Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Camisas de times estão poluindo o mar e vão parar até no leite materno
Elas parecem camisetas inofensivas — ou nem tanto, se você considerar aquelas que parecem uma toalha de mesa, mas que tiraram a nossa alegria nesse final de ano, ou as que andaram bloqueando estradas num processo antidemocrático — mas estão intoxicando nosso oceano e nossa comida.
A culpa não é só das camisetas de time, na verdade, todas as roupas sintéticas causam esses problemas. Poliéster, poliamida e elastano são alguns dos materiais mais usados nos tecidos da indústria da moda e que no fim são tipos de plástico, organizados em fios nas nossas roupas.
Conforme usamos nossas camisetas, pequenos fios se quebram e se soltam do tecido - são as microfibras, que estão sendo encontradas em abundância nas zonas costeiras e locais onde as águas residuais são liberadas.
As microfibras são o tipo de microplástico (partículas plásticas com menos que 5 milímetros de diâmetro) mais comumente encontradas na natureza. Apesar de muitas vezes esse tipo de resíduo ser invisível, os microplásticos causam danos muito piores do que grandes pedaços de plástico que podem ser facilmente removíveis.
A poluição por microplásticos atinge o planeta todo, do topo do Monte Everest às fossas oceânicas mais profundas. E nós, assim como os animais, já estamos comendo microplásticos na nossa alimentação diária, bebendo na água e até respirando as pequenas partículas.
Um estudo que analisou amostras de água de 36 pontos dos mares ao redor da Europa apontou as microfibras como responsáveis por 86% dos microplásticos na água.
Mas o maior problema das microfibras serem o tipo de microplástico mais comum, na realidade, está na capacidade de absorver poluentes orgânicos persistentes (POPs) e concentrá-los nos tecidos animais.
Como só percebemos o perigo a pouco tempo, as pesquisas quanto aos efeitos do microplásticos são novas, e ainda não há dados suficientes para dizer exatamente como eles estão afetando a saúde humana.
Contudo, a cada novo estudo encontram-se as partículas em um novo canto do corpo: sangue, pulmões, placenta e até no leite humano.
Enquanto já foi demonstrado que microplásticos podem afetar até o sistema reprodutivo de animais, o impacto real nas pessoas não é conhecido, embora estudos mostrem que os microplásticos podem danificar células humanas em laboratório.
O que fazer, então? Afinal de contas, das camisetas de time às jaquetas à prova d'água, muitos dos tecidos que usamos são sintéticos e precisamos deles.
Filtros para reter as microfibras nas máquinas de lavar, fixadores e tratamentos para os tecidos soltarem menos partículas e tecidos sintéticos biodegradáveis estão sendo desenvolvidos, mas o processo é longo - e caro.
Enquanto isso, na hora de torcer, você pode priorizar tecidos naturais como algodão ou guardar o dinheiro para a cervejinha em vez de consumir desnecessariamente.
*Beatriz Mattiuzzo é oceanógrafa, mestranda em Práticas de Desenvolvimento Sustentável, instrutora de mergulho e cofundadora da Marulho, negócio socioambiental que intercepta redes de pesca junto a pescadores locais em Angra dos Reis. A Marulho foi a vencedora da categoria Empresas que Mudam do Prêmio Ecoa 2021.
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