Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Qual o papel da criatividade para as quebradas hackearem o sistema?
Estimular o sentimento de pertencimento nos jovens periféricos é um desafio. Este é o tema do festival FAVELA SOUNDS em 2022. Precisamos pensar o papel da criatividade no estímulo à participação social. As quebradas fervilham de mentes criativas. O que falta são possibilidades de inserção desses talentos na grande máquina do sistema.
Para quem ainda não conhece, o FAVELA SOUNDS é o festival internacional de cultura de periferia que nós produzimos em Brasília. Não por acaso, o evento faz questão de proporcionar ônibus gratuitos, que fazem o leva e traz da galera, a partir de 10 regiões administrativas do Distrito Federal, como: Sobradinho (onde nasceu o rapper GOG, que se apresentou na edição de 2021do festival) e Ceilândia (cidade das DJs J4K3, LaBonita e Ketlen, que integram o lineup deste ano).
Agora, em 2022, a favela volta a fazer revolução a poucos metros da Praça dos Três Poderes, onde trabalham nossos representantes do executivo, judiciário e legislativo. Com entrada sempre gratuita, o festival se instala novamente no Museu Nacional da República, ao lado da Esplanada dos Ministérios. Para nós, que viemos de uma escola de ocupação de espaços públicos, é uma vitória ecoar as pautas da juventude preta, LGBTQIA+ e de quebrada naquele território. Embora não esteja ao alcance dos olhos das classes mais altas (por incrível que pareça), conseguimos fazer com que o público se sinta pertencente àquele lugar. Temos relatos de pessoas que nunca haviam estado na Esplanada dos Ministérios e vieram pela primeira vez através do FAVELA SOUNDS.
O projeto surgiu dentro da Universidade de Brasília, onde a gente se conheceu. Lá, tinha uma disciplina onde entregamos juntos um trabalho que foi o embrião do FAVELA SOUNDS. Em 2013, estávamos pensando nisso junto com o antropólogo Dennis Novaes. Hoje ele é doutor em Funk Carioca, com uma pesquisa sobre música e tecnologia em comunidades. Nós três começamos a frequentar bailes, em comunidades, muitos no Rio de Janeiro. Foi interessante ver como cada quebrada tem sua cena própria e todas conversam de forma global. E a gente via uma oportunidade de misturar isso tudo.
Um pontapé muito doido pra tudo acontecer foi quando Guilherme e Dennis conheceram o Mr. Catra em Brasília, para um trabalho acadêmico. Contamos pra ele a ideia do festival e ele ficou muito empolgado, disse que estava gravando um disco de samba. Aquela informação acendeu uma inspiração pra gente: o maior funkeiro do Brasil gravando samba? Foi quando percebemos que aquelas fronteiras de "nicho" estavam prestes a serem quebradas.
Depois da faculdade, tomamos coragem para levantar o primeiro festival, sob as bênçãos de Mr. Catra e outros tantos entusiastas. Em 2016, a primeira edição superou nossas expectativas. Esperávamos 5 mil pessoas e chegaram 12 mil. Contamos com o show do BaianaSystem, que foi aquele banho de energia boa. Ali, já entendemos que nosso objetivo maior havia sido atingido: fazer com que a galera da periferia pudesse, de fato, colar. No mesmo ano, o debate com a MC Carol foi um tapa na cara da sociedade, onde ela compartilhou casos terríveis de gordofobia. Em 2017 a gente teve a Titica, uma artista de Angola, que causou um baita furor. Nossa curadoria preza muito pela diversidade, fazemos questão de ter artistas trans. Tivemos um show e-mo-cio-nan-te do Xande de Pilares, que reuniu várias gerações, de crianças a senhores. Ele mesmo nos chamou no camarim para agradecer pelo convite, dizendo que aquele havia sido um dos públicos mais emocionantes de sua carreira.
Outra coisa que marca muito a nossa trajetória são as atividades no Sistema Socioeducativo. Ter contato com a galera que recorre ao crime por falta de oportunidade, ver o quanto a injustiça social permeia esses indivíduos é muito impactante. Este ano, foi entre 18 e 22 de julho que o festival realizou oficinas técnicas de som, luz e roadie para esses jovens em processo de reinserção social. As atividades culminam em estágio no festival! Ver os olhos dessas pessoas brilhando em saber que pode existir uma oportunidade de trampo e de crescimento profissional dentro da cultura é muito importante. É o que mais importa, na real.
Mapear o que está sendo produzido nas quebradas do Brasil e do mundo. Desenvolver mercados e talentos de periferia. Essas são as nossas missões. Cola com a gente neste final de semana, vai ter transmissão ao vivo pelo YouTube!
O Baile
29 de julho (sexta)
18h: Realleza (DF)
18h45: La Bonita (DF)
19h15: Sued Nunes (BA)
20h: UMiranda (DF)
20h30: César MC (ES)
21h25: DJ Donna (DF)
22h20: Criolo (SP)
23h50: Cleiton Rasta (AL)
00h30: N.I.N.A (RJ)
01h20: v1no (DF)
02h: Baile do Marley - Marley no Beat convida UANA, Rayssa Dias e Gui da Tropa (PE)
30 de julho (sábado)
17h30: Ediá (DF)
18h15: DJ Ketlen (DF)
18h45: Rachel Reis (BA)
19h45: J4K3 (DF)
20h35: Jorge Aragão (RJ)
22h05: Paulilo Paredão (BA)
22h45: Guitarrada das Manas + Leona Vingativa (PA)
23h35: kLap (DF)
00h15: O Poeta (BA)
01h15: Ruxell (RJ)
02h10: Rebecca (RJ)
Serviço - Favela Sounds 6ª edição
Atividades formativas ao longo do mês de julho.
O Baile
Datas: 29 e 30 de julho
Horários: 17h às 04h
Transmissão ao vivo:
Canal de Youtube do Favela Sounds
Sábado (29 de julho às 18h): https://youtu.be/JcGpvIW8Kbk
Domingo (30 de julho às 17h30): https://youtu.be/NMrMU0fg8dQ
Canal de TV Paga Music Box Brazil (123 da NET / 145 da OI / 637 da VIVO TV) e exibição de shows ao longo do segundo semestre.
Local: Praça do Museu Nacional da República (Esplanada dos Ministérios)
Entrada franca com retirada de ingressos no link https://www.sympla.com.br/favela-sounds—-o-baile__1641449
Classificação indicativa: 18 anos
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