Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Explicando o capacitismo na música pop
Estudei praticamente minha pré-adolescência, e parte da adolescência, em escola evangélica. Lá, escutar música "mundana" era algo inaceitável. Confesso que aproveitava o momento do devocional, em que eu era o aluno DJ (aquele que escolhia as músicas), para tocar um remix de músicas POP com letra evangélica!
Os alunos adoravam, porém, a diretora, dona da escola, ficava apavorada porque, além de tudo, ela também era pastora. O universo POP sempre foi um dos meus preferidos quando se trata de música. Desde o início acompanhei o crescimento das divas da minha geração: Rihanna, Katy Perry, Lady Gaga e Beyoncé. Confesso que a Mother Monster é a minha favorita.
Por cantarem músicas em outro idioma, não era comum eu ir atrás de uma tradução, a não ser quando a canção realmente me chamava atenção. Um exemplo delas é 'Born This Way', assim que a Gaga lançou eu fui correndo pesquisar o que ela queria falar na letra. Marcou tanto a minha vida que eu resolvi tatuar a letra no final do ano passado. É muito importante a gente pesquisar o que estamos dando play porque uma hora ou outra vai surgir algum termo problemático que passa despercebido pelosc(as) compositores(as).
Recentemente, a Queen B (Beyoncé) lançou seu 7º álbum musical, 'Renaissance', e em uma das faixas, para ser mais exato a 11ª intitulada "Heated", ela narra a perda de paciência com um homem que desperdiça seu tempo, bancando o papel de vilão e vítima ao mesmo tempo em um relacionamento. O enredo não foi a única coisa que chamou a atenção na canção, apesar dela ser uma faixa simples, co-produzida com o rapper Drake, trouxe um trecho com expressão capacitista no momento em que a Bey canta: "Spazzin on that ass, spaz on that ass".
As palavras "Spazzin e Spaz" são termos americanos bastante ofensivos, usados para se referir a pessoas com paralisia cerebral. No Brasil não temos uma tradução bem definida, mas seria algo para ridicularizar a perda de controle dos espasmos, movimentos involuntários que essas pessoas apresentam.
Mesmo que sem intenção nenhuma de ofender, a diva do pop foi bastante criticada nas redes sociais por ativistas PCDs e, em menos de uma semana de lançamento, ela precisou vir a público por meio da assessoria para pedir desculpas e comunicar a alteração em seu álbum.
Quando falamos em preconceito sobre pessoas com deficiência, infelizmente, ainda é um assunto pouco debatido, e acredito que seja pela falta dessas pessoas nas equipes dos grandes artistas.
O principal cuidado que deveríamos ter antes de levantar uma bandeira de inclusão, assim como como na luta antirracista, é saber se ela atravessa os diferentes marcadores sociais. Veja bem, quantos negros e negras com deficiência não se sentiram ofendidos com esse termo pejorativo?
O descuido de Beyoncé não foi o único nesses últimos meses. A cantora Lizzo traz em uma de suas faixas, "GRRRLS", um termo parecido que, na época, também se comprometeu a mudar. A atitude das duas cantoras nem de longe deve ser mal vista, e sim questionada de maneira positiva, levada ao público como reflexão: finalmente ícones da música pop estão ouvindo as demandas de PCDs.
Em pleno 2022, não combina o capacitismo no ritmo das suas músicas É preciso rever atitudes e ajudar na conscientização da grande massa.
*Potiguar de 26 anos e formado em pedagogia, Ivan Baron é conhecido como influenciador da inclusão. Por meio de vídeos didáticos e com muita informação, o pedagogo combate o capacitismo em suas redes sociais.
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