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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Plástico: O 'turista indesejado' nas praias por todo mundo

Voz dos Oceanos realizando limpeza em praias - Divulgação/Voz dos Oceanos
Voz dos Oceanos realizando limpeza em praias Imagem: Divulgação/Voz dos Oceanos

Wilhelm Schurmann*

da Voz dos Oceanos

21/01/2023 06h00

Verão bombando. Para muitos, período dedicado à uma relação mais constante com o mar. Relação que eu vivencio intensamente desde o meu nascimento, pois meu destino já estava traçado... eu viveria, faria parte e seria uma pessoa do oceano! Condição que assumi com muito orgulho e naturalidade.

Três anos antes de nascer, meus pais já se preparavam para trocar a terra firme por uma vida a bordo. Fui gerado no meio de um planejamento de 10 anos para a grande mudança. Cresci me integrando diariamente com a vida marinha e aprendendo a velejar. Até que, aos 7 anos, os mares do planeta passaram a ser minha moradia, escola, lazer e início de uma carreira bem-sucedida no esporte.

Morando num veleiro, vivi - e ainda vivo - com a sensação de liberdade do balanço das águas e do vento na face. Mas, com o passar do tempo, também acompanhei a crescente invasão plástica no nosso Planeta Água.

Há 25 anos, encontramos na remota e paradisíaca Henderson Island, os primeiros sinais de algo que sairia do controle. Em 2015, em West Fayu, outra ilha deserta e de difícil acesso no Oceano Pacífico, desembarcamos numa praia invadida por resíduos, em sua maioria, plásticos de uso descartável.

Essas e outras experiências semelhantes nos levaram a assumir a missão de intensificar ainda mais nossa atuação para ajudar a reverter esse cenário.

Em agosto de 2020, içamos as velas, dando início a nossa expedição Voz dos Oceanos, que tem o apoio mundial do Programa da ONU para o Meio Ambiente.

De lá para cá, navegamos por quase toda a costa brasileira (de Santa Catarina ao Pará, incluindo uma jornada fluvial pelo interior do Estado), região do Caribe e boa parte da costa leste dos Estados Unidos. Encerramos 2022 no México e iniciamos 2023 no Panamá.

Em todos os locais por onde passamos até o momento, independente de estarmos na baixa ou na alta temporada, nos deparamos com um "turista indesejado", um velho conhecido da minha família: o lixo plástico!

Esse plástico - principalmente de uso único - continua vindo de diferentes partes do mundo, nem sempre sendo um resíduo gerado localmente.

Mesmo em locais com boa gestão de limpeza e manutenção das praias, frequentados por moradores e turistas conscientes e cuidadosos, a grande geração de resíduos descartados ou gerenciados incorretamente segue sua jornada até o mar.

Há poucas semanas, por exemplo, durante uma caminhada pela praia, fora da zona hoteleira da Riviera Maya, no México, eu e Erika Cembe-Ternex, também tripulante da Voz dos Oceanos, nos surpreendemos mais uma vez.

Apesar das constantes ações de limpeza e manutenção das praias, encontramos muito, mas MUITO lixo na areia. Uma parte expressiva dessa sujeira veio do mar.

Por sua posição geográfica, a costa mexicana acaba sendo invadida por muitos resíduos levados pelos ventos e pelas correntezas marítimas.

Foi uma longa caminhada recolhendo tampinhas de garrafa pet, talheres e canudos descartáveis entre outros lixos predominantemente plásticos.

Apesar de ser uma cena recorrente, vivenciada inúmeras vezes em diferentes lugares do mundo, ainda fico chocado com esse cenário. Essa realidade sempre me faz lembrar que, de acordo com relatório da ONU "Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica", até 2040, estima-se que os mares devem receber entre 23 e 37 milhões de toneladas de plástico por ano.

Esse é o desafio, que pode ser superado com união, persistência e coletividade. Em nossa rota, também temos a alegria de encontrar centenas de pessoas, ONGs e iniciativas que atuam em diversas frentes de trabalho, capazes de minimizar o impacto da invasão de plástico nos oceanos e suas consequências na saúde do planeta. Voltando ao México por exemplo, conhecemos o trabalho da Mari Carmen Garcia Ribas e equipe do Parque Nacional de Recifes Puerto Morelos, dedicados a recuperar e preservar uma das maiores barreiras de corais do mundo.

Cabe a todos nós ecoar a voz dos oceanos e ampliar a grande onda capaz de salvar nosso Planeta Água!

*Wilhelm Schurmann
Aos 7 anos, Wilhelm embarcou com sua família para navegar ao redor do mundo. Ele viveu até os 17 anos no veleiro, onde estudou por correspondência, aprendeu três idiomas fluentemente, conheceu mais de 42 países, viveu aventuras inesquecíveis e concluiu sua primeira volta ao mundo. Unindo talento e dedicação, se destacou no cenário nacional e internacional, sendo reconhecido como um dos maiores nomes no esporte de windsurfe no Brasil e exterior em diferentes classes. Em 2013, participou ativamente da construção do veleiro sustentável Kat e, em 2014, partiu com a família para mais uma volta ao mundo. Desde então, a embarcação tem sido sua moradia flutuante e local de trabalho. Wilhelm é um dos líderes da Voz dos Oceanos, iniciativa liderada pela Família Schurmann que inclui uma expedição com o apoio mundial do Programa da ONU para o Meio Ambiente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL