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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como os jovens podem salvar o mundo do colapso social e ambiental?

Jovens marcham pedindo justiça climática na Conferência do Clima, em 2021 - Felipe Werneck/Observatório do Clima
Jovens marcham pedindo justiça climática na Conferência do Clima, em 2021 Imagem: Felipe Werneck/Observatório do Clima

Sabrina Cabral*

12/08/2022 06h00

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), nós, jovens, somos agentes da construção de um futuro mais sustentável para o nosso planeta. Então, por que ainda nos tratam como parte do problema?

Como jovem ativista climática de uma periferia da região nordeste e que ocupou espaços internacionais falando sobre educação, incluindo a própria ONU, quero te contar a importância do despertar do chamado protagonismo juvenil a partir de uma perspectiva diferente da educação tradicional.

Cerca de um quarto da população mundial é jovem, de acordo com a ONU. São aproximadamente 1,8 bilhão de pessoas na faixa etária entre 15 a 29 anos no mundo. Ou seja, não existe uma juventude, mas múltiplas juventudes. E isso é ótimo. O planeta enfrenta muitos problemas socioambientais, precisamos de diversidade para superar esses desafios. Porém, nem todas as juventudes são trazidas para o debate, principalmente no Brasil.

O estereótipo de uma "juventude problema" recai principalmente em jovens que são parte de uma ou mais minorias sociais. São aquelas pessoas que não têm acesso a uma educação de qualidade ou a empregos. Mesmo sendo as mais impactadas pelas crises do país e do mundo, são as que menos conseguem espaços de visibilidade para representar e ajudar a decidir o futuro do planeta.

São chamados aqui no Brasil de jovem nem-nem: nem estuda e nem trabalha. Mas o termo que melhor definiria é sem-sem: sem acesso digno de estudo e, consequentemente, sem oportunidades de escolha profissional e de futuro. Este cenário se agravou na pandemia da covid-19.

Aqui no nordeste do Brasil tivemos o mais alto nível de desemprego em 2021, segundo o IBGE. Os dados afirmam também que concentramos quase 50% da pobreza do país, enquanto o sudeste é a região mais rica com mais da metade do PIB nacional. Nesse cenário, nossa falta de acesso e de oportunidades não é por acaso.

Além de economicamente poderosa, é o sudeste que tem destaque no cenário nacional e internacional representando o Brasil. Sobretudo são as pessoas de classe média, cis e brancas, nutridas pela meritocracia e pelo desejo de ingressar em cargos importantes com suas vontades rasas de mudanças para a "juventude" que ocupam a maioria dos espaços de influência. Precisamos equilibrar esse jogo.

Por isso, as ferramentas educacionais alternativas são importantes. São elas que, fora da sala de aula, despertam o olhar crítico das juventudes periféricas, principalmente na parte de cima do país. Coletivos, ONGs, projetos sociais, dentre outras intervenções da sociedade têm feito um excelente trabalho mobilizando juventudes faveladas, negras, indígenas, pessoas com deficiência e quilombolas para inseri-las na sociedade e no debate público.

Não deixar ninguém para trás. Este foi o tema do acampamento Juventudes Ya!, ação do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) que participei em 2021, unindo jovens de toda a América Latina e Caribe para criação da declaração contendo nossas reivindicações. E esse também é o lema da Agenda 2030, que contém as ODS, destacando que não só governos e empresas, mas toda a sociedade civil é beneficiária e precisa ser parceira na superação dos desafios sociais e ambientais da sociedade.

Eu tenho feito isso na minha iniciativa, a Ruma, desenvolvendo um futuro mais sustentável para o nordeste a partir da periferia. Ferramentas como a Agenda 2030 facilitam o debate para jovens com menos acesso à educação. Já metodologias como a STEAM, que unem tecnologia e arte, podem cativá-los a partir de atividades mais práticas.

Vivendo em Fortaleza, a Ruma é um exemplo das mudanças positivas que políticas públicas podem fazer investindo nas juventudes periféricas. Eleita como cidade brasileira que mais investe nesse público, a capital cearense foca nas áreas mais vulneráveis da cidade com a Rede CUCA, cheia de tecnologia, arte, esporte, sustentabilidade e empreendedorismo. Não existe outro caminho para nos salvarmos a não ser encarar as juventudes como investimento, não gasto.

Neste dia 12 de agosto, reconhecido pela ONU como Dia Internacional das Juventudes, recomendo que todos e todas tomem o seu lugar nessa luta pela sustentabilidade do nosso país a partir do movimento IYD Brasil, referência mundial na mobilização pela data. Com materiais acessíveis e exemplos práticos, você pode levar o debate sobre o poder das juventudes para a sua comunidade.

*Sabrina Cabral é ativista e criadora sobre a periferia nordestina no perfil @sanydapeste a partir de Fortaleza - CE. Inserida nas temáticas de sustentabilidade, direitos humanos e educação, Representante juvenil em iniciativas da ONU e Liderança no IYD Brasil. Fundadora da iniciativa Ruma para desenvolvimento sustentável no Nordeste Brasileiro.