O fim do mundo já aconteceu
Esses dias falaram que o mundo iria acabar. De novo.
Todo mundo deve lembrar que, segundo os maias, o mundo deveria ter acabado em 2012. Mas um estudioso disse que com as diferenças entre o calendário maia e o gregoriano - que é o que a gente segue - na verdade o mundo deveria ter acabado domingo passado.
E aqui estamos, uma semana depois, e o mundo ainda está de pé.
Na minha vida eu já passei por diversos anúncios de fim de mundo. 1999, 2001, 2012, 2016...
E eu acredito que o mundo acabou em todas elas, como ele está acabando agora.
Esse tal de mundo que a gente fala tanto, não existe. Existe uma grande rocha redonda que está flutuando no universo, que chamamos de mundo e ela vai continuar a fazer isso muito tempo depois que o último humano parar de respirar. Existe uma grande rede interligada com bilhões de seres da mesma espécie, que está em constante desenvolvimento. Existe uma rede maior ainda que liga todos os seres vivos e elementos do planeta. Existe um núcleo familiar que troca amor e falta de paciência na mesa do almoço. Existe tudo isso e um universo de mundos dentro de cada um de nós.
Então esse mundão macro gigante que todo mundo tem medo que acabe, vai ser muito difícil de acabar. Mas o nosso mundo micro interno que a gente consegue tocar, esse acaba direto.
Estamos sempre criando um mundo novo. Quando amamos, quando odiamos, mudamos de trabalho, perdemos o emprego, no nascimento de um filho ou quando perdemos um ente querido. Quando essas coisas acontecem, vemos as coisas de outro jeito, de outra maneira. Sentimos o mundo diferente e assim deixamos o mundo antigo para trás. E ele acaba.
E talvez pela primeira vez na história da humanidade, o mundo macro também está tendo seu fim. Estamos todos vendo ao vivo em nossos celulares e tvs como que tudo que a gente conhecia está acabando. Tudo isso no meio de uma pandemia mundial, quarentena, movimentos raciais indo às ruas pelos seus direitos, economias e sistemas políticos tendo de ser repensados. Não tem como a gente voltar ao que era, pois aquele mundo acabou. Mesmo se a gente tentar - e muitos vão tentar - a gente abriu os olhos para muita coisa que não vamos mais conseguir deixar de ver. É uma mudança estrutural onde no momento que a gente tinha condições e tecnologias de dar saúde e bem estar para todos, a gente não o fez. Por ideologia, por crença ou desinformação. Mas na próxima vez que isso acontecer - e vai acontecer - a gente não pode repetir esses erros que estamos fazendo agora.
No dia que escrevo essas palavras, mais de 50 mil mundos que acabaram nos últimos meses só no Brasil, levando consigo o amor e o carinho de mais milhões de outros mundos.
Mas do outro lado também tem muito amor e empatia acontecendo. Estou escrevendo esse texto na manhã do meu aniversário. Num dia de isolamento, já fui inundado de carinho, amor e afeto por centenas de conhecidos e desconhecidos. Nos últimos meses tive a honra de poder passar muito desse amor para muita gente através da coluna aqui do UOL, do AmarElo Prisma, do #EuEstou e mais várias outras ações que fizeram do meu mundo um lugar muito florido para se viver.
Mesmo assim, acho que hoje é o começo de um ciclo novo para mim. Não apenas por que estou mais velho. Mas por que eu finalmente tenho a coragem de estar aqui com vocês expondo todas essas coisas que eu acredito de peito aberto. E que apesar de todo mal e destruição lá fora, a gente vai continuar aqui.
O mundo é uma história que a gente conta. São as leis, regras, narrativas e todo o resto que colocam na nossa cabeça para gente poder se conectar e entender o outro. Durante muito tempo, essa história foi uma história de destruição e exploração de muita gente e de muita coisa. Mas hoje, tem muita gente vibrando que essa história seja de criação e conexão entre tudo e todos. Pode parecer utópico, pode parecer um sonho. Mas como diria o poeta, "sonhe em chegar na lua, que você talvez alcance o topo das árvores. Sonhe em chegar no topo das árvores e você talvez nem saia do chão".
Eu escolho a lua. Eu escolho o universo inteiro. Eu escolho contar uma história melhor. Uma história com todos vocês nela.
Por que o mundo sempre acaba. Mas ele também sempre renasce. E dessa vez, ele vai ser melhor.
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