Opinião

Um país mais igualitário: utopia ou possibilidade real?

O Brasil é marcado, historicamente, por registrar elevados níveis de desigualdades. Há temas em que as diferenças são abismais, como renda, educação e saúde. Como consequência, o país figura ano após ano entre as nações com o menor índice de igualdade em todo o mundo. De acordo com dados do índice Gini (medida usada pela ONU para aferir a desigualdade), o Brasil ocupa a 10ª colocação entre os países mais desiguais do planeta.

Outro levantamento preocupante e que traz nosso país em uma posição de liderança, mas que não merece comemoração alguma, é o Global Wealth Report 2023. Segundo o relatório, o Brasil ocupa a primeira posição no ranking de concentração de renda e riquezas. Dados alarmantes do levantamento mostram que quase metade da riqueza do país (48,4%) está nas mãos de apenas 1% da população.

Um triste exemplo que ilustra como a desigualdade é estrutural e muito mais profunda do que parece é o déficit de creches públicas no Brasil, que atinge diretamente as famílias de baixa renda. Reconhecido como um dever do Estado, o acesso à creche ainda não é realidade, por conta da indisponibilidade de vagas, para cerca de 2,5 milhões de crianças brasileiras, segundo dados do IBGE. Porém, essa situação é ainda mais grave, pois, além da questão educacional, essa realidade prejudica as mães que, na impossibilidade de inscrever o filho na escola, muitas vezes precisam abandonar o trabalho e deixam de ter uma fonte de renda.

Há 25 anos, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social foi criado com o objetivo de atuar junto a um dos atores que mais têm responsabilidades e meios para mudar esse cenário: as empresas. O Instituto atua com o objetivo de contribuir para que as empresas possam gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. O combate às desigualdades é o foco estratégico e orientador de todas as ações da instituição em 2023 e continuará sendo pelos próximos anos.

Porém, diante desse cenário e do histórico nacional, fica a pergunta: pensar o futuro sem desigualdades no Brasil seria utopia ou uma possibilidade real? Eu fico com a segunda opção e acrescento: é também um ato de responsabilidade e de responsabilização. Não podemos eximir ninguém neste cenário, e o setor empresarial tem cada vez mais um papel de extrema relevância.

Neste primeiro quarto de século, vimos as empresas se tornarem mais capazes de adotar novas práticas, assumindo a responsabilidade por seus impactos e compromissos públicos por mudanças. Mas ainda há um longo caminho se quisermos alcançar o futuro sem desigualdades.

Nas edições da Conferência Ethos realizadas em 2023 no Rio de Janeiro, em Belém e em São Paulo, dialogamos sobre a responsabilização do setor empresarial em temas como equidade, diversidade, inclusão social, justiça climática e transparência. Discutimos como o mundo mudou, impactado pela tecnologia e pelas mudanças climáticas, e como as populações mais vulneráveis são atingidas.

Ao longo desses 25 anos, diversas foram as iniciativas idealizadas para contribuir com uma sociedade menos desigual e, ao mesmo tempo, com empresas mais inclusivas e que exerçam o seu papel social. Para isso, o Instituto Ethos criou os Indicadores Ethos, uma ferramenta de gestão de responsabilidade ambiental e social. Além dele, desenvolveu, em parceria com outras organizações da sociedade civil, o Pacto Empresarial pela Integridade e Contra Corrupção e as pesquisas do Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas no Brasil e da Diversidade e Inclusão nas Empresas, que visa avaliar e reconhecer publicamente as melhores práticas de diversidade e inclusão.

Esses são alguns exemplos de ações que podem ser realizadas em parceria com as empresas na construção de um Brasil justo e igualitário. O setor empresarial é um poderoso vetor de mudança. Algumas companhias já entenderam sua importância e se comprometeram com as estratégias ASG (ESG), mas a grande maioria ainda faz somente o básico - ou nem isso. Os próximos 25 anos serão de muito trabalho e apenas a conscientização não é suficiente. É preciso agir! Dessa forma, poderemos construir uma sociedade mais igualitária, o que será melhor para todes.

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*Caio Magri é diretor-presidente do Instituto Ethos e foi colunista Ecoa

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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