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Milo Araújo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Perguntas para um coletivo que quer tornar a periferia o centro para bikes

Profanos - Arquivo Pessoal
Profanos Imagem: Arquivo Pessoal

Milo Araújo

Colunista do UOL

30/09/2022 06h00

Essa entrevista foi especial para mim. Por ter nascido e me criado no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, a questão da mobilidade urbana sempre esteve comigo, mesmo quando eu não sabia que esse era o nome da parada.

O conceito de descentralizar não era difundido, muito menos praticado. Fico imensamente feliz de conversar com o Matheus (@krigeriano ) e com o Lucas (@psa_lxno) sobre o papel da nossa querida zona sul e do pedal Profanos (@pedalprofanozs ) na cena do ciclismo urbano paulistano.

Milo Araujo: Me explica, por favor, a origem do nome do pedal?

Matheus Kriger: A ideia do nome profano vem desde o ensino médio, quando pensávamos em fazer música e esse era o nome do grupo Versos Profanos. Desde quando tentei ser escritor e lancei um site com mesmo nome, faz 5 anos que esse nome nos acompanha. Mudamos com o tempo e conhecendo o ciclismo. Sempre tínhamos vontade de lançar um pedal, o nome não foi tão difícil de escolher, dado o histórico desse nome. E o significado de profano cada sociedade tem uma definição do que é profano ou sagrado. Com a bicicleta, para ter espaço, precisamos profanar o trânsito. É a ideia de ser o oposto ao que a "carrocracia" tende a proporcionar.

Milo Araujo: Qual a história do nascimento do Profanos?

Lucas Lino: O pensamento de criar o pedal veio para fugir da centralização que acontecia conosco. Para participarmos de outros pedais, tínhamos de ir ao centro. Então, começamos a agir localmente. Conforme fomos divulgando, percebemos a necessidade de um grupo de fixa na zona sul.

Matheus Kriger: O pedal veio para criar um senso de pertencimento onde moramos, com os locais que já pedalávamos todos os dias como deslocamento urbano. Em grupo é mais fácil tomar seu devido lugar do que pedalando solo.

Milo Araujo: Como vocês se organizam?

Lucas Lino: Nos organizamos toda sexta, saindo do metrô Capão Redondo. Concentramos às 20h e saímos às 21h. Não temos horário para retornar, normalmente voltamos juntos. Postamos na semana o flyer do pedal no Instagram e divulgamos também pelo WhatsApp.

Matheus Kriger: Somos um coletivo horizontal, sempre em movimento e absorvendo ideias. Existem vários grupos de "pedal" na zona sul de São Paulo, nosso diferencial seria essa proposta mais "underground", saímos da periferia e vamos ocupar o centro. A essência da zona sul na bike.

Milo Araujo: Como vocês enxergam a situação atual das bicicletas na cidade de São Paulo?

Matheus Kriger: Estamos em um cenário de degradação da estrutura cicloviária, criada em governos anteriores, com falta de manutenção dos espaços existentes e a não criação de novos espaços para comportar o crescimento dos modais alternativos. A ideia do plano cicloviário alcança apenas a região central, com o ciclista da periferia, aprendendo a conviver entre o trânsito e procurando caminhos alternativos, se houver.

Milo Araujo: Qual a importância do Profanos no cenário do cicloativismo?

Lucas Lino: Todos utilizamos a bike diariamente como deslocamento urbano e na vida pessoal, e cada um tem sua militância política. Como coletivo, ainda somos novos dentro do cenário, ainda em fase de construção, estamos conquistando mais pessoas a cada pedal, com uma ideologia semelhante. Sempre tentando deixar alguma mensagem por onde passamos. Deixando claro que somos antifascistas!

Milo Araujo: Me diz algo que eu não perguntei, mas vocês acham super importante pontuar?

Profanos: Que estamos em constante evolução e que não estamos no rolê para impor nenhum padrão de pedal, nossa ideia é levar da periferia a todos lugares da cidade, a ideia de acesso a espaços públicos, ainda mais se tratando das vias urbanas. Como coletivo, entendemos nossa importância de ocupar espaços para estar presente e contribuir com o movimento.

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