Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Minha experiência como atriz em hospitais, festas e em teatros, também.
"Quem não está preparado para a festa, não está preparado para a guerra", disse Nego Bispo (Antonio Bispo dos Santos).
Eu sou atriz. Acredito que narrativas criativas podem ser oportunidades de elaboração simbólica para experiências de transformação radical.
Entre salas de ensaio, salas de aula e salas de jantar, encontrei teatralidades para expressar aquilo que não caberia somente numa única maneira de se fazer teatro.
Desde 2017, me dedico a uma pesquisa artística sobre a Morte, que se desdobrou em ações em colaboração com diversxs artistas e que, atualmente, se manifesta como uma grande festa, para a qual "A Anfitriã" nos convida a celebrar a vida. A festa é uma suspensão, uma promessa, um pretexto para imaginar e realizar alegria, abundância e prazer; assim como o teatro, a festa é a chance do encontro - talvez seja isso: escolhi multiplicar esta chance ao fazer teatro em uma festa.
"A Morte convida. Favor confirmar presença" é o nome dessa pesquisa, um convite pessoal e intransferível para estar com ela uma vez ao menos, antes de nosso certo e derradeiro encontro fatal. Tem sido uma jornada muitas vezes solitária mergulhar nesse tema tão antigo, quanto complexo. Compreender onde há morte natural, onde há genocídio e devastação ambiental, conhecer abordagens diferentes que não alienam a morte e o luto da vida cotidiana são percepções importantes para identificarmos as transformações urgentes que precisamos promover em nosso país, no mundo.
A arte é uma oportunidade rara para provocar os sentidos anestesiados e nos ajudar a voltar a sonhar, ela nos desafia e nos dá a mão neste salto mortal entre um presente dilacerante e as mudanças que desejamos; seja num palco de madeira, em vídeo pela internet, ou na rua, o(s) teatro(s), as teatralidades são espaçostempos de libertação.
Uma outra experiência de fortalecimento em arte tem sido minha atuação junto à Pronto Sorrir - uma associação cultural sem fins lucrativos, que realiza intervenções artísticas em hospitais pediátricos, interagindo com pacientes, acompanhantes, profissionais da saúde e de outras áreas do ambiente hospitalar, além de ações em outros espaços não convencionais para teatro. Somos um grupo de 8 atrizes e atores que aprende, diariamente, como fazer teatro em UTIs, corredores, salas de espera lotadas, para uma só espectadora e, assim, nos comunicamos com pessoas diferentes com quem aprendemos diferentes linguagens. Nessa troca mútua, ampliamos nossas capacidades expressivas e nossa resiliência. A Pronto Sorrir é uma aventura, teatro em constante movimento, que borra os limites que as paredes de edifícios das cidades tentam nos impor.
Faz um manacá-da-serra em flor, desde que me mudei de uma cidade muito grande para uma cidade bem pequena. Esses dias vi um mastro sem bandeira e pensei que poderiam plantar uma árvore ali, pensei também que a gente aprende coisas absurdas, como a nos identificarmos tanto com um objeto, uma bandeira por exemplo, a ponto de matar e morrer em nome de um tecido retangular; e outras coisas, como não matar e morrer em nome de um tecido retangular, nos fazem acreditar serem impossíveis...
Respiro. Respiramos. Involuntariamente antes, mas agora que nomeio a respiração, noto seu ritmo, sigo seu fluxo e imagino um coração que bate, invento que ele não teme, que você ainda está aqui comigo e acho possível seguir.
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