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OPINIÃO

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Em risco, tartarugas marinhas precisam da nossa ajuda; veja dicas

Gustavo Gomes/Coruruji
Imagem: Gustavo Gomes/Coruruji
Bruno Stefanis Santos Pereira de Oliveira, Luciana de Carvalho Salgueiro Silva e Waltyane Alves Bonfim

16/03/2022 06h00

Você mora na região costeira ou, quem sabe, visitou alguma praia nos últimos tempos? É incontestável a alegria trazida com a chegada do verão na costa brasileira, seja para habitantes locais ou visitantes.

Agora que tal imaginar como essa alegria e interesse na visitação não são exclusivos dos seres humanos? Sim, diversos animais migratórios também frequentam nossas praias nessa época, geralmente com fins reprodutivos — dentre eles, as carismáticas tartarugas marinhas.

Filhotes de tartaruga marinha caminhando em direção ao primeiro contato com o mar - Acervo Instituto Biota de Conservação - Acervo Instituto Biota de Conservação
Filhotes de tartaruga marinha caminhando em direção ao primeiro contato com o mar
Imagem: Acervo Instituto Biota de Conservação

Nos últimos anos, o número desses visitantes tem aumentado significativamente, graças a diversos programas de pesquisa e conservação conduzidos por organizações que atuam ao longo da costa brasileira e em todo o mundo. Por causa disso, aumentam nossas chances de encontrar com alguma das cinco espécies de tartarugas marinhas que temos no Brasil. Este encontro pode ser com tartarugas juvenis e adultas se alimentando, fêmeas desovando e até filhotes recém-nascidos em direção ao mar.

Você deve concordar que, neste cenário, também aumenta a responsabilidade de conhecermos a conduta esperada para não prejudicar o ciclo de vida destes animais. Então vamos conhecer algumas pequenas atitudes que podem fazer de você um agente importante para viabilizar o convívio compatível dos seres humanos com estes ilustres visitantes e, assim, contribuir para o equilíbrio de toda a fauna marinha.

Encontrei uma tartaruga marinha na praia: e agora?

São diversas as situações em que o encontro com uma tartaruga pode acontecer, por isso, uma iniciativa importante é conhecer quais são as organizações locais que trabalham com elas, para auxiliar na sua proteção.

Em algumas praias, principalmente na maré alta, você pode se deparar com pequenas ou grandes cabeças de tartarugas emergindo periodicamente à superfície para respirar. Elas estão simplesmente se alimentando, e nessa ocasião basta respeitar o momento sagrado da refeição, sem interferir, sem se aproximar, apenas contemplando a uma distância que não as assuste ou afugente.

Acontece, algumas vezes, de ser justamente neste momento que algumas são acidentalmente capturadas por redes de pesca, que é uma das principais causas de morte aguda destes animais. Pode acontecer também de elas ingerirem lixo marinho, se chocarem com embarcações a motor e aparecerem encalhadas na praia.

Nesses casos, a instituição local responsável deve ser imediatamente acionada, seja para tentativa de resgate e reabilitação do animal vivo, seja para registro e coleta de amostras biológicas do animal morto - pois, assim, essa triste ocorrência ao menos servirá para alimentar pesquisas e bancos de dados para mapeamento das mortes e suas possíveis causas.

Pessoas sem treinamento devem evitar o contato com qualquer animal silvestre, que pode representar risco para ambas as partes. Mas, se a tartaruga estiver viva, a instituição contatada poderá orientar pequenas ações seguras (como proteger do sol e manter a hidratação) para a manutenção dessa vida até a chegada do resgate.

E se for uma mamãe tartaruga saindo do mar?

Mas atenção: se for o caso de uma tartaruga adulta, caminhando em direção à parte mais distante da areia, próxima à vegetação, trata-se de uma mamãe tartaruga saindo para desovar. Neste caso, é extremamente importante manter distância e silêncio, deixando-a concluir todo o processo de desova em tranquilidade. É frequente que a perturbação humana, mesmo por inocente curiosidade, faça com que o processo seja interrompido, já que o animal interpreta toda aquela movimentação como sinal de perigo. Ah, e atenção: fotos, apenas sem flash.

Fêmea de tartaruga marinha saindo do mar para desovar na praia do Mirante da Sereia, Maceió (AL) - Acervo Instituto Biota de Conservação - Acervo Instituto Biota de Conservação
Fêmea de tartaruga marinha saindo do mar para desovar na praia do Mirante da Sereia, Maceió (AL)
Imagem: Acervo Instituto Biota de Conservação

A desova geralmente ocorre em período noturno, mas existem alguns registros esporádicos de fêmeas desovando também durante o dia, inclusive em áreas bastante urbanizadas. Qualquer que seja a situação, contatar alguma instituição que trabalha com a conservação de tartarugas marinhas também é essencial para que seja feito o registro, marcação e acompanhamento do ninho, alimentando pesquisas científicas e bancos de dados e podendo flagrar o nascimento dos filhotes.

