Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Entenda por que o submersível desaparecido não é uma 'lata de sardinha'
Somente 5% do oceano foi explorado e mapeado - a humanidade literalmente sabe mais da Lua do que do ambiente que cobre dois terços do nosso planeta. Mas há um motivo para isso: estudar o oceano, especialmente o oceano profundo, é muito complexo.
A profundidade média do oceano é de quase 3.700 metros, praticamente a mesma profundidade em que se encontra o Titanic, o que equivale a uma pressão de 370 atmosferas. Por isso, quando falamos da tecnologia necessária para conhecer esses ambientes, precisamos ter em mente que os equipamentos não precisam ser apenas à prova de água: eles têm que ser à prova de pressão.
Para resistir a pressões tão grandes, com mais de 3 quilômetros de água salgada querendo te esmagar, qualquer espacinho de ar e qualquer solda importam — por isso o submersível Titan é tão diminuto, como uma "lata de sardinha".
Mas nem isso é verdade: o submersível até que é espaçoso, conseguindo levar 5 pessoas. Temos aí outra questão: mesmo dentro do mundo dos submersíveis, pouquíssimos são capazes de atingir a profundidade de 4.000 metros.
Há ainda uma grande diferença entre submarinos, que são veículos completamente autônomos que operam na profundidade de algumas centenas de metros, e de submersíveis: veículos que precisam de um navio como base para serem lançados e recolhidos do mar.
A maioria dos submersíveis foi construída para fins científicos, com alguns sendo posteriormente adaptados para fins privados e usados em superiates. Contudo, mesmo dentro das empresas que comercializam esses equipamentos, como a Triton Submarines, só dois modelos têm a capacidade de chegar aos 4.000 metros.
Outros fatores chamam a atenção daqueles que não conhecem a difícil realidade da exploração do oceano profundo: como um equipamento tão caro, que carrega passageiros "tão caros", não tem um GPS? Ou um cabo ligando à superfície?
Mas não há GPS que funcione a tantos metros de profundidade, e submersíveis não tem cabos mesmo: o cabo é considerado um ponto de enrosco, e o relevo do oceano não é uma praia lisinha. Com uma coluna de água quilométrica, a tendência do cabo é só atrapalhar conforme o equipamento navega. Há outro tipo de equipamento que são robôs ligados à superfície por cabos, transmitindo em tempo real as imagens e dados coletados por sensores no fundo do oceano: são os ROVs (remotely operated vehicles), ou seja, robôs submersíveis e não tripulados.
Para a engenharia envolvida na pesquisa em oceano profundo, muita vezes predomina a lógica de que quanto menos pontos de falha, melhor. É essa a mesma lógica que leva o submersível a ser operado por um "controle de videogame": mecanismos simples podem ser mais eficientes do que as centenas de botões de um avião e no fim diminuir as chances de acidentes.
Não parece ter sido o que aconteceu dessa vez, mas em contrapartida a própria marinha americana já utilizou controles de Xbox em seus submarinos.
Enquanto torcíamos para que a tripulação fosse resgatada com vida, o jeitinho brasileiro seguia sendo transformar tragédia em memes na internet - acredito que uma forma que encontramos para sobreviver às loucuras do dia a dia nesse país tão desigual, ainda que às vezes de maneira ofensiva.
Estávamos na torcida para que o submersível tivesse um desfecho diferente do navio que lhe deu o nome e para que o episódio pudesse abrir os olhos de grandes investidores para o quanto ainda precisamos de melhores tecnologias para entender o oceano.
*Beatriz Mattiuzzo é oceanógrafa, mestranda em Práticas de Desenvolvimento Sustentável, instrutora de mergulho e cofundadora da Marulho, negócio socioambiental que intercepta redes de pesca junto a pescadores locais em Angra dos Reis.
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