Opinião

Acessibilidade para uma São Paulo, e um país, com pertencimento e inclusão

Só na região metropolitana de São Paulo são cerca de 4 milhões de pessoas que convivem com algum tipo de deficiência, representando 24% da população total, que é de aproximadamente 20 milhões.

No estado são 9,3 milhões de cidadãos que alegam conviver com alguma deficiência, entre os mais de 41 milhões de paulistas.

Quando falamos de Brasil são mais de 41 milhões que necessitam de um ou mais recursos para garantir seu ir e vir, em uma população de 210 milhões de habitantes.

São 6,5 milhões de pessoas cegas e com baixa visão, sendo que 506 mil têm perda total da visão (0,3% da população) e 6 milhões, grande dificuldade para enxergar (3,2%). Os dados são do Censo do IBGE de 2010.

Por conta disso, os investimentos em mobilidade precisam crescer muito, colocando a acessibilidade como uma prioridade. Recentemente a prefeitura de São Paulo anunciou a liberação de cerca de R$ 6,3 milhões para o projeto de rotas acessíveis voltadas para as pessoas com deficiência. O dinheiro será investido em áreas de grande movimentação das zonas leste, oeste/centro, norte e sul da capital.

Gostaria de saudar a iniciativa, uma vez que todos os investimentos são necessários e bem-vindos principalmente para quem tem problemas de mobilidade nos espaços públicos.

É fundamental que todos os gestores públicos pensem nessas melhorias, pois não são apenas as pessoas com deficiência que usufruem dessas adaptações. Ao aumentar a largura ou rebaixar uma calçada, pessoas idosas, aqueles que sofreram algum acidente ou estão temporariamente com mobilidade reduzida, também as utilizam. Sem falar em mães que passeiam com seus bebês ou pessoas que usam carrinhos de feira.

Tornar as cidades mais acessíveis é um dever dos nossos governantes segundo o Estatuto das Pessoas com Deficiência (lei 13.146/2015) e garantido na Constituição. Ao adaptar estações de trens e paradas de ônibus ou ao diminuir os obstáculos e criar rotas com piso tátil e instruções em libras; todos se beneficiam, pois se evitam acidentes. Neste sentido, além de aprimorar a circulação e incluir mais gente, as melhorias trazem economia no uso dos serviços previdenciários, psicossociais e de saúde.

Porém, esse investimento é pouco comparado às necessidades das pessoas com deficiência, eles teriam de vir acompanhados de uma mentalidade diferente, que transforme a inclusão em uma cultura. Algo que só acontecerá quando a sociedade civil se envolver e compreender a realidade e as necessidades dessa população. Quando entidades que atuam na habilitação, reabilitação e garantia dos direitos desses indivíduos forem ouvidas e suas demandas colocadas em prática. Somente dessa forma criaremos um planejamento estratégico e que vá ao encontro às reais demandas desse público.

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Precisamos frisar que não existem soluções mágicas, ou modelos prontos, pois as realidades são muito diferentes de um local para outro. São Paulo é uma das maiores, mais populosas e mais ricas metrópoles do mundo, tem características arquitetônicas, geográficas, topográficas e humanas de grande complexidade e que precisam ser estudadas e respeitadas. Portanto, estamos apenas no início de um trabalho enorme em prol de uma cidade ideal para todos.

Adaptar a mobilidade para as pessoas com deficiências físicas, visuais e com outras necessidades específicas em lugares de grande circulação como áreas centrais, próximas ao transporte público, de hospitais, estabelecimento de ensino e outros serviços é apenas fazer o básico para tornar São Paulo um município com pertencimento e inclusão.

Os projetos precisam chegar às periferias, onde as dificuldades são ainda maiores. Imagine os desafios de uma pessoa cadeirante, ou de uma pessoa cega, que precisa se deslocar por ruas sem calçamento, sem rampas de acesso e distante das áreas mais urbanizadas e estruturadas. Igualdade de direitos e de oportunidades são peças básicas da democracia, pois todos somos, de uma forma ou de outra, diferentes.

Continuaremos a cobrar que os ambientes estejam adaptados às nossas particularidades para que possamos usufruir com dignidade, autonomia e independência. Afinal, o direito de ir e vir, é assegurado a todos por nossa constituição.

* Beto Pereira é consultor em inclusão, acessibilidade e diversidade humana da LARAMARA -- Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual -- e é presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB).

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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