Noah Scheffel

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Opinião

O que você tem a ver com o mês contra a LGBTfobia?

O Mês Internacional Contra a LGBTFobia começa nesta quarta-feira (1º), e imagine você ser uma pessoa pública, que lida com agrados e desagrados todos os dias, e como isso afeta a sua saúde mental. Agora pare para pensar como são atingidas as pessoas LGBTQIAPN+ que fazem parte desse recorte de pessoas públicas e o quanto elas são atacadas com comentários de ódio destilados não só pelo público preconceituoso, mas por todas as esferas da nossa sociedade.

Segundo a OMS, o Brasil possui uma das maiores taxas de pessoas com depressão no mundo, atingindo 5,8% da população brasileira. O quanto de saúde mental prejudicada estamos falando aqui que são causadas por LGBTfobia? A LGBTfobia, também conhecida como homofobia, bifobia, transfobia ou qualquer outro termo que abarque a discriminação contra pessoas LGBTQIAPN+, refere-se ao preconceito, discriminação, ódio ou violência direcionados a indivíduos com base em sua orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero.

A LGBTfobia pode se manifestar de diversas formas, incluindo discriminação, violência física, violência psicológica e estigmatização social e cultural.

Infelizmente não existem estudos específicos sobre a população LGBTQIAPN+ que nos deem exatamente o tamanho do estrago que é feito na saúde mental das pessoas desse recorte, mas recentemente tivemos dois exemplos do quanto nem mesmo a fama (ou até mesmo ela) é capaz de fazer com que a comunidade passe por extremos relacionados à saúde mental.

Gloria Groove, ícone LGBTQIAPN+, rapper e cantora drag queen, anunciou em seu perfil no X que tirou um tempo para si e que este tempo lhe fez muito bem para que pudesse retornar aos palcos e aos trabalhos. Contou que esse hiato também foi construção em sua carreira.

Já Linn da Quebrada, travesti, multi artista e ex-BBB, anunciou que está se afastando de todos os trabalhos para tratar algo com que vem lutando há muito tempo: a depressão. Linn comunicou através de sua equipe que este tempo será para cuidar de sua saúde física e mental, pedindo a compreensão de todas as pessoas.

Quando falamos da população LGBTQIAPN+ no Brasil estamos falando de 12% da população, 19 milhões de pessoas, que passam diariamente por situações de violência e discriminação, que afetam diretamente nossa saúde mental. E, infelizmente, as altas taxas de depressão no país são causadas por problemas reais que são negligenciados pelos poderes públicos. Estamos falando de barreiras ao acesso a serviços de saúde mental, incluindo falta de profissionais qualificados, falta de infraestrutura adequada e estigma associado aos transtornos mentais. Isso pode dificultar o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz da depressão. Soma-se isso ao preconceito de atendimento ao público LGBTQIAPN+ e o que temos é infelizmente o retrato de sofrimento que só quem é LGBTQIAPN+ conhece de perto.

Que neste mês que se inicia hoje possamos pensar em todas as formas de discriminação que ainda cometemos mesmo que sem querer, como brincadeiras ofensivas, exclusões, perguntas invasivas, e as coloquemos no mesmo lugar de dor que os comentários propositais de ódio e as violências físicas causam em uma pessoa LGBTQIAPN+, e paremos de reproduzir tanta violência que nos afasta da saúde mental que todas as pessoas merecem ter.

Em tempo

Agora no mês de maio, o CATS (Coletivo de Artistas Transmasculines), em parceria com a Lagartixa Preta Produções, promove um mês inteiro em São Paulo, nas quartas-feiras às 19 horas, atividades e experiências voltadas para enaltecer o trabalho de pessoas transmasculinas.

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Com a promessa de uma experiência única que transcende fronteiras e celebra o diálogo e o trabalho de artistas transmasculines de várias linguagens, "VOZES DA RESISTÊNCIA - TRANSMASCULINIDADES NAS ARTES" trará mesas de conversa provocativas sobre temas como representatividade, empregabilidade e transcestralidade transmasculina nas artes e trará performances artísticas cativantes, proporcionando um encontro vibrante, não só para pessoas transmasculinas, mas para todo o público.

