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Milo Araújo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cadê os bicicletários que estavam aqui?

Milo Araújo

Colunista do UOL

30/12/2022 06h00

São muitos os desafios de pedalar em grandes centros. Ingênuos os que pensam que a grande e única limitação para expandir o uso das bicicletas é a escassez de ciclovias e ciclofaixas.

Quando queremos sair de bike de casa, precisamos planejar além do nosso trajeto, também onde estacionamos.

Num grande centro como São Paulo, parar a bicicleta na rua pode se revelar um grande erro. Paraciclos (aqueles arcos amarelos parafusados no chão) e postes podem estar soltos e bambos, facilitando que sua bike seja levada embora.

Sem falar em como nos sentimos expostos em liberar nossas bikes sem a proteção de uma estrutura maior, na rua, a noite…

Principalmente mulheres. Inúmeras foram as vezes que eu mesma deixei a bicicleta em casa, mesmo conhecendo o percurso, e paguei para ir até algum lugar só por que eu não teria onde deixar a minha bicicleta de forma segura.

Nunca aconteceu comigo de chegar e não achar a bici onde amarrei ela. Deve doer demais ter a bicicleta furtada!

Recentemente o @sabota estava num evento no centro da cidade, na Praça das Artes, onde observou uma movimentação estranha. Duas pessoas rompendo um frágil cadeado de uma bicicleta que estava presa a um paraciclo.

Os donos estavam alheios ao que estava rolando, imersos nos shows do evento, que era gratuito e público. Sabota abordou essas duas pessoas, que de fato estavam furtando a bike e se assustaram. Fugiram e deixaram a bicicleta, que foi resgatada por Sabota e devolvida aos donos dias depois. Ainda por cima recompensaram Sabota com um delicioso bolinho que eu tive o prazer de provar.

Mas o ponto é: se a gente tivesse uma boa estrutura pública de bicicletários, esse furto teria acontecido? É muito desestimulante ficar assim tão vulnerável por não contar com estruturas relativamente simples como um bicicletário com segurança.

Quando eu assumi a bicicleta como meu principal meio de transporte para o meu trabalho, lá em 2018, existiam bicicletários gratuitos na Praça dos Arcos e na estação Paraíso, no mesmo estilo do bicicletário do Largo da Batata.

Eram uma mão na roda. Lembro de como facilitaram e incentivaram o meu início de vida na bicicleta. Tinham a limitação de serem localizados apenas em áreas nobres, infelizmente. De qualquer forma, muito triste que foram projetos descontinuados.

Existem alguns bicicletários espalhados por São Paulo, a maioria deles privados, dentro de shoppings e afins. É fundamental para o dar continuidade e vazão à crescente massa de ciclistas paulistanas e paulistanos que se pense mais em bicicletários, de preferência públicos e gratuitos.

Nessa cidade caótica e consumida pelo trânsito, todo incentivo que a prática do ciclismo possa ter é mais que bem-vindo. Não adianta de nada ter onde andar e não ter onde parar e estacionar com segurança.