Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Somos todos Presidentes de Rua
No dia em que o mundo homenageia o trabalhador, olho para os lados e vejo, através do véu escuro da pandemia, dois Brasis distintos. Um ali adiante, em pacífica quarentena, fazendo home office, abastecido de alimentos e distração pela TV, celular e internet, máscaras e álcool gel à vontade. E outro Brasil, o dos 13 milhões de favelados, sem dinheiro, sem comida, sem sequer água para lavar as mãos, onde a pandemia revela e acentua ainda mais a diferença social.
O desemprego que já era crescente nos últimos tempos vem acelerado pelo momento, e o trabalhador informal tem de arriscar a vida diariamente tentando, sem proteção alguma contra o vírus, manter a família que deixou no barraco. Os moradores das comunidades que vivem sobre córregos a céu aberto, sem saneamento básico, onde a fome já existia, agora caminham para a miséria absoluta. Álcool gel e máscara são artigos de luxo, inacessíveis para essa população.
Mais uma vez, a falta de políticas públicas vai gerar muitas mortes nas favelas. É preciso ter empatia e olhar para o próximo. O aumento da desigualdade é um dano para todos os brasileiros.
Não existe crescimento possível em qualquer aspecto quando não é para todos. Precisamos criar modelos econômicos solidários.
A experiencia dos Presidentes de Rua que estamos vivendo em Paraisópolis, com moradores voluntários representando e atendendo cada região, tem nos ajudado muito a construir de forma eficiente e generosa uma grande rede de apoio para enfrentarmos a crise.
Juntos, podemos enfrentar essa pandemia e seguir com as nossas vidas. Não como era antes, mas talvez até num modelo melhor. Retomar gradualmente as atividades de uma forma mais coletiva e humana, a nossa "nova normalidade" será com um país mais unido, produtivo e confiante.
Que o verde da nossa bandeira seja o verde da esperança. Que as nossas cores sejam o motivo da nossa força. Que novamente tenhamos orgulho de viver no Brasil. Para isso, temos que exigir de nossos representantes ações efetivas para todos. Precisamos de políticas públicas bem estruturadas que atendam os direitos de cada cidadão.
Hoje completam cinco meses da morte dos nove jovens em Paraisópolis. Mais uma data marcada pela injustiça e o descaso com a população carente. É preciso união se quisermos sair do lugar de país definido pela desigualdade social.
Nesse momento em que o vírus nos tira o ar, peço que somemos forças para recuperar o fôlego. Tudo isso vai passar. Se formos conscientes, vamos levar um aprendizado. O de que só a união vai permitir que dessa tragédia surja um só Brasil, justo, forte e livre.
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