Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O potencial criativo e econômico das periferias é gigantesco
Quando criamos uma escola de negócios da periferia para a periferia, há 8 anos, não tínhamos a intenção de que nossos alunos tivessem negócios como as empresas de tecnologia do vale do silício. Mesmo que isso tenha acontecido com alguns deles.
Queríamos mostrar que organizar melhor o trabalho que fazemos, seja vender bolo por encomenda ou roupa, costurar pra fora, fazer uma unha ou um cabelo, pode ser simplesmente revolucionário e transformador na vida de milhares de pessoas. O potencial econômico que já existe nas periferias é gigante e inegável.
Se toda opinião parte de um ponto de vista, e todo ponto de vista é basicamente a "vista de um ponto", queremos evidenciar que observamos o mundo a partir de uma visão periférica. De quem nasceu, cresceu, se criou na periferia. Uma visão do trabalho que não é glamurosa como vendem os coachs. Aquela ideia de que trabalhar é se libertar. Ou, de que você pode ser nômade e ter um trabalho de qualquer lugar do mundo ou outra baboseira dessa.
Então, dentro das diversas formas de trabalho, entendemos que organizar e apoiar o empreendedorismo é fundamental, mas não com uma visão individualista, de palco ou romântica. Mas como a possibilidade de transformar a organização de milhões de trabalhadores brasileiros.
Quando uma empreendedora mobiliza parcerias locais para vender seus produtos e gera renda para ela e para essa rede, isso é potência.
Quando uma empreendedora entende que organizar o quanto ela ganha e o quanto ela gasta para poder melhorar a gestão financeira do seu negócio e da sua casa, isso não tem nada a ver com "você precisa investir". Muito menos com um papo bizarro que pessoas pobres não precisam de educação financeira, tem ligação com olhar para a materialidade financeira que se está inserido e entender a importância de jogar esse jogo.
Com as mudanças nas estruturas de trabalho devido às diversas novas tecnologias, a maioria da população não terá mais acesso a empregos tradicionais e CLT. Por isso vai precisar buscar formas de trabalhar que possam atender suas necessidades, ter alguma satisfação com aquilo que fazem e conseguir manter alguma estabilidade emocional e financeira dentro do caótico universo do trabalho que está cada vez mais desafiador.
Por fim, vale destacar que empreender, criar um negócio, ser autônomo, é sim, cada dia mais fácil com as diversas possibilidades que a internet trouxe, tanto para criar novos produtos como para vender o que já se fazia. Mas não podemos achar que a facilidade de acesso é a mesma para todo mundo.
Temos mais de 30 milhões de pessoas em insegurança alimentar, por exemplo. E se você acha que alguém com fome pode criar um negócio, pois a mídia mostra incansavelmente uma exceção que apenas confirma a regra, talvez você ainda não tenha entendido a realidade imposta a maioria das pessoas do país.
Empreender é sim uma forma de transformar vidas e mudar realidades, e presenciamos e fazemos isso há quase uma década. Mas ela não é nem de longe a única e ela não se aplica a todos.
*Luis Coelho e Jennifer Rodrigues são fundadores da Empreende Aí, uma escola de negócios da periferia para periferia que tem 8 anos de atuação formando empreendedores em territórios populares, comunidades e favelas. O Empreende Aí foi um dos finalistas do 2º Prêmio ECOA.
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