Noah Scheffel

Noah Scheffel

Opinião

Diversidade corporativa: evento une profissionais trans a recrutadores

Quase 90% da população trans e travesti se encontra fora do mercado de trabalho formal, de acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Agora tente calcular mentalmente a quantidade de notícias de empresas em busca de talentos em áreas como tecnologia e inovação e como não conseguem preenchê-las.

Pensando nisso, criamos, eu e mais representantes de outras organizações e startups sociais voltadas para inclusão e diversidade, o DiverseMatch, para ser o maior evento de speed hiring (ou contratação a jato) de talentos trans já visto no Brasil.

A iniciativa contou comigo enquanto fundador do EducaTRANSforma, com Tamara Braga e Pedro Naegele, puxando a frente da equipe do DiverCidade Impact Hub, Pedro Sampaio, consultor na TREE Diversidade e fundador do projeto social IMPACTRANS, Niodara Farias, fundadora do Novas Narrativas, Rafa Mores, fundadore da ELU diversidade, Mikkel Mergener, da Merg Consultoria, e Pimenta, produtor e representante da Casa Neon Cunha. Uma equipe formada majoritariamente por pessoas trans, travestis e não binárias.

A importância dessa representatividade formou um evento de quatro dias de conteúdos e treinamentos preparatórios para pessoas recrutadoras e para pessoas transgênero, oferecidos de forma online durante a semana. Na última sexta-feira (26), em alusão ao mês da visibilidade trans que é celebrado hoje (29), ocorreu o evento em que pessoas trans apresentaram suas propostas para pessoas recrutadoras de mais de 100 organizações.

Foram mais de 50 pitches apresentados em São Paulo, na sede da Meta, gigante da tecnologia, que entrou como uma das parceiras para proporcionar o espaço para o evento transformador.

Por trás dessa colaboração que fez o evento acontecer está a vontade de mudar os números relacionados à contratação e ocupação de pessoas transgênero no mercado de trabalho. E o evento foi um sucesso.

"Participar do DiverseMatch foi uma experiência transformadora para mim. Tive a oportunidade de aprender com profissionais incríveis, conhecer histórias inspiradoras de pessoas de diversas identidades e fortalecer meu compromisso com a inclusão. Por ser uma mulher preta, sempre foi mais confortável para mim atuar em pautas raciais, mas o DiverseMatch me mostrou na prática que a inclusão vai muito além", disse a recrutadora Joyce Leite, uma mulher cis aliada, Multiplicadora B em formação e Analista de Recursos Humanos Generalista na Agência Ecomunica. "É essencial que os RHs estejam envolvidos nas pautas de inclusão e equidade, ajudando as empresas a criarem uma cultura diversa e inclusiva. Escolhi a Ecomunica, uma agência de comunicação certificada pelo Sistema B, porque lá posso ser uma agente de transformação ainda mais forte e preparada. Hoje me sinto mais impulsionada a realizar processos seletivos mais inclusivos e sem vieses, focando nas habilidades das pessoas candidatas, independente da sua identidade", completa.

As pessoas transgênero que participaram trouxeram diversos feedbacks positivos sobre o evento em sua completude, inclusive citando a importância de um happy hour com atrações musicais representativas da comunidade transgênero, como a cantora Boombeat.

Nico Guedes, não binárie, conta: "Foi um encontro excelente. Quando falamos em empresas abraçando a diversidade é preciso que ela ocorra para além do telão das propagandas de junho [mês do Orgulho LGBTQIA] ou datas comemorativas. É fundamental que exista também nos ambientes internos. O DiverseMatch possibilita essa porta de entrada e dá voz às cores que vemos nas ruas e que por muito tempo foram estigmatizadas. Só tenho a agradecer aos organizadores por fazerem a diferença e pelo cuidado em criar diálogo e conhecimento entre participantes e recrutadores, sempre tendo em mente a inclusão de todes ali.".

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Enquanto Vand Sales, que usa pronomes neutros, e é desenveolvedore de games generalista, compartilha que foi com mais três pessoas amigas, todas neuroatípicas e que estavam preocupadas em como o evento seria. Uma delas chorou no dia anterior ao evento sem saber o que poderia falar de si mesma. "Quanto mais tempo do evento foi passando, mais foi melhorando e ela conseguiu sair do pitch sorrindo com um textinho que ninguém ajudou. Em certo ponto eu nem liguei pra conseguir algo, porque já estava muito bom ver discursos incríveis e representatividade", diz Vand.

Para Miguel Bernardo Vila Pereira, 20 anos, homem trans, estudante de Ciência Política, "a experiência foi avassaladora, impactante mesmo. Nunca tive a oportunidade de estar em um espaço transcentrado onde me sentisse tão acolhido e confortável. Foi um evento enorme que me deu não só esperança como pessoa trans, como também me deu uma enorme bagagem para conseguir construir uma nova trajetória profissional de muita potência. Foi maravilhoso do começo ao fim, agradeço muito pela oportunidade, ter conhecido a Meta em um evento para a comunidade trans foi pra lá de especial. Incrível demais!"

Antonia Luz, 29 anos, mulher trans carioca que atua em marketing e social media, deu o seguinte depoimento:

Todas elas pessoas transgênero que participaram da iniciativa a fim de encontrar o match perfeito para trabalhar na organização de seus sonhos.

Para além de toda a potencialidade e importância de um evento como este para mudar as estatísticas relacionadas à exclusão de nós, pessoas transgênero, de todos os espaços sociais, o DiverseMatch ainda proporcionou que se criassem redes de contato e apoio entre as pessoas transgênero participantes do evento.

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Como uma possibilidade de expandir o impacto do evento, a comissão está disponibilizando o HUB do EducaTRANSforma para que todas as pessoas transgênero inscritas que participaram presencialmente ou online possam gravar seus pitches de apresentação e fazer o upload na plataforma, a fim de que as pessoas recrutadoras tenham acesso a eles e possam encontrar os talentos que buscam para as vagas que possuem em aberto em suas organizações.

Uma iniciativa como essa é importante para mudar a realidade da nossa comunidade e nos fortalecer enquanto rede e pessoas com uma potência que somente quem estava presente no evento pôde ver para crer. Mas que todas as pessoas saibam que, para além do que foi visto nesta semana que formou o DiverseMatch, as pessoas transgênero são gigantes em suas trajetórias e jornadas. Gigantes como o logo do evento que preencheu uma das maiores empresas de tecnologia do mundo na área mais corporativa da cidade e também estampou toda lateral de um prédio no Largo do Arouche na capital paulista.

Neste Dia Nacional da Visibilidade Transgênero, que fique o recado para pessoas cisgênero: reconheçam a nossa grandiosidade e a nossa potência, e nos deem oportunidades para demonstrá-las.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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