Por que consumir informações de portais de notícias periféricos?
O acesso à informação de qualidade se tornou uma grande pauta no Brasil. Percebemos que o consumo de notícias deve ser feito de forma ativa, e não passiva. O que isso quer dizer? Que devemos, ao ler, ouvir ou assistir a uma notícia, saber se ela provém de uma fonte segura, se ela não é uma notícia falsa (as famosas "fake news"), procurar entender as intenções por trás das comunicações, a quantidade de notícias que você consome por dia e por aí vai.
Nesse momento doidíssimo que estamos vivendo, com nossa circulação mais restrita, podemos desenvolver a tendência de ficar mais ensimesmados.
Sabemos que as classes mais abastadas estão conseguindo manter uma frequência maior na qualidade de suas quarentenas. As pessoas que possuem o privilégio do home office também são aquelas que trabalham nas grandes máquinas de comunicação, agências de publicidade e jornais de grande circulação. Isso significa que a narrativa majoritariamente colocada é a dessa parcela da população.
Tenho prestado atenção na produção de conteúdo desses grandes jogadores da comunicação: dentro do mercado publicitário, as peças produzidas são quase todas sobre pessoas que podem respeitar o isolamento social e que possuem alguma renda. São pessoas que não precisam escolher entre a Covid-19 e a fome. Já nos grandes jornais, muitas notícias sobre o que tem acontecido em Brasília, sobre os números crescentes de mortes diárias e dicas do que fazer dentro de casa para se entediar o mínimo possível. E é no ramo jornalístico que vou focar este texto.
Obviamente que essas pautas são de suma importância. Principalmente neste ano em que o presidente da República insiste em atacar ferozmente a imprensa. São muitos os jornais que estão fazendo um espetacular trabalho cobrindo o Brasil 2020, que não é para principiantes.
Contudo, os jornais de maior porte pecam feio no momento de falar sobre as periferias. Recaem no velho erro de tratar as periferias como meros objetos de estudo, retratando com superficialidade e frieza os números crescentes de casos de infectados nessas áreas. Recentemente peguei algumas matérias do portal de jornalismo Nós, Mulheres da Periferia sobre Covid-19 e fui positivamente impactada por uma abordagem completamente diferente das mais "tradicionais".
Os textos que li foram os seguintes: "Essa semana eu me livrei e na próxima?", "Costureiras da periferia produzem máscaras caseiras contra Covid-19" e "Trabalhadoras da saúde relatam desafios no combate ao Covid-19 nas periferias". O primeiro texto me trouxe uma visão muito mais viva das consequências da implementação do novo esquema de rodízio nos transportes públicos; o segundo fala sobre quem são as mulheres por trás da dinâmica produção de máscaras de pano caseiras que são doadas ou vendidas a preços populares, e o terceiro nos mostra a experiência das mulheres enfermeiras que estão no front de batalha pelo lado de dentro.
A diferença desses textos em relação aos textos das publicações tradicionais é o grande domínio e cuidado ao analisar os mesmos assuntos sobre a ótica de raça, gênero e território. Quando vemos no lugar de entrevistadas as caixas de supermercados, as diaristas, os seguranças e porteiros, e perguntamos a eles como têm sido seus trajetos, suas rotinas e dificuldades, criamos um novo fio narrativo que visa menos a caridade e mais a fomentação de uma real autonomia. Ao enxergamos com essas perspectivas, temos a possibilidade de entender melhor o vírus e seu impacto real nas brasileiras e brasileiros.
Por um jornalismo mais empático e menos egocêntrico.
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