Topo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Farmácia Viva': Uma tecnologia do sertão pernambucano

Mulheres agricultoras do Pajeú (PE) - Arquivo
Mulheres agricultoras do Pajeú (PE) Imagem: Arquivo

Ana Cristina Nobre dos Santos*

Colaboração para

26/10/2022 06h00

Popularmente conhecida como farmácia viva, trata-se de espaços produtivos com grande diversidade de plantas medicinais milenarmente cultivadas por mulheres em seus espaços de produção de alimentos.

Por lá, as plantas são utilizadas como matéria prima para produção de vários medicamentos caseiros como xaropes, infusões, garrafadas, chás, tinturas e pomadas. Essa produção caseira é usada para prevenir e tratar resfriados, controle de pressão arterial, controle da asma, tratamento de ferimentos na pele, entre outras coisas.

As mulheres utilizam com muito critério e cuidados as plantas medicinais considerando todo o conhecimento ancestral de seus antepassados.

Na opinião de algumas agricultoras, os remédios caseiros produzidos das farmácias vivas são mais eficientes em muitos casos do que os remédios de farmácia. Assim, o espaço conserva para além da produção de medicamentos caseiros, conhecimentos tradicionais das populações dentro de seus territórios.

Por outro lado, nos últimos tempos assistimos assustadas aos cortes de recursos do Governo Federal, principalmente direcionados para assistência à saúde básica da população, sobretudo, a população mais pobre. Isto é, de baixa renda.

A Farmácia Popular sofreu nos últimos tempos cortes na distribuição de medicamentos para controle de doenças comuns e deixou os usuários desse serviço sem assistência. É o caso de uma mãe do Sertão do Pajeú, que diz o seguinte:

"É muito triste saber que a medicação que meu filho precisa tomar para tratar o problema de saúde dele está em falta na farmácia e sem previsão de chegar".

Em nossa região, no Sertão Pernambucano, as farmácias vivas produzidas pelas mãos das mulheres têm sido uma experiência que tem contribuído para melhorar a saúde das pessoas, sobretudo, as pessoas que vivem na zona rural.

Nesses espaços de produção de alimentos também é cultivada uma diversidade de plantas medicinais como: hortelã, arruda, malvas, capim santo, cidreira, camomila entre outras.

Muitas mulheres têm essa prática que já recebeu de alguma pessoa mais idosa da comunidade, e assim contribuem bastante com a disseminação desses conhecimentos dentro dos grupos de mulheres.

O sabonete líquido artesanal produzido a partir da aroeira é um produto desenvolvido por um dos grupos de mulheres articulado à nossa rede. Além da produção do sabonete em si, as mulheres fazem o plantio de mudas de aroeira. Elas compreendem que não basta apenas desenvolver um produto da sociobiodiversidade, é necessário trabalhar a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.

A produção de alimentos nos quintais produtivos aliada a produção de plantas medicinais tem contribuído também para maior reflexão sobre o consumo de alimentos saudáveis, ou seja, o consumo consciente e melhoria da relação das pessoas com a natureza.

Traz um entendimento que, enquanto pessoa/ser humano, necessitamos evoluir na preservação e conservação dos recursos naturais e que precisamos deles para viver no planeta. Logo, cada uma precisa fazer sua parte e plantar sua semente. A hora é agora e o momento é esse. A sociedade precisa se engajar.

*Ana Cristina Nobre dos Santos, educadora social da Rede de Mulheres, feminista, com formação em História e militante do movimentos feminista e agroecológico.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL