Noah Scheffel

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Opinião

Você pode estar convivendo com um autista adulto sem saber

No mundo de hoje, a diversidade na sociedade e no local de trabalho é mais valorizada do que nunca. No entanto, muitas vezes negligenciamos ou não compreendemos totalmente uma parte importante dessa diversidade: as pessoas autistas adultas. Enquanto a conscientização sobre o autismo aumenta, é crucial entender as experiências e desafios únicos enfrentados por esses indivíduos, especialmente quando se trata de entrar e prosperar no mercado de trabalho e na sociedade em que vivemos.

As pessoas autistas adultas são aquelas que foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que atingiram a idade adulta. O autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, interação social e comportamento. No entanto, é importante salientar que o autismo é altamente variável e pode se manifestar de maneiras diferentes em cada indivíduo, inclusive, nos adultos.

Talvez você ache que não conhece nenhuma pessoa autista adulta porque muitos de nós precisamos esconder quem somos para conseguir chances de acesso a direitos como moradia, empregabilidade, alimentação, saúde e tantos outros que parecem de fácil acesso para pessoas que são neurotípicas (aquelas que não possuem nenhum transtorno de desenvolvimento neurológico).

Esse ato de esconder o autismo e tentar "se passar" por uma pessoa neurotípica é extremamente violento e se chama "masking". É o ato de mascarar quem nós somos para que sejamos aceitos em espaços onde, por preconceito e desinformação, se falarmos que somos autistas, somos excluídos. Frases como "você não parece autista" carregam um soco no estômago, pois imagine você o que é viver tentando parecer algo que não se é, para tentar ter amigos, por exemplo.

Um dia desses participei de um churrasco entre vizinhos do condomínio onde resido e o assunto "autismo" surgiu. Eu não escondo minhas características, mas também não saio falando se não vejo motivo. Naquele momento no jantar, alguém que sabe que sou autista comentou e as demais pessoas presentes, amigas recentes que desconheciam o meu diagnóstico, ficaram surpresas com a informação. Uma das afirmações foi de que eu não tenho dificuldade de interagir socialmente. Quem dera fosse verdade. O que na verdade faz com que pareça que eu não tenho essa dificuldade é um sofrimento interno em tentar parecer com as demais pessoas, conversar como as demais pessoas, interagir como as demais pessoas. Aos meus queridos vizinhos peço até desculpas pela resposta curta e grossa que dei: "Tenho sim dificuldade de interação social, pois, por mim, eu já teria ido embora faz horas, apesar de gostar muito de vocês."

E aqui vem um tópico muito sensível para nós, autistas adultos. Sermos compreendidos como somos, sem sermos julgados se formos embora mais cedo pois a energia social acabou, ou se não comparecermos a algum evento pois estamos mentalmente exaustos. Nenhuma dessas opções, ou quaisquer outras atitudes, significam que não gostamos das pessoas que dizemos amar. Só precisamos que elas nos amem como nós somos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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