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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Um só planeta: É urgente termos ações práticas contra racismo ambiental

Ausência de saneamento básico na comunidade de Vila Gilda, em Santos (SP) (julho/2020) - Ricardo Matsukawa / UOL
Ausência de saneamento básico na comunidade de Vila Gilda, em Santos (SP) (julho/2020) Imagem: Ricardo Matsukawa / UOL
Mônica Francisco

19/06/2021 06h00

Racismo Ambiental é um termo cunhado no início dos anos 1980 pelo advogado e líder negro Benjamin Franklin Chavis Jr. O conceito surge nos Estados Unidos como ferramenta contra as injustiças ambientais sofridas pela população negra americana. O Racismo Ambiental é um produto da colonização tradicional, que exerceu controle sobre territórios ocupados, com uso do poder militar e político, subtraindo direitos e bens como terra para viver e água para beber.

Mas o que Racismo ambiental, justiça climática e colapso ambiental têm a ver com a realidade da população negra brasileira? Essa é uma questão que está no cotidiano da luta dos mais pobres desse país e principalmente do povo da favela e da periferia, cuja maioria da população é negra.

A construção da cidade do Rio de Janeiro, como Distrito Federal, pelo prefeito Pereira Passos, foi o um grande marco do racismo e da injustiça socioambiental (termo que é mais usado no Brasil) em nosso país e que mantém suas marcas até hoje, com a expulsão da população negra do Centro da capital e com a destruição dos cortiços para higienização da cidade. Tal ação colocou à margem do projeto de cidade toda essa população, levando a maior parte das pessoas para as favelas e subúrbios sem nenhuma política de moradia e acesso a estruturas básicas.

Ações que reverberam em nossa estrutura social até os dias de hoje e se aprofundam num cenário em que milhões de brasileiros são jogados para a extrema pobreza, sem nenhuma política de assistência por parte do governo, em plena pandemia.

A política de desenvolvimento das cidades, que começou com reforma de Pereira Passos, se intensificou no decorrer das décadas no município do Rio de Janeiro, expulsando a população local e a colocando cada vez mais distantes dos serviços e mais próximos do processo de degradação do ambiente, sem saneamento básico e com péssima qualidade do ar. O estabelecimento do Distrito Industrial em Santa Cruz é outro grande exemplo disso, gerando a expulsão de pescadores e agricultores e uma diversidade de conflitos socioambientais.

Territórios que sofrem esses conflitos têm cor, classe e gênero, sofrendo cotidianamente com injustiças socioambientais, com falta de água potável, de estruturas de saneamento, péssima qualidade de ar e alimentos de baixa qualidade, com grande quantidade de veneno. O termo Racismo Ambiental traz também na sua origem essa questão: indústrias ou aterros sanitários são sempre projetados para ficarem próximos às populações mais pobres.

Estamos em pleno Colapso Ambiental onde a crise sanitária é apenas um pedaço da grande crise climática que vivemos. O racismo ambiental sobrecarrega a classe trabalhadora, os quilombolas, os povos indígenas e outros povos tradicionais com os danos ambientais do processo econômico, ao mesmo tempo em que usufruem menos dos produtos do capitalismo ou têm o seu direito ao usufruto da natureza subtraído. Para superar este problema é urgente que tenhamos ações práticas para a mudança do modo de produção em todos os níveis.

Devemos ser diretas na mensagem: não bastam ações individuais, temos de colocar o dedo na ferida e aprender com os povos que acreditam que nós pertencemos à mãe Terra e não o contrário.

O planeta é um só e deve ser visto com um bem comum: ou cuidamos para que todos desfrutem das riquezas existentes ou estamos fadados ao colapso, salvando só aqueles que fizeram suas fortalezas e de nada poderão desfrutar além da ganância.