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Milo Araújo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lugares para pedalar: Estrada dos Romeiros

Ciclista na estrada dos Romeiros, em Pirapora do Bom Jesus - Eduardo Knapp/Folhapress
Ciclista na estrada dos Romeiros, em Pirapora do Bom Jesus Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

29/01/2022 06h00

Dentre vários locais para pedalar que se encontram pela internet, a A SP-312, Estrada dos Romeiros, é uma das mais procuradas pelos ciclistas. As longas retas iniciais que aparecem nos primeiros quilômetros enganam, pois o restante da estrada consiste em muitas subidas e descidas. Portanto, exige que o ciclista que vá encarar esta estrada esteja com o físico em dia e bem treinado no fator resistência.

Inicialmente, era para este ser mais um texto sobre locais preferidos para se pedalar e que são unânimes entre os ciclistas. Mas acabei encontrando histórias bem interessantes sobre as quais não se fala muito e aqui trago a origem da Estrada dos Romeiros.

Essa estrada começa com interligação na região oeste, que compreende avenidas Vital Brasil e Corifeu de Azevedo Marques (em São Paulo), mudando para a Avenida dos Autonomistas em Osasco, Avenidas Desembargador Doutor Eduardo Cunha de Abreu, Governador Mário Covas Júnior e Deputado Emílio Carlos em Carapicuíba. A Estrada dos Romeiros tem início no km 48 da Rodovia Castelo Branco e atravessa os municípios de Santana de Parnaíba, Pirapora, Cabreúva e termina em Itu.

A partir de Pirapora, segue com trechos sinuosos com visão para o vale e a parte morta do Rio Tietê à sua esquerda. E é com esse cenário que a estrada possui uma das histórias mais incríveis que pesquisei sobre.

Conhecido como uma das ramificações do Caminho do Peabiru, (na língua tupi, "pe" - caminho; "abiru" - gramado amassado), conta a história que por volta do ano 1.100 D.C. os incas haviam estendido seus caminhos até a altura de Asunción no Paraguai, e lá firmaram laços comerciais e de amizade com os índios guaranis. Por esse caminho, era realizada uma intensa troca comercial (na base do escambo) entre os índios do litoral e do sertão e os incas. Os índios do litoral forneciam sal e conchas ornamentais, os índios do sertão forneciam feijão, milho e penas de aves grandes como ema e tucano para enfeite, e os incas forneciam objetos de cobre, bronze, prata e ouro. Como prova desse comércio, pode ser citada a descoberta de um machado andino pré-colombiano de cobre em Cananéia, no litoral de São Paulo. Além disso, os guaranis também ofereceram aos incas a expertise do caminho que dava ao mar.

Descrentes, o incas disseram que o mar era no sentido contrário do ponto onde eles haviam partido, mas devido à grande insistência dos guaranis partiram para conferir a veracidade dos fatos, e assim acabaram saindo da mata na altura de Santos e tendo acesso ao litoral de São Paulo.

Restam ainda, em pontos isolados de mata e em algumas localidades, reminiscências desse caminho, que consistia em uma vala de 1,40 m de largura e 40 cm de profundidade. Ela segue toda revestida de um tipo de grama (denominada puxa-tripa) que impedia o crescimento de mato e outras vegetações. Nos seus trechos mais difíceis, o caminho chegava a ser pavimentado com pedras. Em algumas partes, era sinalizado com inscrições rupestres, mapas e símbolos astronômicos de origem indígena.

Com a chegada dos portugueses e espanhóis em meados de 1500, o caminho foi descoberto e atribuído inicialmente aos índios, mas quando conseguiram entender que o caminho era do "povo das montanhas" e as riquezas que eles mantinham, dezenas de expedições percorreram essa via para saquear ouro, prata e estanho, tendo atingido o território do Peru do Império Inca. E com isso deu-se o início do fim do Império Inca, 50 anos depois, culminando com a execução de Túpac Amaru, o Filho do Sol e último Imperador Inca.

O trecho que passa por São Paulo passou a ser pavimentado a partir da gestão do Presidente do Estado de São Paulo (Governador) Washington Luiz, que tinha como lema "Governar é abrir estradas" na campanha eleitoral de 1920 e recebeu o apelido de "Estradeiro".

Os ciclistas que estão procurando um volume maior acabam optando muitas vezes em sair do km 48 da Rodovia Castelo Branco em direção ao famoso portal, mais conhecido como Portal da Estrada Parque. Esse roteiro possui aproximadamente 100 km de distância com mais de 1800 de altimetria acumulado. Esse percurso para muitos é um sonho, pela distância e também pelas subidas nos últimos quilômetros - lembrando que nessa estrada você vai e volta pelo mesmo percurso!

Mas para aqueles que querem fazer menos volume e menos altimetria é possível sair da cidade Histórica de Pirapora de Bom Jesus ou talvez da cidade de Cabreúva.

Estrada dos Romeiros SP-312
- Acesso na saída 26B da Rod. Castelo Branco sentido interior
- Aproximadamente 70 km de extensão
- Requer atenção por conta do tráfego local, crianças e animais na pista. Estrada vicinal com curvas fechadas. Grande parte sem acostamento
- Atrativos no caminho: Fábrica de Chocolate e Mirante da Gruta e Centro histórico de Itu.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL