Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Parem de matar ciclistas!
Todos os dias que eu preciso usar a minha bicicleta, seja para lazer ou para ir a algum compromisso, eu penso se hoje é meu dia de sorte ou de azar. Levando em consideração que no trânsito a regra é que o maior cuida do menor (ou seja, o maior veículo tem responsabilidade pela segurança do menor, dado o grau de exposição do modal), é lógico assumir que somos um dos elos fracos da dinâmica. Basta qualquer coisa sair do controle e BUM, podemos morrer.
Podemos virar uma esquina e topar com um motorista que, mesmo sem compromisso ou atrasos, vive com pressa. Apesar da rua livre e desimpedida, ele vê em nós um inimigo e dirige de forma hostil e agressiva. Ou então podemos entrar numa rua na qual um motorista está mandando mensagens no celular enquanto dirige e não se importa com a fragilidade do corpo humano. Também pode acontecer de um dia sairmos de casa e encontrarmos aquela figura que gosta de acelerar para ganhar o farol amarelo. São tantas as possibilidades...
No caso da Luísa Lopes, assassinada no trânsito no dia 15 em Vitória, foi uma motorista com diversos sintomas de embriaguez que se recusou a fazer o teste do bafômetro. Conseguimos visualizar pela situação do carro que a batida foi intensa. Luísa morreu com o impacto. Mais uma jovem, negra, talentosa e potente, morta no trânsito. Em vídeos, a mulher que dirigia o carro diz: "Eu estourei a cabeça dela porque ela passou na minha frente".
Eu achei a declaração bastante esclarecedora. Exemplifica muito a mentalidade que infelizmente a esmagadora maioria dos motoristas divide com essa figura que atropelou Luísa. A culpa é nossa, que ousamos viver nossas vidas pedalando. Na ideia contida nessa frase de fácil entendimento, as donas e donos de carros merecem dirigir como bem entendem, pois as ruas e avenidas são meras extensões dos seus carros privados, e não vias públicas. Pouco importa o que acontece do para-choque pra lá. E AI DE QUEM PASSAR NA FRENTE!
Ficamos chocados quando notícias como essa chegam a nós, mas esse pensamento, apesar de lamentável, é mais comum do que xixi de rato em enchente. Quantas vezes você que não dirige pediu um carro de aplicativo e não observou o motorista aterrorizar ciclistas? Ou se você dirige, quantas vezes você mesmo não teve uns pensamentos pra lá de homicidas ao observar as bicicletas passando? Sejamos francos?
E eu fico pensando: o que fazer? A gente já sabe que cadeia não reforma ninguém, então não me sinto muito pessoalmente inclinada a propor que prendamos mais, penalizemos mais. Eu acho que o que falta é conversa sobre o assunto, muito antes do papo chegar na impunidade. É dar a relevância apropriada ao tema. Por que o trânsito é tão fatal? Por que a gente age como se essa pauta não existisse dentro do debate público?
Toda a força e amor do mundo para as amizades e familiares de Luísa Lopes. Toda a comunidade ciclista sente esse pesar junto de vocês. Vocês não estão sós!
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