Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Voluntários criam rede para escutar pessoas por todo o país
Se em uma viagem compartilhada por app entrar uma palhaça — sim, palhaça, de nariz e tudo —, saiba: não é sonho (nem pesadelo, para os que não gostam de palhaço). Bons palhaços não suportam piadas grosseiras. Bons palhaços não vivem de piadas, mas de encontros positivos, construídos com afeto e escuta. E é justamente para fazer fluir a escuta que Monica Malheiros, a palhaça Solenta Sonada, se aventura com estranhos em pleno trânsito, escutando (e possibilitando que sejam escutados) causos de passageiros e motoristas por São Paulo. Num mundo de pressas e medos, será que temos nos permitido viver encontros verdadeiros ou inesperados? A ideia de Solenta é dar um chacoalhão afetivo que nos lembre de que não devemos desperdiçá-los.
Segundo a OMS, cerca de 90% da população mundial já sofreu de estresse relacionado à reclusão e à sensação de falta de conexão social, e a principal causa de suicídios (entrelaçada a outros fatores) é justamente a solidão. Estamos aprisionados entre muralhas que vedam nossa visão para o outro, e bolhas que nos refletem de forma distorcida. Muros e bolhas não nos convidam a estar na boa companhia de si mesmo, mas nos condenam à solidão.
A boa notícia é que iniciativas como as da palhaça Solenta não são poucas, e a tendência é que não sejam mais isoladas.
Em São Paulo, a escola Carandá VivaViva gentilmente sediou o primeiro encontro de pessoas e grupos que praticam a escuta de forma voluntária e sistemática. Saímos de lá com um nome: Escutadores Coletivos. É a trama inicial de uma rede com vocação infinita de grupos, pessoas e projetos. E simplicidade é a palavra-chave.
Escuta só quem também já é escutador por aí:
O grupo Aus Ouvidos, de Jacareí, formado por uma psicóloga, um palhaço e um educador/sambista, promove rodas de samba, palhaçaria e escuta.
No CCSP, a Oficina Clínica de Psicanálise abre espaço para a escuta, entendendo que é preciso democratizar a psicanálise, tornando-a acessível a todos.
A Playmonday - Transformadores de Instantes reconecta pessoas através do brincar. O movimento já foi realizado em vários países, e em Portugal, por ser realizado em unidades de saúde, ganhou o nome Playmonday - Care and Fun.
Em São Paulo, o grupo Escuta na Grama, formado por psicólogos, oferece plantão aberto ao público uma vez por mês. No primeiro plantão, apenas duas pessoas foram atendidas. No segundo, houve até lista de espera.
O Música do Círculo mobiliza seu repertório de percussão corporal, voz e movimento para promover escuta e conexão entre pessoas.
O Sidewalk Talk, idealizado nos Estados Unidos por uma psicanalista e comandando por uma psicóloga no Brasil, conta com voluntários (que não precisam ser da área de psicologia), que escutam transeuntes por São Paulo.
A esta altura, você já deve ter notado que existe uma enorme demanda por espaços/momentos de escuta e que não existe uma única forma de escutar - nem a melhor ou mais eficiente. O fundamental é a intenção genuína de escutar, colocada em prática do seu jeito, com seu repertório. Para saber mais informações, horários e locais, acesse a nossa página.
Como escutador ou como escutado, convidamos você a juntar-se à rede.
Há muita gente precisando de encontros acolhedores. Meu amigo e psicanalista Christian Dunker sempre diz que há muito menos especialistas da área de saúde mental do que gente precisando de escuta.
Quanto mais pessoas se dispuserem a promover conexão, melhor.
Parafraseando Drummond, escutar se aprende escutando. Agradecemos por nos ter escutado até aqui.
*Cláudio Thebas é educador, palhaço e escritor, não necessariamente nessa ordem. É o criador da web serie Fala que Eu Não Te Escuto e autor de O Palhaço e o Psicanalista - como escutar os outros pode transformar vidas, escrito em parceria com o psicanalista Chrstian Dunker (Ed Planeta).
*Luiza Thebas é editora, coordenadora editorial, redatora e preparadora de texto há mais de dez anos em sua empresa, a Revisionário. Há cinco anos, é revisora das revistas Trip, Tpm, revista GOL, entre outras, pela Trip Editora.
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