VOZES DA RESISTÊNCIA - TRANSMASCULINIDADES NAS ARTES conta com a realização do Centro Cultural São Paulo e é um evento gratuito. Você pode buscar mais informações no perfil do CATS. É mais do que um simples encontro artístico; é uma celebração da identidade, da diversidade e da expressão artística. As mesas de conversa envolventes oferecerão uma visão única das experiências, desafios e triunfos de artistas transmasculines no mercado de trabalho. Em seguida, as luzes se acenderão para performances ao vivo, destacando a riqueza de talento e criatividade presentes na comunidade.

Mais informações sobre o evento:

DIA 1 - 1º de maio

Show Winnit (feat. Joseph Rodriguez DJ)
Formato MC e DJ
Duração: 45 min.
Para abrir nosso evento em grande estilo, trazemos a voz potente de Winnit. Vencedor
da primeira edição do Red Bull FrancaMente, Winnit é o único MC que já chegou para a disputa de 2021 com vaga garantida na Final Nacional. Transmasculino preto da Favela do Pantanal em Diadema, se tornou revelação do freestyle e vem ganhando o Brasil. Ao lado dele, Joseph Rodriguez DJ, também conhecido como Transmasculino do Guetto e todo seu talento.


DIA 2 - 8 de maio

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Mesa 'O corpo transmasculine fluindo entre gêneros'
Convidados: Marco Chavarri e Fernando Aquino
Mediação: Leo Moreira Sá
Duração: 1h30
Uma mesa performance em que Marco e Fernando, artistas performers, falam sobre a fluidez da performance de gênero fora e dentro do palco, expectativas e revoluções narrativas, tudo isso enquanto vão se transformando em suas drags, DFenix e Pamella Saphic.

Show DFenix e Pamella Saphic (feat. OBRUN)
Duração: 35 min.
Depois da mesa, nossas drags montadíssimas se juntam à OBRUN e seu beat pra um magnífico e imperdível show completamente performado por pessoas transmasculinas.


DIA 3 - 15 de maio

Mesa 'Transcestralidade transmasculina - Passado e Futuro'
Convidados: Kairos Castro e Sereno S. G. Repolês
Mediação: Daniel Veiga
Duração: 1h30
O poeta Kairos Castro, pesquisador da obra de Anderson Herzer (primeiro transmasculino a ser publicado no Brasil) e o pesquisador Sereno S. G. Repolês (criador do podcast Transmasculinidades no Curso do Tempo, programa sobre
velhices transmasculinas) falam da importância de resgatarmos a história de nossa comunidade sem perdermos de perspectiva a importância de nos mantermos seguros e bem em nossa velhice.

Fragmento teatral - SOLITUDE
Ficha técnica:
Leo Moreira Sá: ator, dramaturgo e lighting designer
Daniel Veiga: dramaturgismo
Oru Florydo Fogo: Orientação Cênica
Natália Mallo: Colaboração Artistica
Mari Crestani: Sound designer e projeção
Rodolpho Correa: Pesquisa de conteúdo de imagens
Duração: 30 min.
O multiartista transartivista Leo Moreira Sá apresenta trecho do processo criativo de seu novo solo autoral, SOLITUDE, em que revisita memórias afetivas e explora as consequências psíquicas da invisibilidade social e o isolamento. Neste novo trabalho, Leo nos convida a conhecer sua trajetória de vida singular e a pensar a solitude como uma possível solidão positiva e uma conquista de si.


DIA 4 - 22 de maio

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Mesa 'O protagonismo de pessoas transmasculinas nas artes'
Convidados: Dante Preto e Bernardo de Assis
Mediação: Rodolpho Correa
Duração: 1h30
A mesa convida dois atores para destacar a relevância da visibilidade e representatividade transmasculina no meio artístico, contribuindo significativamente para a empregabilidade em nossa comunidade e para ampliar e aprofundar o contato de nossa comunidade com o público em geral.

Show All Ice apresenta 'Universo Nu' (feat. Joseph Rodriguez DJ)
Duração: 45 min.
Formato MC e DJ
Álbum que leva o ouvinte para uma experiência muito livre musicalmente passando por diversos ritmos afro diaspóricos. Descolonizando o fazer musical vem trazendo corpos transmasculines, corpos negros para ascensão.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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