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OPINIÃO

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Russos com recorde de derramamento de petróleo querem explorar a Amazônia

Menino coberto de óleo deixa água na praia de Cabo de Santo Agostinho (PE) - Leo Malafaia/AFP
Menino coberto de óleo deixa água na praia de Cabo de Santo Agostinho (PE) Imagem: Leo Malafaia/AFP

Lucas Ferrante*

10/07/2023 06h00

A exploração petrolífera na região amazônica está sendo muito discutida nas últimas semanas devido a negativa do Ibama à Petrobrás em explorar a foz do Rio Amazonas, tema já abordado em Ecoa.

Entretanto, ameaças ainda maiores pairam sobre a Floresta Amazônica, como a concessão de exploração de petróleo e gás na Bacia Sedimentar do Solimões para a empresa Russa, Rosneft Oil Company, líder em derramamentos de óleo em todo o planeta.

A empresa Rosneft de exploração de petróleo e gás já foi apontada pelo Greenpeace-Rússia como responsável por mais de 10 mil derramamentos de petróleo em todo o mundo. O número é assustador, dado o impacto ambiental e social associados a estes derramamentos, o que preocupa pesquisadores e ambientalistas.

Preocupantemente, a empresa já tem as concessões para explorar 13 blocos na Bacia Sedimentar do Solimões, uma das regiões mais preservadas da Amazônia, com alta biodiversidade endêmica, ou seja, espécies de animais e plantas que ocorrem exclusivamente na região, além de várias dezenas de comunidades indígenas, o que inclui populações indígenas isoladas.

Esta exploração se agrava ainda mais pelas atuais medidas de desmonte do Ministério do Meio Ambiente, também já abordada em Ecoa, além da aprovação do marco temporal, PL 490, que tende a permitir que povos indígenas isolados sejam contatados contra sua vontade.

Além disso, comunidades indígenas que não tiveram suas terras demarcadas estarão extremamente vulnerabilizadas pelo empreendimento e desmatamento associado, o que pode gerar conflitos pelo uso da terra e, neste processo, o extermino de etnias da região.

De acordo com a revista Science, apenas o contato de não indígenas com os indígenas os coloca em risco, devido à ausência de coevolução com nossos patógenos, o que torna estes povos vulneráveis a doenças, como uma simples gripe.

A covid-19 vulnerabiliza ainda mais estes povos, que apresentaram um índice de mortalidade pela doenaça superior a não indígenas durante a pandemia.

O periódico científico Nature Medicine apontou que este processo de contato forçado pode significar a extinção de etnias inteiras, uma vez que o conhecimento e cultura destas comunidades são transmitidos através da tradição oral pelos anciões ou caciques, que são mais velhos e, por isso, são mais vulneráveis a doenças respiratórias como gripes ou o coronavírus, que podem ser transmitidas pelos não indígenas aos indígenas.

Estradas associadas ao empreendimento para dar acesso a região também gerariam grande impacto sobre estas comunidades, uma vez que o acesso se daria pela notória rodovia do desmatamento, a BR-319 e suas estradas paralelas planejadas, como a AM-366, que parte da BR-319 até o município de Tapauá (AM). A AM-366 também conhecida como rodovia trans Purus, ligaria o arco do desmatamento acessado pela rodovia BR-319 até a Bacia Sedimentar do Solimões.

Apenas o acesso da região por estradas, impactaria mais de 18 mil indígenas que vivem em 63 terras indígenas, de acordo com estudo publicado na Land Use Policy. O desmatamento e grilagem de terras na região também é galopante e associada a colonização e formação de novas fazendas de pecuária, que tem gerado novos ciclos de desmatamento na região, como apontado no periódico científico Nature. Ou seja, a abertura de estradas na região, com a suposta desculpa de viabilizar o "desenvolvimento" e exploração petrolífera na região, tem fomentado o desmatamento e grilagem de terras.

Os riscos da exploração petrolífera na Bacia Sedimentar do Solimões são enormes, principalmente por alguns métodos de exploração empregados, como fracking hidráulico, que consiste em bombear água a altas pressões para fraturar as rochas que armazenam o óleo.

A metodologia é tida como especialmente nociva para o meio ambiente devido a imprevisibilidade de fraturas que podem contaminar o lençol freático e propiciar o espalhamento de óleo. O solo da Amazônia, em grande parte, é classificado como areno argiloso (tipo de solo cuja composição é formada por areia e argila), com lençol freático pouco profundo.

Desta forma, fraturas propiciadas por este tipo de exploração poderiam contaminar o lençol freático e não apenas os rios e igarapés, mas o solo da floresta.

A contaminação hídrica afetaria drasticamente a biodiversidade dos rios e comunidades ribeirinhas que demandam da pesca e da captação de água dos rios para o abastecimento humano.

No periódico Nature, eu e o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Philip Martin Fearnside, já apontamos a necessidade do Brasil rever os projetos de exploração petrolífera na Amazônia, devido ao seu potencial impacto ambiental e sobre comunidades tradicionais.

Bloquear os projetos de exploração petrolífera na região amazônica, será um teste para o Brasil confirmar seu compromisso com questões climáticas e com a proteção da Amazônia, não podendo ser ignorados pelo governo do presidente Lula e o Ministério do Meio Ambiente sob gestão de Marina Silva.

*Lucas Ferrante é biólogo, formado pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal), mestre e doutor em biologia (ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Dentre suas diferentes áreas de pesquisa, tem pesquisado o impacto de grandes empreendimentos na Amazônia, zoonoses e a conservação da biodiversidade.

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