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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dia da Amazônia: Parabéns e obrigada a essa gigante pela própria natureza

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Imagem: iStock

Fernanda Rennó*

Da Uma Concertação pela Amazônia, colaboração para Ecoa

05/09/2022 06h00

"As Amazônias" essa é a forma como nós da rede Uma Concertação pela Amazônia nos referimos a essa gigante pela própria natureza, mas gigante também pela cultura.

A cultura representa o que somos, molda nossa identidade. Por ser quem somos, e por balizar nossas ações, a cultura deve estar no coração das políticas de desenvolvimento que busquem uma agenda capaz de conter a degradação ambiental, conciliando capital natural e justiça social.

Nesse dia 05 de setembro de 2022, Dia das Amazônias, gostaríamos de agradecer a todos os artistas que passaram e os que passarão pela Concertação, abrindo nossos olhos e cabeças, abrindo as portas desse território para nossa chegada, abrindo as portas de suas casas para conversarmos, para nos conhecermos, para pensarmos juntos.

A arte para nós vai além de seu aspecto ilustrativo e de entretenimento, ela é fonte de informação sobre o território. Nos permite mergulhar nas multiplicidades e dinâmicas de todas essas AmazôniaS.

Quando Eliakin Rufino nos canta tudo o que dizem que a Amazônia é; quando Rakel Caminha traz em suas colagens olhos de guaraná com asas de borboletas; quando Raiz Campos sobrepõe personagens e padrões de esteiras indígenas em grandes muros de concreto.

Quando Rui Machado quebra nossos estereótipos sobre esse território em suas pinturas; quando Paula Sampaio com apenas duas cores nos emociona com histórias de beira de estrada; quando Marcela Bonfim, com as mesmas duas cores, nos apresenta a potência sem igual da Amazônia Negra.

Quando Gustavo Caboco nos hipnotiza com pés de bananeira, nos lembrando de fincar os nossos (pés e cabeças) no chão; quando Trudruá Dorrico defende seu doutorado sobre literatura indígena; quando Antônio de Gaia, no auge de seus 12 anos, nos desmancha com desenhos modernistas; quando Denilson Baniwa nos encanta não só pelo poder indescritível de sua arte e do raciocínio por trás dela, mas também por sua doçura e gentileza.

Quando Kambô e suas imagens psicodélicas nos fazem quase entrar em transe; quando Chermie Ferreira nos inunda de cores que já inundaram telas e muros; quando Rogério Assis nos mostra no mínimo duas opções de caminhos; quando Anelis Assunção se junta com Djuena Tikuna e Surarás do Tapajos e nos fazem arrepiar numa ventania.

Quando todos esses artistas se abrem para nós, somos invadidos por uma chuva de imagens, rios voadores de cores, não cores, sons e sensações que nos ajudam a atualizar nossos imaginários, que nos ajudam a construir uma relação com esse território.

Essas artes e esses artistas nos ajudam a equilibrar o racional (limitado), com a sensibilidade necessária para se mergulhar em um território tão vasto, potente e complexo como a Amazônia Legal.

É essa sensibilidade, que hoje faz parte da identidade da iniciativa, que nos aterrissa, é a cultura que nos ajuda conectar temas, histórias, desejos e expectativas, que afina nossos pensamentos, que nos possibilita propor algo que seja realmente estruturante para as Amazônias.

As Amazônias são uma sobreposição de tempos, espaços e pessoas. Elas não precisam ser entendidas ou decifradas, elas precisam ser respeitadas e (re) conhecidas, elas devem fazer parte da(s) identidade (s) brasileira (s). Pensar esse território é um privilégio, mergulhar nesse território é uma sorte, fazer isso junto com a arte que nos balança, nos tira (ou coloca) no eixo, nos embala em banzeiros, é surpreendente.

Parabéns Amazônias. E obrigada.

*Fernanda Rennó é PhD Planejamento Territorial - Meio Ambiente e Paisagem, líder do GT de Cultura da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia