Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que lutar pela dignidade menstrual é importante ainda hoje?
Metade das pessoas do mundo vive a experiência de menstruar durante grande parte da sua vida. Da primeira menstruação, ainda na infância, até a menopausa, o encontro cíclico com este momento permeia a existência da maioria das mulheres e demais portadores de útero no mundo todo desde o princípio dos tempos. Esse encontro marcado proporcionado pela natureza exige adequações na rotina em diversos níveis e hoje em dia é visto como um incômodo pela maior parte das pessoas menstruantes.
Parte desse incômodo se relaciona aos tabus sobre o tema menstruação, parte pelos ritmos impostos pela sociedade que exigem linearidade e performance de corpos cíclicos. Não olhamos a potência do recolhimento e lidamos com a dor e o sangue que jamais deve ser visto, tocado, sentido, percebido. Esse sangue, que não é fruto de violência e sim símbolo de fertilidade, carrega o estigma de sujo e impuro.
Só a quebra destes tabus já daria uma conversa bem longa, mas infelizmente ainda hoje ainda temos diversas pessoas que passam pela experiência menstrual de maneira muito mais precária. E aqui entra a importância de contextualizar o tema da Pobreza Menstrual, que é a falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que as pessoas que menstruam tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação.
Os dados variam e a experiência de cada indivíduo é única, mas alguns estudos estimam que uma pessoa que menstrua gaste entre R$ 3 mil e R$ 8 mil ao longo de sua vida menstrual com absorventes descartáveis. Da menarca à menopausa, temos demandas praticamente mensais de gastos com algum tipo de solução menstrual. Mas e quem não pode pagar?
Quem não tem acesso a alguma solução menstrual passa, em média, 60 dias do ano sem poder realizar suas atividades comuns do cotidiano por estar menstruada. Na falta do absorvente descartável, solução mais usual, muitas acabam recorrendo a soluções improvisadas que podem colocar sua saúde em sério risco. Jornal velho, miolo de pão, sacola de supermercado, panos sujos são apenas algumas das medidas que fazem parte da realidade de quem não tem condições financeiras e sanitárias de lidar com sua menstruação de maneira digna e saudável.
Além disso, o começo da vida menstrual é causa de evasão escolar na vida de muitas meninas, começando a aprofundar os abismos da desigualdade de gênero desde cedo. Se a experiência de começar a lidar com a menstruação já pode ser traumática, fazer isso em um ambiente escolar despreparado e sem condições de acolhimento e infraestrutura faz com que o abandono escolar seja algo comum. Esta realidade vai afetar principalmente as camadas mais vulneráveis da população.
Dignidade Menstrual é Direito Humano reconhecido pela ONU e colocar este tema em pauta é garantir saúde e apoiar a equidade de gênero em todos os espaços. É preciso falar sobre a menstruação e sobre a importância de se ter condições dignas de se lidar com ela. Hoje, dia 28 de maio, celebramos a luta em prol deste tema e podemos fazer algumas reflexões sobre como apoiar esta causa na prática.
Você sabe se existem políticas públicas no seu município de doação de absorventes? Já se perguntou se este item faz parte da cesta básica? Já pensou doar ou participar como voluntária em alguma organização que trabalha com o tema? Já cogitou trazer esta conversa para dentro do seu local de trabalho? Da sua escola? Na sua casa, como se lida com a menstruação? Precisamos ampliar nosso olhar sobre o tema e tudo começa pelo interesse em saber mais e se aprofundar. Vamos juntas olhar para os fluxos ao nosso redor?
*Colaboração para Ecoa, de Salvador. Autodeclarada "testemunha do copinho", Tauana Costa é gestora do Projeto Dona do Meu Fluxo que desde 2017 trabalha com empoderamento feminino e promove a doação de coletores menstruais em oficinas com mulheres de todo o Brasil. O projeto já atingiu mais de 4500 beneficiadas em todas as regiões do país e é fruto de uma parceria entre Raízes e Korui, duas empresas B lideradas por mulheres, que se uniram para promover dignidade menstrual e sustentabilidade.
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