Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Onze anos e um trauma no ventre
Como gestar seus planos
Decidir seus desejos e medos
Com apenas onze anos?
A criança
Carregando no corpo uma marca
Um trauma por tantas semanas
- agora já quase 30 -
Cobrada da condescendência de sofrer mais um pouquinho
Para que o trauma
Que para a adulta parece tão pequenininho
Um trauma sem pulmão
Valesse mais a pena do que a morte de uma esperança
Tenta enredar a criança
Que carrega outra no ventre
Pra que doe seu corpo à outra
Para que doa por mais algum tempo
E um belo casal pós-receba
Seu trauminha de presente
Como acreditar que essa gente
Tem aval pra tomar tal escolha
Ser juíza do ventre daquela que nem sabe o que é gestação
Tirar de casa a menina
Pra tirar a criança da filha
Que foi tirada da mãe
E entregar para outra família
Sem abortar a mazela
Que ainda nem respira
E tapando o nariz daquela
Que carrega a perseguição
Barriga que inchou violada
Fodida à força por outro
E que cresceu a tal ponto
De desvalidar a menina
De revalidar o assédio
De desmerecer sua vida
E valorizar o embrião
Um feto feito de horrores
Enfiado de dores seguidas
E as semanas que a tal juíza tanto pede para aguardar
É pra encher mais a barriga
Pra empanturrar a menina
Até talvez ela estourar.
Oxalá salve a pobre menina
E qualquer filha que a Juíza
Possa ter ou ainda terá
Traz paz para essa criança
Da pra ela uma luz de esperança
Pra que possa abraçar sua mãe
Sem ser mãe
Sem gerar
E que o trauma acumulado
Não seja um tamanho fardo
A nível dela não aguentar.
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