soviética, desde os tempos da guerra fria, com fins militares. Atualmente existem vários modelos civis em produção comercial em diversos países.

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Paulo Siqueira

Adaptado, criado, copiado, o mais importante é que será extremamente útil no auxílio na gigante amazônia. Com produção nacional, os brasileiros deveriam apoiar a iniciativa.

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Marcondes Assis da Silva

O vira-latismo está em alta. O texto não afirma que foi "inventado". O texto afirma que foi CRIADO um veículo ADAPTADO para a região amazônica. O "similar" soviético era um veículo de guerra gigante usado no mar Cáspio para lançar misseis. É um dinossauro da época soviética que foi abandonado.

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