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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Harry Potter contra a transfobia: Ator sai em defesa das mulheres trans

O ator Daniel Radcliffe - Reprodução
O ator Daniel Radcliffe Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

07/11/2022 06h00

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Daniel Radcliffe, o astro de Hollywood mais conhecido como "Harry Potter", mais uma vez se posiciona contra a transfobia, desta vez, em uma carta aberta ao "The Trevor Project" (organização norte americana que apoia a juventude LGBTQIAPN+), o ator declara no título: mulheres trans são mulheres.

O posicionamento do ator, assim como de outras pessoas que fizeram parte da filmografia de Harry Potter, é importante pois, caso você não saiba, a autora da série de livros que inspirou os filmes, J.K. Rowling, que é uma das pessoas mais ricas do mundo, é abertamente transfóbica e vem disseminando seu preconceito há anos em declarações nas redes sociais e em entrevistas, que ofendem, atacam e desvalidam a existência de pessoas trans.

Em uma de suas mais recentes declarações, cerca de um mês atrás, J.K. Rowling, ao ser questionada em um tweet como dormia à noite sabendo que havia perdido uma grande audiência que consumia seus livros, ela respondeu: eu leio meus extratos de royalties mais recentes, e descubro que a dor some rapidinho. Dando a entender que qualquer audiência que ela perdeu, não fez diferença no montante que ela continua lucrando por conta da franquia, de marcas e empresas que ainda fazem uso dela.

Os fãs sabem que J.K. Rowling é transfóbica, a comunidade trans e LGBT+ também, os atores da série de filmes que deu vida ao famoso bruxo nas telas, também. Em resumo, qualquer pessoa que esteja ligada à Harry Potter de alguma forma, no mundo inteiro, conhece muito bem os posicionamentos da autora, que não poupa esforços para se opor à luta por direitos das pessoas trans.

E o que acontece com ela? Há anos, absolutamente nada. Como ela mesmo diz, está cada vez mais rica.

Agora, exatamente na mesma época, Kanye West, rapper e, outra das pessoas mais ricas do mundo, fez declarações antissemitas em suas redes. Algo que aparentemente também não é novidade, à medida que vão aparecendo ex-colegas ou ex-funcionários alegando que tais falas e posicionamentos eram frequentes. Em novas notícias vamos sabendo que Ye, como também é conhecido, costumava elogiar Hitler e o nazismo em reuniões de trabalho e na frente, inclusive, de pessoas de origem judaica.

Porém, para Kanye West, desde a declaração aberta em suas redes, algumas coisas mudaram. O cantor teve sua conta no Twitter suspensa, surgiu uma forte pressão social em cima de patrocinadores e parceiros do cantor pedindo por um posicionamento, e ele teve inúmeros contratos com diversas marcas e empresas rompidos, em declarações de que tais marcas e empresas não apoiam nenhum tipo de preconceito.

Dentre tais empresas, a gigante Adidas, que viu suas ações despencarem, ao romper a parceria de anos com o rapper, e sair já em 2022 com um prejuízo de 250 milhões de euros em faturamento.

Não importa quantos milhões "se perca", este é o posicionamento correto que esperamos que todas as marcas tenham, ao não ser complacentes com qualquer tipo de discriminação "só porque" quem a representa faz a marca lucrar muito dinheiro.

Então por qual motivo a luta contra o preconceito é seletiva, e J.K. Rowling continua intocável, ainda que declaradamente anti-trans? Por que a franquia Harry Potter segue em suas mais distintas derivações, a enriquecendo mais ainda?

Por que ainda toleramos alguns preconceitos? Se não é pelo preço, será que é porque não achamos tão grave assim?
Como conseguimos nós, colocar a cabeça no travesseiro e dormir, sabendo que não estamos fazendo nada contra isso?