foto 3 - Acervo Instituto Biota de Conservação - Acervo Instituto Biota de Conservação
Na imagem, é possível observar uma tartaruga-marinha desovando na praia de Jatiúca, área urbana de Maceió (AL). A desova aconteceu sob os olhares atentos de dezenas de pessoas que não interferiram com o animal
Imagem: Acervo Instituto Biota de Conservação

Como a compactação da areia, seja pelo pisoteamento ou pelo tráfego de veículos, diminui em muito as chances de sucesso no nascimento dos filhotes, o espaço em volta da marcação precisa ser respeitado, evitando a circulação de pessoas ao menos um metro ao redor dela. Na verdade, todo o trabalho de proteção e acompanhamento do ninho só é possível se a marcação colocada for mantida no mesmo lugar, pois qualquer pequena diferença é suficiente para que o ninho não possa mais ser encontrado. Então nada de retirar para usar em qualquer atividade, achando que depois pode ser recolocada no mesmo lugar, pois não é suficiente.

Se tudo der certo, após um período de 45 a 60 dias de incubação, os filhotinhos nascerão naturalmente. Esse é um momento emocionante em que as instituições de pesquisa podem sensibilizar a população, fazendo chamadas ao público para acompanhar o nascimento e o caminhar de centenas de tartaruguinhas entrando no mar pela primeira vez.

foto 4 - Acervo Instituto Biota de Conservação - Acervo Instituto Biota de Conservação
Pesquisador coloca estaca de marcação sinalizado a presença de um ninho de tartaruga marinha naquele local
Imagem: Acervo Instituto Biota de Conservação

Enfrentando obstáculos

As estimativas dizem que, naturalmente, a cada mil filhotes, apenas um ou dois chegarão à idade adulta. Nas áreas urbanizadas, mais dificuldades são adicionadas pelos seres humanos a essa já difícil jornada das tartaruguinhas: a iluminação artificial, também chamada fotopoluição.

A iluminação artificial inibe a mamãe tartaruga de desovar, pois a expõe a predadores, e ela precisa ser cuidadosa com seu ninho. Para os filhotes, a situação é ainda mais preocupante. Quando desorientados pela luz artificial, eles não conseguem encontrar o mar, perdendo-se pela vegetação, e chegando a atravessar calçadões e alcançar avenidas litorâneas, chegando a ser atropelados por veículos. É frequente que filhotes desorientados pela fotopoluição precisem ser resgatados pelas instituições "tartarugueiras".

foto 5 - Acervo Instituto Biota de Conservação - Acervo Instituto Biota de Conservação
População acompanha a soltura de tartaruguinhas. É um importante momento de sensibilização
Imagem: Acervo Instituto Biota de Conservação

Isso ocorre porque, sem iluminação artificial, o mar é naturalmente mais claro do que o continente, já que reflete a luz da lua ou das estrelas, se diferenciando da escuridão total da vegetação continental. A "programação" biológica desses animais os faz entender que precisam se dirigir para a região mais clara que identificarem. Mesmo se não forem atropelados, ao se distanciarem do mar os filhotes acabam sendo predados por outros animais, ou vagam até serem vencidos pela desidratação e esgotamento físico.

Mas, e então, a única forma de não prejudicarmos esses filhotinhos é ficarmos no escuro? Não. Não é isso.

O caminho para diminuir os impactos da fotopoluição está indicado numa cartilha produzida e divulgada pelo Centro Tamar-ICMBio, que pode ser facilmente encontrada online. Nela há especificações para a instalação de luminárias desenhadas para que a luz não incida diretamente sobre a praia, permitindo que tartarugas-marinhas e seres humanos dividam o espaço de forma mais harmoniosa.

Fale com as pessoas certas

Uma coisa importante é se informar sobre qual instituição atua em prol da conservação de tartarugas marinhas na área em que você está. Geralmente são organizações do terceiro setor (ONGs), que atuam em rede (RETAMANE), com equipe capacitada e metodologia padronizada de acordo com a orientação e licença de pesquisa dos órgãos públicos responsáveis (Centro Tamar - ICMBio). Sempre é bom ter esses contatos em mãos caso você precise.

foto 6 - Acervo Instituto Biota de Conservação - Acervo Instituto Biota de Conservação
Na imagem, pesquisadores do Instituto Biota de Conservação se preparam para realizar a marcação de uma fêmea de tartaruga-marinha após o processo de desova
Imagem: Acervo Instituto Biota de Conservação

Além disso, são várias ações que podem ser feitas buscando um convívio mais harmonioso entre seres humanos e tartarugas-marinhas. Além das informações que trouxemos, é preciso esforço para aprender sempre mais e buscar fazer a nossa parte, não só pelas tartarugas, mas por todo o ambiente.

Seja por meio do consumo e do estilo de vida conscientes, ou mesmo pelo compartilhamento de informações como as que trouxemos aqui, se nós conseguirmos implantar pequenas ações para proteger esses animais e seu espaço, com certeza estaremos garantindo que as praias de que tanto gostamos permaneçam saudáveis para nos receber por muitos verões.

foto 7 - Acervo Instituto Biota de Conservação - Acervo Instituto Biota de Conservação
Flagrante do exato momento em que a tartaruguinha sai do ovo
Imagem: Acervo Instituto Biota de Conservação