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Adidas reata parceria com Kanye West mesmo após falas nazistas do rapper
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Eu sou aficionado por tênis e pela cultura sneaker, um chamado, com orgulho, de "sneakerhead". Por isso, fui fiel à coleção de tênis "Yeezy" da Adidas, em colaboração com o rapper pra lá de polêmico Kanye West. Essa colaboração durou quase uma década, até Ye, como é agora conhecido o rapper, mostrar seu lado mais intolerante.
Em outubro de 2022, Kanye West ultrapassou qualquer limite e iniciou uma série de aparições públicas, com discursos de ódio, comentários antissemitas, críticas ao movimento Black Lives Matter, apoio a movimentos supremacistas brancos e elogios a Hitler.
A população mundial, principalmente a comunidade judaica, ofendida com tais discursos, pressionou a Adidas a se posicionar sobre as falas de seu maior parceiro em termos de lucratividade.
Com a pressão social sobre a marca, a Adidas anunciou no final do mesmo mês de outubro o fim da parceria com o cantor, por meio de um comunicado: "A Adidas não tolera antissemitismo e qualquer outro tipo de discurso de ódio. Os comentários e ações recentes de Ye foram inaceitáveis, odiosos e perigosos, e violam os valores da empresa de diversidade e inclusão, respeito mútuo e justiça".
Um fato curioso sobre a própria Adidas é que um de seus fundadores, Ad Dassler, fez parte do partido nazista, e a fábrica da empresa foi "obrigada" a produzir munições no fim da guerra.
Talvez o que a Adidas não esperasse fosse o impacto financeiro causado à marca pela impossibilidade de comercializar os produtos já produzidos e estocados da marca Yeezy. A marca informou que perderia até 1,3 bilhão de dólares de sua receita anual devido à impossibilidade de venda dos produtos, e que pela primeira vez em três décadas, a Adidas teria prejuízo em sua receita.
Mesmo tentando impulsionar suas outras colaborações, como as coleções assinadas pela Beyoncé e os modelos de tênis lançados em conjunto com o rapper Bad Bunny, nada foi capaz de mostrar uma luz no fim do túnel para a companhia se reerguer.
E então a Adidas negocia o que deveria ser inegociável e retoma, no início deste mês de junho de 2023, a parceria com Kanye West, colocando diversos modelos da coleção Yeezy à venda mundialmente, que se esgotaram rapidamente.
Podemos rasgar o comunicado da Adidas ao rescindir com Ye. Quando a cultura de diversidade de uma marca é "apenas para burguês ver", rapidamente identificamos que "diversidade" é um pilar negociável em uma organização. Explico: imagine se um contrato entre Adidas e um fornecedor tivesse sido rescindido pela descoberta de uma fraude financeira, por exemplo. Você consegue imaginar a marca reatando este contrato? Com certeza não. Quando o assunto é diversidade, uma organização que finge se importar com essa pauta encontra rapidamente caminhos para "barganhar" os termos, acordos e e posicionamentos, se assim lhe for conveniente.
Para não pegar tão mal, as vendas da coleção Yeezy foram divulgadas com a informação da própria Adidas que parte das vendas seriam repassadas a instituições que combatem discriminações como LGBTfobia, racismo, antissemitismo e outras.
Porém a Adidas não especifica qual a porcentagem dessas vendas seriam repassadas, e nem para quais instituições, sendo impossível metrificar o quanto de impacto positivo essa ação gera. Na minha opinião, a marca só arrumou "uma desculpa" para voltar a comercializar os modelos da coleção, recuperar o prejuízo financeiro, e continuar lucrando em cima de uma colaboração de muito sucesso no mundo.
E assim como a gente "não desvincula o autor da obra", fica bem complicado, para quem tem o mínimo de consciência social, colocar dinheiro na mão de quem acredita que determinados grupos de pessoas no mundo são inferiores. E não é pouco dinheiro: a estimativa é que Kanye West lucre 15% do valor em cima das vendas de qualquer item da coleção.
Com esse movimento, a Adidas se salva financeiramente. Mas a que preço? Eu, honestamente, e literalmente, mesmo enquanto sneakerhead, não estou disposto a pagar pra ver.
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