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Importante lembrar que Amazônia é feita de pessoas que têm muito a ensinar
Ser uma criança negra de pele escura me deu a possibilidade de nunca ter dúvida sobre a minha negritude, mesmo tendo crescido como minoria no interior do Paraná. Meu processo de aprendizado sobre o que é ser negro no Brasil, racismo estrutural e a historia da potência sobre ancestralidade, no meu caso, se deu na fase adulta.
Mas a catarse aconteceu nos últimos três anos que tenho tido a oportunidade de conhecer pedacinhos de seis dos nove estados da Amazônia Legal Brasileira, sim a Amazônia possuis nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Faço questão de citá-los por que eu não aprendi na escola e talvez essa ignorância nos coloque tão distantes deste território e do que acontece nestes brasis.
Viajei de barco por quilômetros nos rios imensos do Pará e do Amazonas, pelas estradas do Amapá e do Maranhão, visitei as fronteiras no Acre. Me emocionei muitas vezes ouvindo as histórias antes de desligarem o motor que fornece energia para muitas comunidades onde ainda não chegou a luz elétrica, nesses vilarejos minhas crenças foram espandidas e fortelecidas.
Com essas comunidades vivi o que há de mais ancestral, o contato com a terra, as tecnologias de aprendizados, o respeito aos mais velhos e o olhar para as crianças como pessoas inteiras, para muitos indígenas não faz sentido perguntar para as crianças o que elas vão ser quando crescer, pois elas já são seres inteiros.
Me surpreendi com a diversidade dos povos que vi, mas minha maior surpresa foi me encontrar com a Amazônia Negra, as manifestações culturais do Marabaixo no Amapá, o Tambor de Crioula nos quilombos maranhenses e com as misturas pretoindígenas do Pará. Uma negritude potente, organizada e rural. Olhos marejados em cada chegada, abraço e escuta.
Me vi no jeito de andar das pessoas, me vi aprendendo a socar pilão com Dona Maria no Quilombo Damásio em Guimarães-MA (quando contei pra minha mãe ela me disse que minha avó também pilava café daquele jeito...).
Cada lugar que eu chegava fui me deparando com uma amazônia diversa, negra, indígena, cabocla e potente, nas benzedeiras, na feitura da farinha, no cuidado com a roça e no pretuguês: como cunhou Lelia Gonzales. Conheci um Brasil de gente que acorda cedo, que tem calos nas mãos e tem mestrado, conheci pesquisadores de suas próprias histórias ancestrais.
Essa sabedoria dos chás aprendidos de geração em geração tem cuidado da saúde de muitos, pois tomar o remédio da cidade, não impede de seguir fazendo as pajelanças.
Nos últimos meses muito tem se falado sobre a devastação deste território, mas pouco se fala das pessoas que moram por lá, são milhares de comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas, extrativistas, povos que têm resistindo e cuidado com sabedoria da floresta.
Conhecer essas pessoas me fez mais brasileira, aprendi sobre o tempo das coisas, sobre as estrelas no céu, sobre maré e banzeiro, sobre seca e cheia e as 2 estações (o inverno que é quente e úmido e o verão que é ainda mais quente!).
Tenho aprendido, convivendo com os povos da floresta, que a tecnologia está ajudando muito a nos aproximar destas realidades e a quebrar as distâncias destes brasis e desconstruir imaginários rasos e preconceituosos sobre a Amazônia e principalmente sobre quem mora no território.
Acredito profundamente que para pensar no território e todas as perdas que estamos tendo com o desmatamento, queimadas, o avanço das secas e todas a consequências no clima que estamos sentido aqui no sudeste é importante lembrar que a Amazônia também é feita de pessoas e elas têm muito a nos ensinar.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
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