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Noah Scheffel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A Farofa da Gkay deveria ter azedado, mas o racismo venceu novamente

Gkay - Reprodução/ Instagram
Gkay Imagem: Reprodução/ Instagram

13/06/2023 11h05

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Para quem não conhece, Gessica Kayane, conhecida como Gkay, é uma humorista e influenciadora que desde 2017 comemora seu aniversário em uma festa conhecida como "Farofa da Gkay". Desde a primeira edição, a influencer e o evento têm se tornado cada vez maiores, durando vários dias e contando com a participação de diversas celebridades, atrações musicais e outras pessoas influenciadoras, todas convidadas pela aniversariante.

Desde a primeira edição, realizada em 2017, a influencer conseguiu transformar a festa em um megaevento, com uma line-up de pessoas convidadas dignas de um festival patrocinado ou organizado por uma marca milionária. Na segunda edição, em 2022, convidou mais de 500 pessoas, atingiu mais de 60 milhões pessoas, conseguiu atrair marcas (como Vivara, XP Investimentos, Avon, Listerine, Latam, Instagram) e uma transmissão ao vivo do evento pelo Multishow e Globoplay. Imagine celebridades como Anitta, Luíza Sonza, Wesley Safadão, Ivete Sangalo em mega estruturas como de grandes festivais de música.

Porém, para a Farofa deste ano, Gkay resolveu anunciar que havia contratado um "curador de diversidade" para que seus próximos aniversários contassem com 50% de convidados negros até o ano de 2026. E foi aí que a farofa desandou pro lado errado.

Gkay apresentou como curador de diversidade Antonio Isuperio, conhecido nas redes como ativista das causas LGBTQIAPN+ e do movimento negro. Para falar sobre a iniciativa, ela convidou todes para uma live que ocorreria quinta passada (8), às 20h.

A live acabou não acontecendo por uma chuva de críticas a iniciativa de Gkay. A principal delas foi a lembrança de que a Farofa era uma festa e que para ter mais pessoas negras no evento, bastava a Gkay convidar, não precisaria de uma ação afirmativa para isso.
Mas, como pudemos ver no caso mais recente de racismo contra o jogador Vini Jr., as marcas que patrocinam eventos ou pessoas racistas estão começando a receber uma enxurrada de críticas e cobranças por atitude.

Gkay, muito esperta, se antevendo e entendendo que as marcas vão ser cobradas em qualquer evento que patrocinam, então, foi responsável por orquestrar toda essa iniciativa "por mais pessoas negras" em uma festa de uma forma marketeira. Mas optou por ficar fora do assunto quando viu as críticas.

A meta, então, parece ser uma: arrecadar mais patrocinadores e proteger o evento de qualquer tipo de repercussão negativa futura.
Mas também cabe um alerta: muitas críticas ao evento foram direcionadas a questionar a cor do curador de diversidade contratado por Gkay, Antonio Isuperio, que teve fotos de criança vasculhadas em redes sociais para tentar legitimar ou deslegitimar sua negritude por pessoas dos movimentos negros.

O colorismo é uma pauta que discute, dentro da comunidade negra, os acessos e privilégios que uma pessoa negra de pele mais clara possui se comparada a uma pessoa negra de pele mais escura (retinta).

Nesse contexto, é claro que existe uma "auto identificação", onde cada indivíduo se declara racialmente coomo negro, branco, indígena?

Mas todo esse alvoroço, no entanto, não teve consequência negativa nenhuma para Gkay. Aqui entra a crueldade do pacto da branquitude. Podemos e devemos discutir o colorismo e como entender as estruturas de poder e acesso que vêm com ele. Mas cá entre nós, por que estamos gastando mais energia nesse lado do rebuliço, e não no privilégio branco de Gkay?

Nesse "toma lá, dá cá", a influencer branca apagou a publicação e deixou o racismo estrutural vencer novamente.